terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Oratórias de fim de ano

Na sua oratória natalícia, o Primeiro-Ministro insistiu nos "compromissos a honrar" e nos "objectivos orçamentais e financeiros para cumprir". Isto é, no continuar a pedir emprestado, para pagar os juros e anteriores empréstimos , não havendo receitas da actividade produtiva bastante pela anemia crónica em que a meteram e estando-se em regime de empobrecimento que quebra os magros poderes aquisitivos...
O Presidente da República, com nuances para inglês ver, seguiu-lhe os passos.
Não advogando que se não cumpram compromissos adquiridos (embora uma parte deles sejam fruto de pura agiotagem à solta nesta União Europeia) , importa que o PM e PR se não esqueçam de coisas como:
  •  Não terem sido os portugueses agora chamados a pagar com língua de palmo quem deu cobertura à financiarização da economia nem quem criou produtos tóxicos na banca nem na imposição do crédito generalizado em que valeu tudo. Que tudo partiu de grandes brancos norte-americanos em 2007 que contagiaram a generalidade dos sistemas bancários com eles feitos. Insistir na tecla de que vivemos acima das nossas possibilidades (quem viveu?) só deveria servir para que os resultados fossem pagos pelos autores destas políticas, incluindo com prisão; 
  • À crise das dívidas soberanas, disso resultantes, responderam FMI, UE e BCE com medidas recessivas nos países mais fragilizados, impondo a troco de uma austeridade que funcione como garantia, "resgates", melhor dizendo super-empréstimos a taxas elevadas do que os países credores obtêm nos mercados. E tanto maior quanto se reduzem a despesa pública, a procura, as receitas fiscais;
  • Esta prática de "sugar até ao tutano" os países mais débeis como Portugal, traz como outra face da moeda, a impossibilidade destes pagarem as dívidas e continuarem a pagar as importações dos parceiros mais fortes;
  • Esta situação teria imposto que, há muito, a renegociação da dívida em valores especulativos, prazos de garrote que permitissem à economia respirar, relançá-la e combater a recessão e deflação;
O Presidente da República fala na necessidade de relançar a economia e de se não poderem corrigir as dívidas com receitas extraordinárias (que levam o estado e as empresas a terem que correr riscos muito mais elevados) mas relativamente às opções de fundo subscreve-as. Nem um nem outro falaram dos trabalhadores, o que não deixa de ser sintomático das suas motivações...

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