quarta-feira, 17 de julho de 2013

O pântano e o mostrengo

Que Cavaco Silva tenha ido às Selvagens no meio da crise política, provocada pela política do governo que apoia, é tanto mais estranho quanto deixou  um guião para os partidos "do arco de governação"(1) se entreterem, criando suspenses que nos mantenham ocupados para além do mercado dos jogadores de futebol. Foi gastar uma pipa de massa e não sei se o Zeinal Bava lhe cedeu de borla os serviços da PT. para se manter informado.
Que o Partido Socialista se tenha envolvido na caldeirada do compromisso para a "salvação nacional" e recusado a dialogar para um governo de esquerda porque estava a dialogar com a direita, é a coerência com um trajecto de há muitos anos apesar de se exprimirem no seu seio, de vez em quando, alguns críticos inflamados.
Que o governo careça de uma mãozinha do PS para recuperar credibilidade (?) cá e lá fora, depois de tanto ter identificado este partido com uma situação desgraçada que recebeu, é opção que não ajuda muito. Sei que os patrões da Europa não deixarão o PS deslizar para um qualquer "populismo" (2) e que isso não lhe está no código genético alterado. É degradante que o PS e os partidos do governo tenham condicionado o funcionamento da AR para permitir
Que nos media se considerem as opiniões de política alternativa da verdadeira esquerda insignificantes, é um desrespeito constitucional porque a Constituição não obriga à  austeridade de consequências particularmente graves  para os que menos têm, não identifica austeridade com falta de investimento que faça crescer a economia e o emprego, nem com despedimentos em massa nem com novos cortes que vão atingir os mesmos de sempre...A Constituição permite e a esquerda tem propostas alternativas competentes em matéria de renegociação de um memorando acordado pela troika, de canalização de recursos financeiros para a produção e para actualizações salariais e de pensões que permitam o alargamento do mercado interno, de alterar a correlação entre trabalho e capital, de redução das assimetrias sociais. Quem disser que isto não é possível, mente. Muitos do que o dizem, mentem com todos os dentes. Só pensam neles e nos seus privilégios.
Tudo isto configura um mostrengo que nos tolhe a vida.
As eleições antecipadas vão revelar-se a única solução para espantar o mostrengo e
nos fazer sair deste pântano...

(1) agrupamento de partidos que, alternando-se na governação, garantem uma política de direita e a subserviência aos ditames da União Europeia e da NATO.
(2) A expressão adquiriu nos dias de hoje uma outra significação distinta da original. Os EUA se encarregaram do acerto de agulhas para se referir a um povo que fez a revolução, fazendo emergir líderes respeitados pelas massas. Com tal designação referiu-se, entre outros, a Nasser, Nehru, Vasco Gonçalves, Castro ou Chavez.

1 comentário:

m.joão disse...

Neste momento a minha maior dúvida é saber se será o governo do lado de cá, se o do lado daí, que cairá mais depressa.
Aí o pântano que descreves. Aqui um pântano semelhante, com mais os escândalos dos financiamentos do PP.
Interessante que nem Passos Coelho, nem Rajoy queiram demitir-se.

Beijinho, António
MJoão