segunda-feira, 20 de abril de 2015

Recordando o Mariano Gago


Conheci o Mariano Gago no Técnico em 1968.
Foi um ano de lutas estudantis que abalaram o regime, e em
que eu fui um entre muitos activistas (ou colaboradores associativos para o jargão da época).
No rescaldo dessas lutas uma lista por ele presidida, de que eramos vice-presidentes eu e o Rui Teives, bem como o João Vieira Lopes que ficou com as relações externas e o A.P.Braga como tesoureiro, entre outro, ganhou as eleições como lista única e largo apoio entre os estudantes do IST.
No decurso deste mandato ocorreram novas lutas.

O Governo voltou a fazer depender, em Dezembro, o adiamento do serviço militar dos estudantes do seu “comportamento académico”. Conselho Universitário da Universidade Técnica de Lisboa dá parecer desfavorável à medida, para depois recuar. Um plenário de estudante do IST aprova moção contra a arbitrariedade expressa na nova legislação militar (recrutamento para o exército por razões disciplinares.
A partir de Fevereiro a AEIST deu todo o apoio logístico e técnico à luta dos estudantes do Instituto industrial de Lisboa que passou por um longo período de encerramento da escola e da associação de estudantes. O mesmo apoio foi dado à luta dos Estudantes de Coimbra, do Instituto Comercial de Lisboa e do ISEG, ambas escolas ocupadas pela polícia.
No dia 6 de Maio realiza-se uma manifestação de estudantes de Lisboa pela libertação dos estudantes presos, com gritos contra a PIDE, o fascismo e a guerra colonial.

Em 10 de Maio os estudantes de Lisboa, em Assembleia Magna, na Cantina da Cidade Universitária decidem decretar greve na Academia em 15 de Maio em solidariedade com os estudantes e Coimbra, também vítimas da repressão.
Nos dias seguintes, centenas de estudantes manifestam-se duas vezes, em Lisboa, em solidariedade com os colegas presos, contra a repressão e em solidariedade com a Academia de Coimbra
Em Julho, o Conselho Consultivo para coordenar a preparação da reforma do ensino dá por encerrados os seus trabalhos, depois de uma participação mitigada de estudantes do IST.
Anunciadas em Setembro reformas do IST e ISCEF, do Ministro Veiga Simão, que se alargariam a todas as Universidades. Alguns aspectos vêm já do tempo de José Hermano Saraiva, como a criação do Politécnico e de um secretariado para a Reforma, que integra Fraústo da Silva, Miller Guerra e outros professores, mas que se demitiria posteriormente por não ter acesso à comunicação social.

Daí  conheci ao "José Mariano" características que manteve ao longo da vida: querer ouvir e saber, só depois formar opinião, ser firme mas dialogante. Não estando de acordo com ele em algumas decisões enquanto Ministro, importa ressaltar dois aspectos: Foi o único Ministro da Investigação que sabia do que falava, que colocou a Ciência e a Investigação no centro da vida e da cultura políticas, era um homem de serviço público, não fechado nas escolas mas progredindo também nas interacções exteriores que poderiam beneficiar cientificamente o País. Como aconteceu.

Deixo-vos aqui em baixo uma foto de um convívio que fizemos
no IST em 2002. Ele está na 1ª fila, na ponta da direita a dizer-nos adeus.
    
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1 comentário:

anamar disse...

Foi Mariano Gago que introduziu o Programa Ciência Viva nas escolas básicas do 1º ciclo em parceria coma CML:

Foi tanto e tão bom...
Por onde andarão hoje esses materiais?

:(