sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O que se ignora sobre o grupo Bilderberger, por Thierry Meyssan - 1 (cont.)


(continuação de 1 - A primeira reunião)

Apesar de alguns jornalistas com imaginação terem acreditado que o grupo de Bilderberg pretendia criar um governo mundial oculto, este clube de personalidades influentes não é senão uma ferramenta de lobbing que a NATO utiliza para promover os seus próprios interesses. Isto é muito mais sério e muito mais perigoso, já que é a NATO que ambiciona converter-se num governo mundial oculto, capaz de perpetuar o status quo internacional e a influência dos Estados Unidos.
Para além disso, nas reuniões seguintes a segurança do Grupo de Bilderberg não estaria a cargo da polícia do país onde se organizaria o encontro mas sim de soldados da NATO.

Entre os 10 oradores inscritos destacaram-se então dois ex-primeiros-ministros – o francês Guy Mollet e o italiano Alcide de Gasperi –, três responsáveis do Plano Marshall, o falcão da guerra fria Paul H. Nitze e, sobretudo, um poderosíssimo financeiro, David Rockefeller.

Segundo os documentos preparatórios, uns vinte participantes estavam ao corrente do segredo. Conheciam mais ou menos em detalhe quem eram os que realmente manejaram o show e escreveram de antemão as suas intervenções. Até os menores detalhes estiveram previstos e não foi deixado lugar à mínima improvisação. Por outro lado, os demais participantes, uns cinquenta, ignoravam por completo o que se estava a tramar. Foram escolhidos para que exercessem a sua influência sobre os seus respectivos governos e sobre a opinião pública dos respectivos países. Desta forma, o seminário foi organizado para os convencer e para os levar a implicar-se na propagação das mensagens que se queriam difundir.
Em vez de abordar os grandes problemas internacionais, as intervenções analisaram a suposta estratégia ideológica dos soviéticos e explicaram o método a seguir para a contrariar no «mundo livre».

As primeiras intervenções avaliaram o “perigo” comunista. Os «comunistas conscientes» são indivíduos que pretendiam pôr a sua pátria ao serviço da União Soviética para impor ao mundo um sistema colectivista. E havia que combatê-los. Mas tratava-se de uma luta difícil já que estes «comunistas conscientes» estavam disseminados por toda a Europa dentro de uma massa de eleitores comunistas que nada sabiam dos seus “sinistros” propósitos e que os seguiam com a esperança de obter melhores condições sociais. A retórica endureceu pouco a pouco. O «mundo livre» deveria enfrentar o «complot comunista mundial», não só de forma geral mas dando também resposta a problemas concretos vinculados aos investimentos norte-americanos na Europa e à descolonização.
Finalmente, os oradores abordaram o problema principal que, segundo afirmam eles, os soviéticos estavam a explorar em seu próprio benefício. 

Por razões culturais e históricas, os responsáveis políticos do «mundo livre» empregaram argumentos diferentes nos Estados Unidos e na Europa, argumentos que por vezes se contradiziam. O caso mais emblemático é o das purgas que organiza o senador McCarthy nos Estados Unidos. Estas seriam indispensáveis para salvar a democracia, mas o método utilizado foi visto na Europa como uma forma de totalitarismo.
A Gládio e a NATO

A mensagem final é que não haveria lugar a negociações diplomáticas nem compromissos possíveis com os «vermelhos». Havia que impedir, custasse o que custasse, que os comunistas lograssem desempenhar um papel na Europa Ocidental. Mas seria necessário actuar com astúcia. Como não se podiam prender e fuzilar, haveria que neutralizá-los com discrição, sem que os eleitores se dessem conta. Ou seja, a ideologia que se desenvolveu no encontro é a da NATO e da Gládio. Nunca se diria ali que se recorreria a fraude eleitoral nem que os indecisos seriam assassinados, mas todos os participantes admitiram que, para salvar o «mundo livre», havia que por as liberdades entre parêntesis.
Ainda que o projecto da Comunidade Europeia de Defesa (CED) viesse a fracassar 3 meses más tarde devido aos golpes que lhe assestaram tanto deputados comunistas como «nacionalistas extremistas», ou seja os gaullistas, o seu objectivo não era na realidade apoiar a criação da CED nem nenhuma outra medida política em particular mas sim divulgar uma ideologia no seio da classe dirigente e transmiti-la depois, através da dita classe, ao resto da sociedade. 
Objectivamente, os cidadãos da Europa Ocidental dispunham de cada vez mais informação sobre as liberdades que não tinham os habitantes da Europa Oriental, mas tinham cada vez menos consciência das liberdades que eles mesmos iam perdendo na Europa Ocidental.

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