quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A importância de Vara...

O presidente do Banco de Portugal considerou que a suspensão de funções pedida por Armando Vara tinha sido um acto importante. De idêntica declaração de João Berardo se poderá dizer o mesmo, apesar de não estar associado à responsabilidade institucional do primeiro. Ou ainda de Faria de Oliveira da CGD...

O gesto é natural, é a única saída ou haveria outra eticamente mais aceitável? Ainda por cima quando não foi por iniciativa própria, como decorre limpidamente das notícias e declarações destes dias!...

Muita coisa nesta vida é importante…Mas esta declaração tem uma leitura valorativa que a uma pessoa como o Dr. Vítor Constâncio não pode ignorar e, portanto, legitima que pensemos que é um contributo de simpatia para a pessoa de Armando Vara sobre a qual caem sérios indícios de envolvimento num esquema tentacular de vários protagonistas obterem favorecimentos de empresas a partir de pessoas conhecidas que desempenham funções nelas onde adjudicam altos valores de empreitadas, bens e serviços.


Mas, em que reside a importância atribuída? No facto de ter tido a confiança do governo para ser nomeado administrador vice-presidente do BCP e isso ser importante para não estragar ainda mais a imagem de uma instituição já lesada por um perfil de banqueiros que, pelos vistos, está no top de desempenhos? No facto de Armando Vara deixar, assim, de receber o meio milhão de contos que recebia por ano, dando um importante exemplo de desapego por bens materiais?


Para as pessoas em geral o que se está a passar é uma vergonha. É algo que tem que ser atalhado com medidas efectivas e céleres de combate à corrupção. O abrigo da punição, obtido por jogos de influência e disponibilidade de pagamentos de elevados honorários a advogados que permitem enviar para as calendas os resultados destes processos, contraria o que devia ser exemplar. Protege e promove este tipos de comportamentos.


E se a corrupção vale a pena mais imunes e tentados ficam outros seguidores de tais comportamentos, que adquirem laivos de heroicidade, premiando o xico-espertismo e o crime. Porque aos que não têm esses meios de defesa e de protelamento de riscos não falha o rigor da justiça.

Sem violar a presunção da inocência - o preceito de que suspeita e arguição não são a mesma coisa que culpa provada - tais atestados públicos de sinal positivo aos eventuais prevaricadores de colarinho branco estão a modelar perigosos padrões de comportamento que já hoje perpassam a sociedade.

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