Passos
Coelho no discurso que fez perante a TV, em 7.9.2013, sobre as novas
medidas de austeridade para 2013 afirmou o seguinte: “O que
propomos é um contributo equitativo, um esforço de todos para o
objetivo comum, como exige o Tribunal Constitucional … Foi com este
propósito que o governo decidiu aumentar a contribuição (dos
trabalhadores) para a Segurança Social (de 11%) para
18%, o que nos permitirá, em contrapartida descer a contribuição
exigida às empresas (ou seja, aos patrões) também
(de 23,75%) para 18%” Isto significa
que os trabalhadores do setor privado terão de contribuir para a
Segurança Social com mais 2.700 milhões € (+63,6%), e os patrões
de contribuir com menos 2.200 milhões € (-24,2%).
Eugénio Rosa acompanha dia-a-dia as consequências dos actos do governo |
E
é precisamente a isto que Passos Coelho chama descaradamente “um
contributo equitativo, um esforço de todos para o objetivo comum”.
Constitui também uma grande mentira afirmar, como fazem Passos
Coelho e os seus defensores, que a redução das contribuições
patronais para a Segurança Social em 5,75 pontos percentuais vai
aumentar a competitividade das empresas e criar emprego, pois tal
redução nas contribuições pagas pelos patrões determina apenas
uma redução nos custos das empresas que estimamos entre 1,5% e
2,46% com base num estudo que fizemos com dados de um relatório do
próprio governo (ver nosso estudo 36 de 2011), portanto uma redução
sem grande impacto facilmente anulada por uma variação na taxa de
câmbio ou nos custos dos imputs (ex.:energia). E as empresas não
criam emprego se não existir clientes com poder de compra a quem
possam vender, e as medidas agora anunciadas vão reduzir ainda mais
o poder de compra dos portugueses e as exportações serão
insuficientes para compensar quebra.
Mas
a estranha equidade de Passos Coelho não fica por aqui pois, no
mesmo discurso, anunciou também as seguintes medidas: “A subida
de 7 pontos percentuais será ainda aplicada aos funcionários
públicos”, ou seja, eles terão de descontar nas remunerações
que recebem mais 850 milhões € por ano para a CGA (portanto, os
trabalhadores da Função Pública passarão, em 2013, a descontar
18% para a CGA mais 1,5% para a ADSE, o que soma 19,5%). E para além
deste aumento de contribuições para a CGA, o “corte do segundo
subsidio é mantido nos termos já definidos na lei do Orçamento do
Estado para 2012, o que significa que, em 2013, os trabalhadores
da Função Pública vão sofrer também um corte direto nas suas
remunerações nominais que estimamos em 540 milhões € só por
esta razão. E o aumento dos descontos para a Segurança Social e
CGA, enquanto o PSD e CDS forem governo é para se manter. Segundo
também Passos Coelho,
“No
caso dos pensionistas e reformados (reformados da Segurança
Social e os aposentados da Função Publica), o corte dos dois
subsídios permanecerá em vigor. A duração da suspensão dos
subsídios, tanto no caso dos funcionários, como nos dos
pensionistas e reformados, continuará a ser determinado pelo período
de vigência do Programa de Assistência Económica e Financeira”,
ou seja, pelo menos até ao fim de 2014. Só em 2013, os reformados
do setor privado sofrerão um corte nas suas pensões que estimamos
em 750 milhões €, e os aposentados da Função Pública terão um
corte nas suas pensões que calculamos em 700 milhões €; portanto,
para empregar as palavras de Passo Coelho, governo e troika estão-se
a “lixar” para as decisões do Tribunal Constitucional.
Em
relação aos rendimentos da propriedade e do capital que, em 2011,
segundo o INE atingiram mais de 51.961 milhões € (é igual a 78%
dos ordenados e salários recebidos por todos os trabalhadores
portugueses), e relativamente a 18.106 milhões € de rendimentos
transferidos para o estrangeiro de aplicações feitas em Portugal
por não residentes, que não pagam impostos,Passos Coelho não
anunciou qualquer medida, porque se está também a “lixar” para
o Tribunal. Paul Krugman, Nobel da economia, para explicar este
comportamento dos governantes atuais escreveu, num livro saído em
2012, estas palavras esclarecedoras que deviam merecer uma atenção
especial por parte dos portugueses já que ajudam a compreender a
situação atual:
“Se
alguns deles terminar o mandato usufruindo de grande estima por parte
do grupo de Davos (fórum mundial anual constituído pelos
representantes dos grandes grupos económicos internacionais e pelos
governantes dos maiores países) há uma infinita série de postos
na Comissão Europeia, no FMI ou em organismos afins para os quais
poderá ser elegível mesmo que seja desprezado pelos seus próprios
conterrâneos. Aliás, ser desprezado seria de certa forma uma
mais-valia”. E é sabido que Vitor Gaspar é o aluno preferido
do ministro alemão das Finanças.
Para
além disso, Krugman também refere o fenómeno que designa por
“porta giratória” entre o governo e cargos bem pagos nos
grupos económicos nos seguintes termos: “Esta porta já existe
há muito tempo, mas o salário que se consegue obter se a indústria
gostar deles é imensamente maior do que aquilo que costumava ser, e
daí a necessidade de acomodar as pessoas que estão do outro lado da
porta, de adotar posições que os torne num contrato atrativo após
a carreira politica”(pág. 100).
(ler
o estudo na íntegra , em que baseia estas afirmações, em
www.eugeniorosa.com)
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