quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Manipulação das estatísticas

As estatísticas são um bem inestimável para qualquer actividade. Conhecer uma sequência ao longo de anos de certos valores é muito importante para detectar causas de sucessos e insucessos e, com isso, fundamentar a necessidade de introduzir correcções ou inovações nos processos.
Não foi Sócrates quem inventou a manipulação  de dados para esconder a evidência de políticas erradas nem para dificultar o discernimento de atacar as causas que provocam, efeitos negativos continuados.
Mas importa reconhecer que atingiu nisso um requinte superior ao manifestado por outros. E permitiu que a criação de certas bases de dados percam a comparabilidade de valores com outras relativas às mesmas actividades.
O caso mais recente tem sido a leitura feita sobre dados como o PIB para comparar valores anunciados com os de outros anos sem que isso tenha qualquer significado e desvalorizar comparações de evoluções negativas. Estamos ou não em recessão? Este termo tem um significado preciso. E era previsível que a ela de novo chegasse depois de nos ter batido à porta nos anos 90. As medidas de contenção do deficite tomadas em vários países, por pressão da Alemanha, e imaginação de Sócrates, desligadas de medidas sobre a economia (as exportações são importantes mas não resolvem os nossos problemas estruturais) levam a níveis de produção e desemprego de que, depois, será muito mais difícil recuperar.
Uma outra fonte de manipulação de dados tem sido o desemprego, aqui com uma abundância superior de ausências de comparabilidade para facilitar leituras diferentes dos efeitos que todos vêem na vida real.
A prevalência da importância dos dados do IEFP sobre os do INE carece de rigor. O desemprego interpretado como o número das pessoas que se registam como desempregadas no IEFP não cobre a totalidade do universo do desemprego e é uma forma mentirosa de iludir esperanças pela continuidade das mesmas políticas. O universo dos jovens desempregados e, de entre estes, os de elevadas formações académicas, muitos com vários estágios realizados em empresas, está a crescer. Que políticas é que permitem uma tal desfasagem da economia com tantos jovens sem futuro?

A mentira sistemática tem limites na sua eficácia. A verdade vem ao de cima. Se não são os governantes que a trazem, os povos fazem-na saltar e com ela os governos.

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