

Blogue de António Abreu - Pontos de vista de esquerda,com a preocupação de tornar melhor a vida do ser humano e de contribuir para esse combate, abertos às opiniões de quem nos queira visitar
Pertenço a uma geração que se tornou adulta durante a II Guerra Mundial. Acompanhei com espanto e angústia a evolução lenta da tragédia que durante quase seis anos desabou sobre a humanidade. Desde a capitulação de Munique, ainda adolescente, tive dificuldade em entender porque não travavam a França e a Inglaterra o III Reich alemão. Pressentia que a corrida para o abismo não era uma inevitabilidade. Podia ser detida. Em Maio de 1945, quando o último tiro foi disparado e a bandeira soviética içada sobre as ruínas do Reichtag, em Berlim, formulei como milhões de jovens em todo o mundo a pergunta «Como foi possível?» Hitler suicidara-se uma semana antes. Naqueles dias sentíamos o peso de um absurdo para o
qual ninguém tinha resposta. Como pudera um povo de velha cultura, o alemão, que tanto contribuíra para o progresso da humanidade, permitir passivamente que um aventureiro aloucado exercesse durante 13 anos um poder absoluto. A razão não encontrava explicação para esse absurdo que precipitou a humanidade numa guerra apocalíptica (50 milhões de mortos) que destruiu a Alemanha e cobriu de escombros a Europa? Muitos leitores ficarão chocados a por evocar, a propósito da crise portuguesa, o que se passou na Alemanha a partir dos anos 30. Quero esclarecer que não me passa sequer pela cabeça estabelecer paralelos entre o Reich hitleriano e o Portugal agredido por Sócrates. Qualquer analogia seria absurda. São outros o contexto histórico, os cenários, a dimensão das personagens e os efeitos. Mas hoje também em Portugal se justifica a pergunta «Como foi possível?» Sim. Que estranho conjunto de circunstâncias conduziu o País ao desastre que o atinge? Como explicar que o povo que foi sujeito da Revolução de Abril tenha hoje como Primeiro-ministro, transcorridos 35 anos, uma criatura como José Sócrates? Como podem os portugueses suportar passivamente há mais de cinco anos a humilhação de uma política autocrática, semeada de escândalos, que ofende a razão e arruína e ridiculariza o Pais perante o Mundo? O descalabro ético socrático justifica outra pergunta: como pode um Partido que se chama Socialista (embora seja neo-liberal) ter desde o início apoiado maciçamente com servilismo, por vezes com entusiasmo, e continuar a apoiar, o desgoverno e despautérios do seu líder, o cidadão Primeiro-ministro? Portugal caiu num pântano e não há resposta satisfatória para a permanência no poder do homem que insiste em apresentar um panorama triunfalista da política reaccionária responsável pela transformação acelerada do país numa sociedade parasita, super endividada, que consome muito mais do que produz.
(…)
O cidadão José Sócrates tem mentido repetidamente ao País, com desfaçatez e arrogância, exibindo não apenas a sua incompetência e mediocridade, mas, o que é mais grave, uma debilidade de carácter incompatível com a chefia do Executivo.
As agências de rating tramaram-nos e abriram as portas a novas investidas dos especuladores.
Referenciando o “maior risco” decorrente da evolução do deficite das contas públicas, essas agências, não democraticamente eleitas mas oráculos dos mercados financeiros, irão provocar uma nova pressão especulativa que se traduzirá na subida das taxas de juros de novos empréstimos obtidos por instituições financeiras portuguesas, que os passarão para os seus clientes.
Resultados: Crédito mais caro a fazer estagnar ainda mais a economia, aumento dos spreads bancários para empréstimos contratados pelos clientes. Tudo, em última análise, se traduzirá na redução do mercado interno, na queda da actividade produtiva e na pressão para importar mais, ambas geradoras da elevação da despesa pública e em novos patamares da dívida que subirá em espiral.
Os bancos podem sair ilesos nos seus lucros, o mesmo acontecendo aos prémios e remunerações das grandes empresas aos seus administradores. Que se têm rebelado contra tentativas do Presidente da República e mesmo do Governo, dando voz à indignação pública, de os considerar despropositados e escandalosos.
O PSD bateu-se contra o PEC mas Passos Coelho foi hoje falar com o Primeiro-Ministro. Desta conversa é de esperar a viabilização pelo PSD na AR, de uma maior rapidez nas medidas gravosas contra a população e outras ainda não expressas nesse documento orientador da política económica e financeira. Dela não deverá sair nenhum assomo patriótico que nos livre do eventual afundamento com outros países da EU, de gestos firmes contra o garrote dos especuladores, contra os condicionamentos que a banca coloca ao crescimento económico bem como sobre o aumento da actividade económica e sua produtividade e da inversão das opções do governo de reduzir o mercado interno, congelando ou reduzindo remunerações e outros direitos dos trabalhadores, que naturalmente lutam e se defendem com os meios de que dispõem.
A luta vai continuar e os campos terão que se ir definindo.
Bom dia juventude!
Ora cá estamos nós, quatro semanas depois de uma operação ao coração para substituir a válvula aórtica (à esquerda na figura), que há muito não estava eficaz e me deixava num estado de canseira quase permanente. Era uma operação desejada.
Internado que fui, depois de um dia de preparação, lá me injectaram os líquidos e só acordei um dia depois, sentindo-me como se tivesse passado um eléctrico da Carris por cima – a expressão foi do cirurgião, um bom profissional, que várias vezes nos pôs a rir na enfermaria, a mim e outros companheiros de (in)fortúnio.
O primeiro dia foi de KO quase permanente: não sabia onde estava, quem me rodeava, em que patamar da loucura estaria situado. As imagens nocturnas foram caóticas.
Os dois dias seguintes foram melhores. Família, consciência, a responsabilidade de manter na sua função 35 agrafos, de me abraçar quando a tosse vinha para não abrir esse fecho éclair com que me tinham condecorado. Passei essas duas noites como se tivesse o ecrã do computador à minha frente, no qual ia fazendo o download de imagens diversas. Dei comigo várias vezes a digitar um teclado inexistente.
Ganhei a consciência de que me tinham aberto, mexido na fonte dos afectos, metido um zingarelho designado por prótese valvular mecânica, do tipo St Jude Nº 25 Rg Ao, e fechado, com algum “arame” a consolidar a relação do externo com as costelas. A prótese já a baptizei como Xico, em homenagem ao meu primeiro gato. Que, com os demais componentes cardíacos regressou à gaiola, onde tudo se anda a acomodar, depois de 62 anos de uma acomodação diferente.
Fomos tratados nas palminhas por médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares. Cinco estrelas para a Cardiologia e a UTIC do Hospital de Santa Maria!
O meu vizinho do lado era, com 45 anos, um veterano de novas válvulas que ia substituir uma delas, bem-disposto, e que se queria despachar daquilo tudo.
As coisas foram-se compondo até umas arritmias terem dado um arzinho de sua graça o que prolongou a estada por mais uma semana.
Em casa estou recuperando os equilíbrios, o funcionamento normal dos sistemas. E por aqui estou mais algum tempo até atingir a recuperação para a chamada vida normal.
O Xico, esse, passou a fazer parte dos meus amigos do coração.