quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A imagem da ignomínia

Se se confirmar que Kadhafi foi capturado e morto pela soldadesca que trabalha para a NATO e/ou por bombardeamentos desta, estamos perante um facto que coroa todo um processo de recolonização da Líbia, feita a ferro e fogo, onde terão sido cometidos crimes de dimensão ainda agora não possível de imaginar.

A CNN, como canal das tropas de choque, acompanhou esse assalto final..., e captou imagem de Kadhafi, já morto, com a cabeça levantada do chão, exibido como troféu de guerra, numa atitude que viola todos os códigos deontológicos e comportamentos humanitários que os combatentes mortos em combate merecem.

Chegou a dizer-se que fora morto a fugir...Quem conhecia Kadhafi sabia que ele morreria em combate em Syrte, sua terra natal, onde nasceu numa comunidade nómada ligada aos beduínos.

Militar de formação, comandou a revolta militar de 1969, que depôs o Rei Ídris, que tinha entregue a exploração do petróleo aos norte-americanos sem que o povo líbio disso beneficiasse. As reacções não se fizeram esperar por parte do imperialismo e o coronel erigiu um sistema, segundo ele distinto do socialismo e do capitalismo, que funcionava na base de assembleias populares, num país diferente de tantos outros já que o Estado praticamente não existia, existindo sim diferentes comunidades ou tribos, de diferentes clãs. A criação de um estado moderno fez-se sem eliminar esta realidade. A Líbia tornou-se um país que se destacava de outros países africanos, pelo PIB, pelo leque reduzido de desigualdades sociais, pela emancipação da mulher, pelo nível cultural e pela aplicação dos recursos da exploração do petróleo na elevação geral das condições de vida dos líbios.

Kadhafi tornou-se neste processo um revolucionário respeitado em todo o mundo, apesar de opções aventureiras que lhe foram atribuídas. E apesar de, internamente, ter mão de ferro para com a esquerda, nomeadamente quando se abriu à exploração do petróleo por potências ocidentais, as mesmas que viriam a, no seio da NATO, executar o plano de conquista posterior da Líbia.

Gostaria de deixar um aviso aos que me leiam:
seguir a cartilha da condenação unânime de Kadhafi, agora derrotado pelo trabalho conjunto dos EUA e da sua Al-Qaeda, é dar luz verde à recolonização de África.

E uma reflexão:
apoiar a execução de Kadhafi não é compaginável com a postura liberal dos que se limitariam a dar palmadinhas no rabo a Obama para exorcizar os crimes contra a Humanidade que tem cometido.

3 comentários:

JOÃO disse...

É isso mesmo! A imagem repetida da ignomínia.
E a nossa comunicação social limita-se, mais uma vez, a um copy/paste acéfalo do que colhem nas alinhadíssimas agências internacionais de "notícias".
Ouvir o contínuo monólogo dos televisos e habituais comentadores, provoca vómitos a qualquer um que ainda teime em usar a cabeça para pensar!

Maria disse...

Chocante, tudo isto.

Anónimo disse...

que bom vir aqui ler estas palavras cheias de RAZÃO!