sábado, 6 de agosto de 2011

Florida, pátria desflorada, de Armando Teixeira

Com um abraço ao autor.
A. Abreu

Oiço o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, no noticiário da Antena 1 : “ Portugal deverá transformar-se na Flórida da Europa”. Contemplo a zona fabril da Barra-a-Barra, em visita de romagem-saudade e fico estarrecido. É este o futuro que o capitalismo neoliberal nos reserva ?

O sítio da CPB (Companhia Petroquímica do Barreiro ), parece ter sido bombardeado e consumido pelo fogo consequente. O local onde existiu a monumental fábrica de Amoníaco, é uma chaga aberta na paisagem, uma ferida perene e insarável ( mais uma! ), no que foi o maior complexo químico industrial da Península.
A família Mello, a 5ª mais rica do País (!), consumou a desgraça do encerramento da fábrica e do despedimento colectivo de 150 trabalhadores. O equipamento foi vendido a uma empresa indiana, que vai remontar a fábrica de NH3 naquele imenso país em franco crescimento. Ou seja, cá já não servia por ser “velha”, lá vai ser reposta em laboração!

O professor Álvaro Pereira, que publicou na Internet um trabalho muito celebrado, zurzindo com números as malfeitorias do governo de José Sócrates, dá lugar ao ministro Álvaro Santos, que se prepara para continuar o descalabro. “ Santos da casa não fazem milagres!” -diz o povo com propriedade.

Apostar na produção nacional, pôr o País a produzir boa parte daquilo que importa, avançar um verdadeiro projecto de recuperação económica?
Não senhor ! O futuro é pôr os portugueses a cuidar dos velhinhos da Europa capitalista rica, mudar-lhes a fralda três meses por ano e o resto do tempo, garantir um subsídio de desemprego minguado e ameaçado ( o Algarve tem a mais alta taxa de desemprego do País !). Entretanto, para que ninguém morra à fome, está em marcha uma nova sopa dos pobres. Degradante!
O que Álvaro Pereira, professor universitário nos “States”, discernia com justeza fora do governo, o ministro Álvaro Santos está a transformar num terrível embuste.

Recuperar as Pescas, pôr a Agricultura a produzir o que comemos, apostar na produção industrial nacional, impedindo o encerramento de grandes empresas (como os Estaleiros de Viana do Castelo ) ?
Não senhor ! Entrega-se o BPN quase de borla a privados, depois de lá ter enterrado 2,5 mil milhões de euros do erário público, e põem-se na rua 750 trabalhadores. “Está tudo explicado no meu livro!”- diz ASP, qual catecismo da contemporaneidade. Ridículo!

Na antiga UFA do Lavradio, hoje NOVA AP da família Mello ( que está a recuperar no “ranking” o antigo brilhantismo capitalista dos tempos de Salazar e Caetano - juntamente com os Espírito Santo ), olhamos a terra queimada no local onde tanta gente labutou tantos anos, produzindo riqueza nacional e a tristeza invade-nos o coração.
Pátria florida num distante sonho de Abril, Pátria desflorada pela ganância classista do capital, enriquecendo á custa da desgraça e da miséria de tantos portugueses.
Contrariemos, com o mesmo espírito insubmisso o nosso poeta maior : Não é bom acabar assim!

1 comentário:

Aktuario disse...

António,
Obrigado por nos dar sempre uma brisa de ar fresco nesta tempestade de areia que nos tira a vista, que são as opiniões seguidistas da maioria dos meios de comunicação social...
Muito obrigado, apenas um pedido: disponibilize p.f. a opção de partilhar estes artigos no Facebook e no Twiter para podermos dar a conhecer estes seus maravilhosos textos ao maior numero de pessoas!
Um abraço