domingo, 2 de maio de 2010

Ainda sobre os grandes investimentos...


"Não temos dinheiro? Então parem-se ou adiem-se os grandes investimentos...".

Quem põe assim a questão está a ser mero transmissor de idéias de outros e não pensou no que disse e devia ter uma atitude mais crítica e fundamentada que se não ficasse pela "coisa" em concreto e quanto ela, isoladamente dos seus efeitos favoráveis, iria custar.

Um grande investimento da ordem de centenas ou milhares de milhões de euros tem que ser muito bem justificado. Um conjunto de estudos prévios (objectivos e não a "chapa 5" vendida por muitos consultores) têm que, face ao valor provável do projecto, justificar a sua necessidade, não apenas para um momento mas para um período longo de tempo, provar que pode criar emprego, não apenas temporário, mas de longo prazo em empresas que concorrem com peças, equipamentos, construção, etc., na fase de construção da infraestrutura e, depois, na fase de manutenção, de prestação de serviços continuados necessários ao funcionamento dela que não façam parte do seu objecto, se isso se revelar vantajoso em termos de gestão.

Assim o investimento pode justificar-se em termos de emprego e aumento da actividade económica em empresas adjacentes ou que encontrarão uma capacidade aquisitiva acrescida por parte da população da região onde a infraestrutura está localizada ou que serve. Estes efeitos tem que ser tidos em conta quando se avaliam custos e ganhos do projecto., em termos estratégicos e não apenas da rentabilidade de per si do projecto.

Têm que ser integrados nos estudos estratégicos e económico-financeiros que fundamentem a realização dos respectivos concursos públicos, em estudos sobre os acréscimos de população que poderão atrair o novo emprego e novas actividades associadas.

Os recursos para pagar os compromissos adquiridos resultarão, assim, não apenas da produção de bens transaccionáveis para reequilibrar as contas com o estrangeiro e gerar recursos, como defende Cavaco Silva. Resultarão também da criação de emprego e empresas, com carácter duradouro, que o projecto irá influenciar.
Naturalmente que têm que existir avaliações credíveis para tomar as decisões e não se pode, em caso negativo, vir invocar a necessidade de "honrar compromissos", como avançou José Sócrates. E que compromissos? Sendo políticos, argumentando polìticamente pela impossibilidade de os cumprir num quadro financeiro muito diferente do quie existia à data dos concursos. Ou se forem contratuais, em caso de adjudicações já feitas, as assinaturas dos contratos podem ser adiadas. Quer o Estado quer os grupo adjudicatários defrontam hoje novas dificuldades de se financiarem para lhes dar continuidade.

1 comentário:

H. Dias disse...

Sempre fui de opinião que a ligação a Madrid por uma linha de alta velocidade é importante para o país.
Espero que o PCP e o BE a viabilizem, votando contra o projecto do PP. Mesmo com as dúvidas e condições que tanto um como outro mantêm, aproveitando talvez a oportunidade para negociar as condições que entendem.

E, no que diz respeito ao aeroporto, sempre esperei ouvir a esquerda (para além das questões estratégicas e económico-financeiras) a valorizar claramente as questões de segurança e ecológicas que coloca a existência do aeroporto de Lisboa no local em que ele se encontra. Para meu espanto, não ouvi, sendo que nas eleições autárquicas, segundo entendi, todos os candidatos se mostravam de acordo com a manutenção do aeroporto, mesmo que secundário, dentro da cidade. Ora acontece que eu assisti em Madrid a manifestações violentíssimas dos movimentos ecologistas e dos moradores dos bairros mais próximos, contra o alargamento do aeroporto de Barajas e soube de manifestações semelhantes em Londres, e não consigo entender como se acha normal aqui, vivermos com os aviões a rasar-nos os telhados e a poisar no nosso quintal.