domingo, 11 de julho de 2010

O neo-liberalismo existe?



O neo-liberalismo existe? É um derivado do liberalismo anterior? É um fantasma criado pela esquerda?


Esta corrente teórica, formalizemo-la ou não com esta designação, e as respectivas práticas resultam do soçobrar do socialismo no leste europeu e da lógica à solta de mais e mais lucros dos grandes grupos.


Com todas as reservas, que os próprios comunistas assinalaram antes e depois desta ocorrência a aspectos da democracia nessas sociedades e algumas políticas destes países, o exemplo que vinha deles, foi durante décadas o maior travão a uma maior exploração dos trabalhadores do “mundo ocidental”.


Os movimentos dos trabalhadores nos outros países atingiram vitórias que resultaram da sua força organizada e experiência política mas também do peso que os países socialistas tinham adquirido nas relações internacionais e na percepção geral de que certas conquistas eram possíveis.


António Vilarigues referiu no Público do passado dia 9 uma parte das conquistas obtidas pelos trabalhadores no mundo capitalismo por força do exemplo que vinha do lado de “lá”…Apreender essas conquistas e situá-las num tempo concreto é essencial para fazer história. O “Estado-Providência”, como alguns lhe chamam, atribuindo-o a desenvolvimentos exclusivos do keynesianismo, não pode ignorar este pilar da sua génese. Aliás, os trabalhadores, em todo o mundo, passaram, a partir da queda do socialismo no leste europeu, a ter a noção, na sua perda de direitos e liberdades, na sua maior exploração e no alargamento da pobreza.


Isto no que respeita às questões sociais porque os reflexos foram também enormes na globalização com os aumentos de desigualdades que produziu, na criação de novas guerras de agressão sem a contraposição de uma outra força político-militar, no mercantilismo e redução de níveis de qualidade que atingiram a educação, a saúde, a segurança social e a criação e fruição culturais.

O "menos Estado" é uma reivindicação hipócrita. O que se quer é um Estado a fazer e a gastar recursos como os grupos económicos querem. Se eles não ligassem ao Estado e o quisessem "mínimo" não se candidatavam a nenhum órgão da administração central e local. Aqui o que lhes interessa é retirar parte de serviços universais, como a educação e a saúde, e também a segurança social, com maior capacidade de gerarem lucros numa óptica de gestão privada, do âmbito

da gestão pública, única forma de lhes garantir a universalidade e a gratuitidade. Como se não fosse para isso que todos pagamos impostos e descontamos ao longo da vida...

As designações são importantes para designar certos fenómenos. Mas importa ter em conta que este é o capitalismo que existe, no ponto onde o fizeram chegar as suas locomotivas. Qualquer rejeição semântica por parte dos partidos que têm governado Portugal nos últimos trinta e quatro anos é um mero acto de hipocrisia eleitoralista.

Sem comentários: