Diariamente somos confrontados com fenómenos que valem por si mas que são consequência de um estado de coisas onde puderam encubar.
Uso de funções públicas para práticas irregulares e criminosas em proveito próprio, vantagens e mordomias dos mais altos cargos de empresas privadas ou de outras com algum tipo de intervenção do Estado, uso do Estado para servir interesses particulares que confrontam os interesses e a condição da maioria dos portugueses, a arrogância e o discurso repetitivo e autista dos govenantes, a não auscultação das populações sobre serviços de vizinhança que elas percepcionam como factor de segurança, a eclosão de certos fenómenos e comportamentos sociais que expressam valores desumanos, anti-solidários e anti-sociais, etc.
Todos os conhecemos pelo espaço que ocupam nos noticiários.
Não deixando de debater e criticar os casos pontuais que vão emergindo ao ritmo da voraz conquista de audiências, importa retermo-nos no essencial, nas opções políticas que permitem estes fenómenos, retirando-lhes o carácter de idiossincrasias de tal ou tal protagonista político.
Há anos que o país é varrido por opções que retiram o ser humano de ponto de partida, protagonista e destinatário da actividade económica. è a distorcida redistribuição da riqueza gerada. É a precariedade e falta de direitos nas relações laborais. É o descartar do trabalho e respectivo rendimento, base essencial da dignidade de vida individual e familiar. Retiram-se garantias aos desempregados e à criação de actividade sem uma reflexão baseada em dados, participada pelos beneficiários. É a pulverização da família, remetida a objecto da caridade ou do crédito bancário.
A actividade económica foi pulverizada em nome de uma modernidade de reestruturações. A agricultura, a indústria, muitos dos próprios serviços e funções do Estado desapareceram ou sobrevivem mal. Em compensação o nosso mercado foi invadido por alternativas estrangeiras mais baratas por beneficiarem de economias de escala, infra-estruturas de transportes e apoios aos investimentos. As grandes empresas internacionais, num processo de integração económica e social determinado por interesses alheios mas apresentado como única solução dos nossos males, retirou-nos os meios essenciais à nossa auto-determinação e confronto com outras economias mais poderosas.
País em queda de produção e com trabalho criador reduzido, com jovens sem futuro, que solidez cultural nos pode conferir? Que nova criação cultural e hábitos culturais podem disto advir?
O mau-estar parece ser geral mas por parte de algumas "boas consciências", escondem-se interesses, privilégios e regalias inconfessáveis. A elas o que incomoda mais são as "explosões sociais"e não as condições degradadas de vida que as justificam.
A luta tem que contornar estes equívocos e jogos de máscaras. Os que vierem terão que vir com o sentido de ruptura com tais políticas. A nossa sobrevivência como comunidade, como país e como nação assim o exigem
1 comentário:
Palavras bem pensadas.
Quem diria, passados 36 anos, que esse "sentido da ruptura com tais políticas", aquilo que foi o espírito e o ânimo do "25 de Abril", é ainda tão actual?
Pois que o seja. E que a confiança e a coragem não nos faltem!
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