quinta-feira, 2 de abril de 2015

Chegou a época da banha-da-cobra! Só compra quem gostar de ser enganado!


A alguns meses das eleições legislativas, Cavaco e Passos Coelho, e outro pessoal político e comentadores já fora de prazo, entregam-se a sucessivas orações, que fazem relembrar o oásis de outros tempos, confrontando com ilusões as realidades do dia-a-dia.
A banha da cobra dos dias de hoje já não se vende como na imagem aqui ao lado, adaptada da foto original de Joshua Benoliel, de 1910, pelo blog 77 colinas. Hoje fala nos prime-times dotelejornais dos 3 canais de TV, com passadeiras, telepontos e demais parafernália.
Uma das larachas é a da redução do desemprego para valores da ordem dos 13% (“Bem melhores do
que países como a Espanha”
Relativamente apenas ao período do 2º trimestre do ano passado, a CGTP-IN referia “O desemprego continua
num nível inaceitavelmente elevado. O INE dá conta que a taxa de desemprego oficial foi de 13,9% no 2ºtrimestre. No entanto, este valor não traduz a realidade do desemprego em Portugal, registando-se também
um número considerável de trabalhadores sub-empregados.O número de trabalhadores impedidos de participar total ou parcialmente na produção do país é superior a 1
milhão e 260 mil pessoas. Além dos 729 mil desempregados considerados pelo INE como desempregados, há
ainda 257 mil inactivos disponíveis que não procuram emprego (os desencorajados) e 252 mil sub-empregados
que trabalham menos tempo do que desejariam. A estes há que juntar ainda os inactivos à procura de emprego
mas não imediatamente disponíveis para trabalhar (28 mil).
O desemprego de longa duração atinge mais de 490 mil desempregados, mais de 67% do total, isto num
contexto em que a protecção no desemprego abrange menos de metade do desemprego oficial, agravando-se
no caso dos jovens, especialmente entre os menores de 25 anos que apenas têm acesso às prestações em menos
de 10% dos casos.
Há ainda que ter em conta que milhares de portugueses continuam a sair do país anualmente (67 milhares em
idade activa desde o 2º trimestre de 2013), havendo outros que passaram à inactividade (a população activa
diminuiu mais de 47 milhares.
Em conclusão, a realidade do desemprego em Portugal vai continuar a apresentar ou não uma
taxa real próxima dos 23%, mantendo o nosso país com níveis de desemprego dos mais elevados de entre
os países da UE quer da Zona Eur?. Acresce, também, que o desemprego jovem se mantém muito elevado e
que a maioria dos desempregados não tem acesso a qualquer prestação de desemprego”.


Outra das larachas diz respeito ao valor intrínseco da austeridade, que nos terá feito salvar dos deficites incomportáveis do passado, e que uma mudança de política confrontaria os portugueses com um” retrocesso naquilo que os portugueses ganharam com a austeridade” (ao lado mais um vendedor, desta vez em Alcântara em 1955, apanhado pelo Eduardo Gajeiro na Ajuda).
Mas ganharam o quê? Se viram salários, progressões e pensões reduzidos. Se viram reduzir os vínculos de
trabalho a situações de quase escravatura. Se viram preços de bens e serviços aumentados. Se tiveram que
optar, em certas camadas, entre tomar medicamentos ou comer.  Se deixaram de ter dinheiro para pagar taxas
moderadoras e por para se ser isento disso se atingir níveis de indigência. Se deixaram de ter dinheiro para se
deslocarem no país e nos meios urbanos.  Se os filhos deixaram de procriar e passaram a entregar mais os
netos aos avós para poderem corresponder a horários de trabalho mais longos e desencontrados. Se
banqueiros-ladrões fizeram esfumar as suas poupanças e não lhas querem devolver.

 
Outra laracha, enfim, é que o país se pode tornar em breve num
dos países mais competitivos do mundo. (na foto ao lado vasilhameatravés de uma PPP da Presidência da República com a Real
Companhia das Argilas)
O que quer  Passos Coelho dizer com isto?
O governo vai aplicar parte do saco dos milhares de milhões que a Ministra das Finanças tem no cofre como investimento produtivo e contribuir para a redução de importações que encarecem nos mercados a produção nacional, nomeadamente nas indústrias transformadoras?
Que o governo vai suscitar com o apoio do Estado novos modelos de organização e gestão empresariais? Que vai melhorar a qualificação dos trabalhadores com contratos de trabalho estáveis, melhorando os seus rendimentos para um maior empenhamento nesse objectivo? Que o Governo vai desagravar empresas de impostos e custos de energia?
Melhorar a competitividade, sim, se o governo a quisesse de facto fazer sem ser à custa de trabalho escravo.
Mas há que não cair no ridículo de termos condições “para sermos um dos países do mundo mais
competitivos”…Vamos ver o que vai acontecer à nossa agro-pecuária agora com a liberalização do mercado do leite no espaço da União, se não vamos absorver a produção leiteira alemã e nórdica através das grandes
superfícies que ainda usarão isso para pagar pior nos contratos que fizerem com os nossos produtores.

PS - Cavaco Silva é o Presidente da República de todos os portugueses? É que parece ser o presidente do PSD, com a agravante que uma boa parte do povo laranja já não se deixa embalar com tais larachas...

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