quarta-feira, 18 de junho de 2014

Uma noite no Hot Clube, por Jorge

Emocionado. É sempre assim, mais a mais quando me acho sozinho, quando eles tocam apenas para mim, como e o caso. Não levei comigo ninguém nem ninguém se deu ao trabalho de me levar, pelo que sei muito bem do que estou a falar.
Estou a escrever para mim próprio, é evidente e a lembrar-me daqueles “putos” todos a tocarem tão bem, tão maravilhosamente orquestrados e dirigidos pelo Pedro Moreira, felizes que estavam, de estar a tocar com e para o Benny Golson. O Benny Golson é um Senhor já crescido, embora ainda não tenha completado oitenta e seis anos, que compôs eternos temas míticos e toca sax tenor quase tão bem e à vontade como quando tinha trinta ou quarenta. Nos intervalos dos temas chega-se ao micro e conta histórias. Histórias de vida, histórias de alguns dos seus temas, histórias musicais, por assim dizer – muito bem contadas, de um humor suave, algumas delas cheias de ternura, como a da morte do Clifford Brown, aos vinte e oito anos (“o que teria ele para nos dar se não tivesse desaparecido” – afirma, às tantas, interrompendo-se) tudo naquela voz musical bem modulada e bem timbrada que a gente negra tem a felicidade e a facilidade de possuir.
“These guys play so good”, sorriria ele, às tantas, absolutamente feliz e convicto. Aliás durante alguns magníficos solos de trompete e sax de componentes da orquestra, notava-se-lhe o prazer e a percepção daquilo que ouvia, aos tais “putos”
Não vale a pena continuar a palavrear nem a gastar muito mais consoantes e vogais. Quem lá esteve, “voluntário”, saberia do que estou a falar, ou a tentar dizer. Quem lá esteve, arrastado por outrem ou pela curiosidade, saíu de lá de certeza mais rico, mesmo sem de tal suspeitar.
E quem lá não esteve não faz ideia sequer do que tento atabalhoar por estas linhas abaixo, é impossível fazer chegar às pessoas coisas destas, emoções e prazeres destes. Vou já calar-me.
“Whisper not”, “Killer Joe”, “Blues March” entre vários outros e finalmente “I remember Clifford” em quinteto, onde o João Moreira haveria de brilhar a grande altura, a contracenar com o Benny Golson. Uma noite eficaz e preenchente, a permitir e a relembrar que vale a pena estar vivo.

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