segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O financiamento da banca e a eventual saída do euro, por Eugénio Rosa


(excerto de estudo a que pode ter acesso no site abaixo referido) 


Contrariamente àqueles que, parafraseando Fernando Ulrich (gestor de um banco –BPI- em que 97,1% das participações qualificadas já são controladas por grupos económicos estrangeiros), afirmam que a banca pode aguentar mais, uma análise da situação atual da banca portuguesa revela que, como consequência da má gestão, de que a politica de crédito já referida é uma prova clara, e da descapitalização realizada ao longo dos anos pelos  banqueiros perante a passividade do BdP e dos sucessivos governos, associada à crise, os problemas estruturais da banca agravaram-se e vão aumentar com a crise e a consequente subida do incumprimento e com a retração do crédito (o negócio 
dos bancos). Basta recordar que o incumprimento a nível de empréstimos a empresas disparou (entre
Dez.2010 e Nov.2012, com a politica do governo PSD/CDS  e da “troika”, a taxa de incumprimento a
nível de empresas aumentou de 4,4% para 10,8%, ou seja, em 145%); que as imparidades na banca
(desvalorização de ativos), entre Dez.2010 e Set.2012, passaram de 13.545 milhões € para 15.153
milhões €; e, para além disto, a maior parte do crédito à habitação é de longo prazo a taxas de juro
(inclui “spread”) inferiores a 2%, quando os bancos estão a pagar, para se financiarem, em muitos casos
taxas superiores.
O caso do BANIF, em que o governo  decidiu recapitalizar com 1.100 milhões € de 
fundos públicos (99% do seu capital atual), correndo o risco, como sucedeu no BPN, de os perder, é a “ponta do iceberg” da má gestão que é urgente exigir responsabilidades e o Estado passar a controlar os maiores bancos, mesmo nacionalizá-los, e não apenas a financiá-los à custa dos contribuintes. 

Neste contexto, a saída do euro terá efeitos importantes no sistema bancário português que tem graves
problemas estruturais, nomeadamente a nível do crédito concedido e, também, aos seus devedores, entre os
quais se encontram centenas de milhares de famílias que obtiveram crédito à banca, cujas taxas de juros
poderiam disparar. Se juntarmos a isto, os problemas que se colocarão relativamente aos depósitos bancários de particulares (152.799 milhões € em Dez.2011), onde estão incluídas as pequenas poupanças de centenas de milhares de portugueses, cujo poder de compra é  necessário garantir (os detentores dos grandes depósitos vão procurar transferir para o estrangeiro), fica-se com uma ideia, ainda não total, dos problemas que poderá acarretar a saída do euro, que não se resumem apenas à desvalorização do escudo e à subida de preços com alguns referem, que terão de ser estudados com profundidade e atempadamente, para não se ser confrontado com uma situação que não se previu.
É certo que o Estado pode ser o garante do poder de compra desses milhares de pequenas poupanças, assim como de taxas de juro bonificadas às famílias, para
evitar que o sistema financeiro e as famílias entrem em colapso, mas o certo é que a divida publica e a massa
monetária disparariam, contribuindo para o aumento da inflação a que se juntaria os efeitos da desvalorização do escudo (30%?) necessária para aumentar a competitividade das exportações, o que faria subir ainda mais os preços o que teria um efeito corrosivo sobre salários e pensões (ex.). Haveria ainda o problema da divida externa que, com o governo PSD/CDS e com “troika”, já aumentou mais de 40.000 milhões €, e para a pagar,pelo menos a legitima, o país teria de ter divisas e a única fonte seriam as exportações e o endividamento externo.
Obter o apoio da U.E. na divida externa seria uma condição fundamental para se poder sair do euro de uma forma controlada. São problemas como estes que terão de ser estudados com profundidade e de uma forma muito objetiva, não tomando os desejos pela realidade, para que se possa enfrentar, de uma formacontrolada, a opção de saída do euro que se colocará se a atual politica de austeridade, que está a atirar o país para uma espiral recessiva, continuar.  
Eugénio Rosa ,
edr2@netcabo.pt , 7.1.2013

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom artigo.
Ja agora boa musica, a ultima que colocou, mas num video um bocado piroso...Ha paixão no ar :)so a paixão tira a noção do bom senso.