A DEA e o narcotráfico na América Latina
Da exclusiva leitura dos jornais, alimentados por agências internacionais com visões unilaterais da questão mais as manchetes que os respeitáveis directores dos nossos media decidem, ficaria a impressão de que em matéria de países na luta contra o narcotráfico haveria os “bons”, com os EUA à frente e a sua agência anti-drogas DEA, e outros que estaria feito com os narcotraficantes, que dificultaria essa luta para alimentar a corrupção interna desses estados e para que os seus proveitos fossem canalizados para guerrilhas de esquerda em países “amigos” dos EUA – como a Colômbia de Álvaro Uribe.
Quem quiser sustentar esta tese, é livre de o fazer mas, com um mínimo de dados, rapidamente se sentirá burlado com estas histórias da carochinha que nem sequer é bonitinha…
Os EUA têm, de facto uma agência, que supostamente teria como objectivo combater o narcotráfico e cooperar nesse fim com instituições congéneres de outros países. A realidade é outra. O objectivo de sucessivas administrações dos EUA tem sido serem os States a controlar o processo, procedendo a uma repressão colectiva dirigida aos pequenos produtores da matéria-prima – espoliados pelas multinacionais de culturas alternativas e confrontados com um mercado que não dominam em que os chamados países desenvolvidos têm asa maiores procuras dos produtos finais para seu consumo e os grandes intermediários, quer os da transformação quer os do narcotráfico, pressionam cada vez mais a produção. Os EUA contribuem para a destruição dos grandes cartéis quando os não domina. Os de Cali e Medelin, uma vez desfeitos, transformaram-se numa rede de outros menores, infiltrados por agentes da CIA e do DEA, e por outros provocadores, ligados aos das redes maiores que os EUA conseguiram já controlar, nomeadamente as máfias norte-americanas.
A destruição aparatosa de plantações ou pequenas fábricas, o combate ao branqueamento em bancos latino-americanos encobre a tolerância para com componentes desta actividade nos próprios EUA onde elas já não têm o mesmo impacto repressivo e mediático. Mas vários têm sido nos últimos 30 anos os casos de destacadas figuras do crime organizado estreitamente articulados com a CIA (F. Nugan, Abe Saffron, Terry Clark, sir Peter Abeles, sir Peter Strasser, Rupert Murdoch, T. Shackley, R. Secord, Oliver North, etc.)
Ao nível de cada país produtor as burguesias nacionais ligadas ao sector procuram nalguns casos fugir ao controlo dos Estados para terem uma relação com esses cartéis discutindo com eles as partilhas de lucros e noutros casos garantem a protecção institucional. Não tem sido estranho que figuras como Oviedo (Paraguai), Menem (Argentina) ou Salinas (México) estejam ou tenham estado directamente ou por meio das suas famílias a eles ligados. Os EUA preferem isso ao nascimento de camadas sociais nacionais ligadas a esta actividade que possam constituir-se como seus rivais.
Em vários países “amigos” é notório que o narcotráfico é beneficiado pelo tráfico de armamento dos EUA, para quem os States têm os olhos fechados, e alimenta grupos paramilitares que matam dirigentes sindicais e camponeses, comunistas, jornalistas, activistas de esquerda católicos. O caso da Colômbia é paradigmático e os dramáticos últimos meses no México também.
Mas não só motivações de canalização e utilização dos lucros desta actividade legal motivam os EUA. Com a DEA a administração norte-americana tem penetrado as forças policiais de tais países gerando novas possibilidades de intervenção contra a esquerda, organismos que institucionalizam a corrupção na direcção dessas actividades e de articulação delas com o tráfico de armas e as redes de prostituição, campanhas eleitorais, assassinatos de políticos e camponeses, desrespeito pelas autoridades locais, sabotagem de portos e aeroportos (como tem acontecido na Bolívia e na Venezuela que, por isso têm expulso agentes da DEA e retirado o seu controlo dessas infra-estruturas a autoridades locais comprometidas, …
Apesar da responsável da DEA, Karen Tendy, ter referido que o Plano Colômbia era um êxito e criticar a Bolívia e a Venezuela por não cooperarem e de estimularem o narcotráfico, foi o contrário que aconteceu: o Plano fracassou e cada vez maiores são os resultados da luta contra o narcotráfico nestes países, mesmo perdendo os recursos que a DEA lhes poderia fornecer e optando por procurar parcerias com outros países. O Presidente Rafael Correa do Equador prepara o encerramento da base de Manta, considerada como o centro de controlo regional do narcotráfico. O presidente Evo Morales expulsou a DEA depois de ter demonstrado a sua participação em actos de sabotagem ao governo e de apoio aos grupos reaccionários
Tandy, Salinas, Uribe, Menem, Oviedo,...a mesma "luta"!
LIVRAI-NOS DELES
Há 4 semanas
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