Esses reencontros, que têm motivações comuns, são convívios, desfiar de recordações, pôr a escrita em dia e tam,bém revisitar as escolas.
Já estamos com idades entre os 40 e os setenta e tal. Alguns já nos deixaram. Parte deles reformados, mas mantendo, quase todos, alguma actividade profissional. Ligados à vida real, não vivendo apenas de memórias, muitos tendo tido papel destacado na luta democrática incluindo nas forças armadas, onde integraram o MFA, muitos mantendo hoje uma actividade cívica assinalável, embora seja grande a diversidade das respectivas formações políticas e ideológicas. Mas ligados por amizades que não deixam de ser abaladas pelos conflitos que naturalmente decorrem de nos situarmos em campos diferentes.
Num caso foi o reencontro anual de antigos dirigentes, colaboradores e trabalhadores da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST) dos últimos vinte anos antes da conquista da liberdade.
O tema do encontro, que se têm realizado na cantina da AEIST, desta vez foi os 40 anos passados sobre a crise estudantil de 1969, onde avultou a luta dos estudantes de Coimbra, num ano de todas as lutas também em Lisboa e no Porto. Por isso convidamos o Pena dos Reis, presidente da Junta de Delegados de então em Coimbra, o Aranda da Silva, à data dirigente da Associação de Estudantes de Farmácia do Porto e o Artur Silva, activista da AEIST que participava por ela nas reuniões da RIA, onde se coordenavam acções do movimento de solidariedade com a Universidade de Coimbra. Não evocaram no fundamental as lutas passadas mas trouxeram-nos reflexões sobre o presente.
Pelo caminho destes encontros, alguns de nós têm estado a fazer a história da AEIST, a recolher documentos e depoimentos e o que se pode dizer é que há imensas coisas que ainda têm que ser registadas, depois do natural confronto de interpretações de acontecimentos e atitudes em período que foi de forte contestação do fascismo e contributo importante para a sua queda mas também de tensões entre nós próprios.
Num outro caso foi o almoço de antigos alunos do Liceu Gil Vicente, no liceu, ali na Rua da Verónica, a meio caminho entre a Graça e o Campo de Santa Clara.
Aqui não havia tema. Connosco estavam o Sr. Pinto, responsável então pelo Laboratório de Química, onde aprendi a gostar desta área, na qual me viria a formar uns anos depois no IST e também o Sr. Vicente, contínuo que nos topava a todos. O liceu tinha durante o período em que o frequentei uma razoável presença de estudantes e professores de esquerda, vários já com ligações ao PCP, uma Mocidade Portuguesa que não atraía ninguém e um Reitor, apoiante do regime fascista mas já ciente de que ele sofria os embates de outras vidas que configuravam um futuro regime democrático. Não me esqueço que me apanhou em 1962 a distribuir propaganda do 1º de Maio no liceu, olhou para mim, e virou-me as costas.
E, como não podia deixar de ser, o repasto terminou com a bola de berlim com creme que nos levava a formar fila à janela da cantina nos intervalos da manhã.
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