quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sophia de Mello Breiner

de José Cutileiro, foto de Margarida Bico

Pátria
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Do longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

- Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo.



Sophia de Mello Breyner Andresen

3 comentários:

O Puma disse...

Menina do mar

Mar Arável disse...

Não merecia ter sido
enclausurada

anamar disse...

Sophia poema a vida.


:)