sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Contribuições para uma abordagem marxista da Ética, de Manuel Dias Duarte



Aceitando-se que a Ética é um produto da sociedade de classes, não havendo portanto princípios ou valores éticos eternos, uma questão se impõe: existirá uma ética marxista ou apenas uma abordagem marxista da Ética?


É com esta questão que abre Manuel Dias Duarte um trabalho publicado no site do Sector Intelectual do PCP, para concluir no final:



“Um ano antes de morrer, era muito clara a oposição de Marx a todas as


tentativas utópicas de redigir códigos de conduta futuros válidos para uma qualquer “cidade do sol”. A propósito das normas e valores ideais que necessariamente haveriam de dar forma às relações entre homens e mulheres vindouras, vivendo já em comunismo, escrevia Engels, em 1884, falando por ele e pelo amigo:



“Assim, aquilo que hoje em dia podemos presumir acerca do regime [Ordnung] das relações sexuais após o iminente varrimento da produção capitalista é, sobretudo, de carácter negativo, limitando-se quase só àquilo que vai desaparecer. Mas o que é que haverá de novo? Isso decidir-se-á


quando tiver crescido uma nova geração: uma geração de homens que nunca na sua vida tenham chegado à situação de comprar a entrega de uma mulher por dinheiro ou outros meios sociais de poder, e uma geração de mulheres que nunca tenham chegado à situação nem de se entregar a um homem por quaisquer outras considerações para além de um real amor nem de recusar a entrega ao homem amado por medo das consequências económicas. Quando estas pessoas existirem, não darão a mínima importância àquilo que hoje se acha que elas deveriam fazer; construirão as suas próprias normas de conduta (Praxis) e a opinião pública para julgar a praxis de cada um – ponto final” (Friedrich Engels, A origem da família, da propriedade privada e do estado, Lisboa, Edições Avante!, 2002, pág. 104).



A postura de Marx e Engels, ao longo de todas as suas obras, aponta sem dúvida


para a conclusão de que, na sua geração, não era possível constituir-se uma ética


marxista, mas apenas proceder a uma crítica permanente e combativa de todas as propostas éticas…sem moral e, em particular, da ética burguesa e capitalista.

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