quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

As convulsões

Responsáveis deste país dizem umas vezes em público e outras em privado que os preocupam as “convulsões”. Em público mas ainda menos em privado já não se preocupam tanto com as suas causas nem dão o mote ao sofrimento que cresce nos lares - quando os têm - dos portugueses.

As convulsões poderão ser inevitáveis.
Melhorar o nosso viver poderá evitá-las ou reduzir a dimensão da sua expressão. Mas importa observar como os que o não querem se comportam face aos que o exigem.

Como noutros momentos da História, as questões do poder, de quem o exerce e como – em última análise revelando em benefício de quem e contra quem – o exerce, de quem muscula o Estado para resistir às mudanças e prepara o confronto e a provocação, de quem ainda sente força para mandar enquanto outros ainda não a adquiriram para alternarem outras formas de poder, são questões recorrentes, livres de determinismos retóricos mas verdadeiramente assentes em observações dos comportamentos sociais em ciências que, não sendo exactas, são indicativas.

O domínio dos média e o seu uso para a manterem as relações do poder, a ameaça aos magistrados, o regabofe de algum patronato que acaba com perspectivas de vida dos seus semelhantes, são sinal do desembainhar das espadas…que é acompanhado com tretas vazias de significado para alguns das “mudanças de paradigmas” ou as “oportunidades que as crises trazem”…

Dir-me-ão que sou um troglodita, agarrado à lógica da luta de classes…
Mas, me perdoem os bem-pensantes, que se não livraram dos preconceitos. Não encontro outro fundamento científico.
Para a sustentação da exploração, da desigualdade crescente, da fome e da miséria em parte significativa da população mundial, do saque das matérias-primas e dos acordos económicos leoninos para os mais fortes, da retórica do ambiente que é diariamente desmentida, do racismo e da intolerância, da “justificação” de sucessivos genocídios e ingerências, etc.
Que não seja o lucro desmedido e anti-social, a desvalorização do trabalho e da actividade produtiva para a dessocializar as relações económicas, o regresso à barbárie para que muito poucos possam continuar a ser os beneficiários da roleta em que jogam diariamente as mais-valias confiscadas dos outros.

Todos os dias as elites dirigentes revelam os piores princípios éticos de conduta, se atascam na corrupção e no compadrio, esperando talvez que a sociedade venha a aceitar esta mudança de valores no seu código genético para os reconduzirem ciclicamente...
Mas aqui e em muitos pontos do mundo ainda existe a felicidade, o amor, o respeito pelos outros, a importância de estarmos juntos e de gerirmos para o bem comum relações complexas onde todos são diferentes e intervêm com as suas diferentes capacidades, num espírito mais igualitário que não igualitarista, numa época da História em que o desenvolvimento científico e tecnológico seria favorável a passos consistentes na elevação da condição humana.

Se as elites do poder insistirem em que devem continuar os mesmos a fazerem as mesmas coisas com os mesmos resultados catastróficos para todos, não duvidem que o abanão se vai impor.

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