Faleceu João Ferro, jornalista, de 72 anos.
Militante do PCP, trabalhou em Moscovo, antes do 25 de Abril, depois na agência soviética Novosti em Lisboa, acabando por ser um dos jornalistas da criação da SIC onde trabalhou até ao fim da vida.
De João Ferro guardo a memória de um bom conversador, culto e informado, sensível e atencioso, solícito mas profundamente só.
Tinha agora uma tertúlia de amigos onde animava as conversas.
Foram dezenas de anos de camaradagem militante que ficam dentro de nós nesta partida.
Em nossa casa, foram horas a fio - uma das quais com a filha russa que vivia com a mãe em Espanha - em que nos prendíamos nos seus relatos sobre a história da Rússia, da Revolução bolchevique e da URSS.
Ontem e hoje muitos amigos se despediram dele. Adeus João.
3 comentários:
Por cada amigo que se vai...uma dor fininha fica.
Haja esperança para novos e bons amigos , as filigranas da vida!
Bfs.
.))
A.
Força...
:))
M
Querido amigo
Estou profundamente chocada e destroçada com a notícia da morte do amigo João Ferro. Andei tanto tempo a tentar saber dele para reencontrá-lo e agora venho a saber da sua morte.
Quando vim a Portugal pela primeira vez logo depois do 25 de Abril, fiquei com a minha filha na casa onde ele morava na Estrada da Luz. (O amigo "Henrique", da Rádio Moscovo). Tantas conversas, tanto ensinou-me sobre Portugal e o PCP! Conversas de horas a fio sobre cultura, relações internacionais, sobre a sua vida familiar, a sua filha.
O João iniciou-me na vida de um Portugal extraordinário!
Depois, em muitos anos de passagens por Portugal, sempre havia um tempinho para uma conversa em Lisboa.
A última vez que nos vimos foi em minha casa, já na Amadora, onde fiz-lhe um chabéu (lembrava a moamba da sua terra de infância). Fui para São Tomé, ele trocou de casa e deu-me um número de telefone. Quando voltei, já ninguém morava naquela casa. Perguntei a várias pessoas por ele e ninguém soube dizer-me onde parava. Pensei que tivesse ido para Macau, como o irmão...
Devo ter perguntado às pessoas erradas...
Certa vez, numa comemoração do 25 de Abril, falei numa escola para os jovens sobre o caso dos filhos de portugueses que nasceram sem direito à identidade, "recuperando" as famílias de origem e os apelidos somente após a Revolução dos Cravos. Tinha em mente o caso do João e da sua filha, que ilustrava os de tantos outros. (Nunca consegui contar-lhe isso).
E ele estava aqui tão perto! Bastava ter perguntado a ti e talvez ainda o teria encontrado com vida.
Muita dor, António!
Desculpa o desabafo, mas tocou-me saber que ele te era tão próximo...
Que vida é essa que levamos em que as pessoas "perdem-se" dentro de uma mesma cidade?
Um abraço
Uni
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