Bom dia juventude!
Ora cá estamos nós, quatro semanas depois de uma operação ao coração para substituir a válvula aórtica (à esquerda na figura), que há muito não estava eficaz e me deixava num estado de canseira quase permanente. Era uma operação desejada.
Internado que fui, depois de um dia de preparação, lá me injectaram os líquidos e só acordei um dia depois, sentindo-me como se tivesse passado um eléctrico da Carris por cima – a expressão foi do cirurgião, um bom profissional, que várias vezes nos pôs a rir na enfermaria, a mim e outros companheiros de (in)fortúnio.
O primeiro dia foi de KO quase permanente: não sabia onde estava, quem me rodeava, em que patamar da loucura estaria situado. As imagens nocturnas foram caóticas.
Os dois dias seguintes foram melhores. Família, consciência, a responsabilidade de manter na sua função 35 agrafos, de me abraçar quando a tosse vinha para não abrir esse fecho éclair com que me tinham condecorado. Passei essas duas noites como se tivesse o ecrã do computador à minha frente, no qual ia fazendo o download de imagens diversas. Dei comigo várias vezes a digitar um teclado inexistente.
Ganhei a consciência de que me tinham aberto, mexido na fonte dos afectos, metido um zingarelho designado por prótese valvular mecânica, do tipo St Jude Nº 25 Rg Ao, e fechado, com algum “arame” a consolidar a relação do externo com as costelas. A prótese já a baptizei como Xico, em homenagem ao meu primeiro gato. Que, com os demais componentes cardíacos regressou à gaiola, onde tudo se anda a acomodar, depois de 62 anos de uma acomodação diferente.
Fomos tratados nas palminhas por médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares. Cinco estrelas para a Cardiologia e a UTIC do Hospital de Santa Maria!
O meu vizinho do lado era, com 45 anos, um veterano de novas válvulas que ia substituir uma delas, bem-disposto, e que se queria despachar daquilo tudo.
As coisas foram-se compondo até umas arritmias terem dado um arzinho de sua graça o que prolongou a estada por mais uma semana.
Em casa estou recuperando os equilíbrios, o funcionamento normal dos sistemas. E por aqui estou mais algum tempo até atingir a recuperação para a chamada vida normal.
O Xico, esse, passou a fazer parte dos meus amigos do coração.
8 comentários:
Ora, bem vindo. Já cá fazia falta.
E obrigada por nos ter contado tão bem essa cirurgia.
Está visto que tudo correu bem e vai continuar.
Essa valvulazita nova é daquelas que fazem uma espécie de tic tac permanente?
Desejo-lhe uma boa e rápida recuperação.
É bom tê-lo na nossa companhia internáutica de novo.
E agora, finalmente, fica~se a saber tudo tim-tim por tim-tim...
Saude e muitos anos de vida... e para o Xico, nem se fala....
Abraço amigo....
e, agora não pare...
Quem diria que um "coração de ouro" pode precisar de válvulas novas?
Um grande abraço pelo regresso!
Jorge
Saúde e bons posts, camarada!
Oh, Abreu,
Todos os dia vim cá espreitar para ver se já tinhas voltado. Um grande abraço, homem! (sem estragar o Xico).
Matilde
Amigos são o mais importante...
Boa noite
Como cirurgião do ofício é sempre esclarecedor perceber o que se passa no cérebro dos doentes nos dias (e noites) seguintes à operação e que tão bem descreve.
As melhoras.
Também eu vinha quase todos os dias, mas era apenas silêncio.
Hoje voltei e percebi o porquê.
Boa descrição, para leigos.
Desejo optimas melhoras.
maria do azeveiro
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