sábado, 5 de janeiro de 2013

Na Síria, o ELS continua a brilhar como uma estrela morta, por Thierry Meyssan


Agora que a imprensa anuncia uma vez mais que estão iminentes a "queda de Bashar-al Assad" e a "sua fuga", a realidade no terreno inverteu-se completamente. Se de facto o caos se estendeu ao território, As "zonas libertadas" derreteram-se como neve ao sol. Privado de pontos de apoio o ELS já não tem perspectivas de futuro. Washington e Moscovo preparam-se para tocar para o fim da partida.
Combatentes do ELS em vias de extinção
A contagem regressiva já começou.  Assim que a nova administração Obama será confirmada pelo Senado, irá apresentar um plano de paz para a Síria ao Conselho de Segurança.  Em termos jurídicos embora o presidente Obama seja o seu próprio sucessor, com a sua administração apenas tem competências para gerir os assuntos correntes e não pode tomar a iniciativa importante. Politicamente, Obama não reagiu quando, em plena campanha eleitoral, alguns de seus colegas fizeram fracassar o acordo de Genebra.  Mas procedeu à limpeza geral após o anúncio de sua reeleição.  Como esperado, o general David Petraeus, o arquitecto da guerra na Síria, caiu na armadilha que lhe foi montada e foi forçado a renunciar.  Como esperado, os padrões da NATO e dos anti-mísseis Bouclier. Contrários a um acordo com a Rússia, têm estado sob investigação por corrupção e forçados ao silêncio.  Como esperado, a secretária de Estado Hillary Clinton foi posta fora de jogo, o método escolhido para a eliminar não deixou de causar surpresa: um grave acidente de saúde que a levou ao estado de coma .
Do lado das Nações Unidas, as coisas avançaram.  O departamento de operações de manutenção da paz assinou um memorando com a Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC), em Setembro.  Observou no Cazaquistão em Outubro manobras simulando uma implantação "capacetes azuis” na Síria. Em Dezembro, reuniu os representantes militares dos membros permanentes do Conselho de Segurança para apresentar os termos como a implantação poderia ocorrer.  Embora contrários a esta solução, os franceses e os britânicos curvaram-se à vontade dos norte-americanos.


Entretanto, a França tentou usar o representante especial dos Secretários-Gerais da Liga Árabe na ONU, Lakhdar Brahimi, para alterar o plano de paz de Genebra com base nas reservas que tinha emitido em 30 de Junho. Este acabou cuidadosamente se abster de tomar uma posição, apenas transmitindo mensagens entre as várias partes envolvidas no conflito.
É que no terreno, o governo sírio está em uma posição forte.  A situação militar foi invertida.  Os próprios franceses deixaram de evocar as "zonas libertadas "que aspiravam a governar através de um mandato das Nações Unidas.  Estas áreas foram diminuindo, e onde persistem, eles estão nas mãos de Salafitas pouco recomendáveis.  As tropas do “Exército de Libertação Sírio” (ELS) (Contras, como os designa adiante o autor – NT) receberam para abandonarem as suas posições e para se reagruparem em torno da capital para um ataque final.  Os Contras estavam à espera de poderem revoltar os refugiados palestinianos, na sua maioria sunitas, contra o regime pluri-confessional tal como Hariri no Líbano tentou levantar os palestinianos sunitas de Nahr el-Bared contra o Hezbollah xiita. Tal como no Líbano este projecto falhou porque os palestinianos sabem muito bem quem são os seus amigos, que realmente lutam pela libertação de sua terra.  Em concreto, na recente guerra de de oito dias de Israel contra Gaza, foram as armas iranianas e sírias que fizeram a diferença, enquanto as monarquias do Golfo não mexeram um dedo.


Alguns elementos do Hamas, fiéis a Khaled Meshaal, financiado pelo Qatar, abriram as portas do campo de Yarmouk a algumas centenas de combatentes da Frente de Apoio aos Lutadores do Levante (ramo sírio-libanês da Al-Qaeda), também ligados ao Qatar.  Estes lutaram principalmente contra homens da FPLP-CG.  O governo sírio pediu via SMS aos 180 000 residentes do campo para sair o mais rapidamente possível e ofereceu-lhes alojamento temporário em hotéis, escolas e ginásios em Damasco.  Alguns preferiram reagrupar-se no Líbano. No dia seguinte, o exército sírio árabe atacou o acampamento com armas pesadas e assumiu o seu controle.  Quatorze organizações palestiniana as de seguida, assinaram um acordo declarando o acampamento "zona neutra".  Os combatentes do ELS retiraram em boa ordem e retomaram a sua guerra contra a Síria nas imediações, enquanto os civis voltaram às suas casas.  Eles encontraram um campo devastado, onde escolas e hospitais foram sistematicamente danificados.
Em termos estratégicos, a guerra já acabou: o ELS perdeu apoio popular de que beneficiou durante algum tempo, e não tem nenhuma chance de vencer.  Os europeus ainda acham que podem mudar o regime, subornando oficiais e causando um golpe de Estado, mas eles sabem que não serão capazes de vencer com o ELS.  Os Contra continuam a chegar, mas o fluxo de dinheiro e armas secou  Grande parte do apoio internacional parou embora ainda não se vejam as consequências no campo de batalha , tal como uma estrela que pode continuar a brilhar por muito tempo após sua morte.
Os Estados Unidos decidiram claramente virar a página e sacrificar o ELS.  Dão instruções disparatadas que acabam por enviar os Contras para a morte.  Milhares foram mortos no mês passado (Novembro- NT). Simultaneamente em Washington, o  Conselho Nacional de Inteligência  anunciou cinicamente que "o jiadismo internacional  "vai desaparecer em breve.  Outros aliados dos Estados Unidos devem agora refletir se as novas notícias não implicam que eles os sacrifiquem. também.

(tradução de AA)

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