1. O debate sobre Stalin, aqui anunciado, a propósito do livro do filósofo Domenico Losurdo, foi interessante.
O autor não se coloca numa das posições simplistas de aceitar toda a "crítica" a Stalin que desde o relatório de Krustchev foi apadrinhada por alguma "esquerda" nem da aceitação de formalização de teses sobre como fazer o socialismo a partir dum período,que foi uma das tragédias da revolução russa.
Insiste várias vezes que a construção do socialismo é um processo de aprendizagem trabalhoso e de maneira nenhuma concluído.
E coloca à cabeça como motivação para escrever este livro o profundo mal-estar que lhe foi criando a equivalência entre Stalin e Hitler, a equivalência de crimes cometidos sob a direcção de ambos, o carácter anti-científico e desrespeitador da verdade histórica por alguma esquerda bem pensante incapaz de reflectir porque no final da guerra intelectuais e dirigentes políticos dos mais diferentes quadrantes fizeram o elogio da URSS e de Stalin. "Esquerda" que omitiu o objectivo nazi em relação ao povo russo - liquidá-lo e substituí-lo pela raça germânica, mantendo alguns negros para serem a nova escravatura desta população "renovada". Stalin estudou estas intenções de Hitler expressas no "Mein Kampf" e dedicou toda a sua actividade a partir daí à construção de um novo país, com elevada capacidade de produção própria em todos os domínios, incluido o militar, avançado tecnologicamente, unir os povos e nacionalidades, cometendo erros, considerados isoladamente, no plano da colectivização nos campos e no tratamento da questão das nacionalidades mas que, segundo o autor, foi o preço a pagar para salvar a pátria e derrotar os nazis - questão que ultrapassou em muito o interesse dum só Estado e iniciou a derrota do que a partir de determinada altura foi encarado como um flagelo futuro da humanidade.
Losurdo não o referiu mas é verdade histórica que dirigentes de alguns países, no início do conflito, viabilizaram a acumulação de recursos para a guerra por parte da Alemanha, puseram grandes empresas suas a trabalhar para Hitler, com a miragem de que, cumprindo com o "Mein Kampf", Hitler esmagasse os soviéticos e que, depois, eles esmagariam Hitler. A traição de Daladier e Chamberlain e o atraso da entrada na guerra dos EUA,que só desembarcaram na Europa depois da guerra ter começado a dar a volta foram preciosos para Hitler e uma catástrofe para o povo russo e outros povos.
2. Recorrendo sempre a declarações de anti-comunistas e outros críticos de Stalin, Losurdo desmonta o palavreado com que Krustchev se referiu a Stalin: indivíduo desprezível, que desenhava as frentes de batalha num globo escolar, que desempenhou um papel insignificante na guerra, responsável por crimes hediondos.
3. Retendo-se na paz de Brest-Litovski (assinada pela Rússia com o III Reich para melhor se preparar para a guerra) Losurdo cita vários documentos e historiadores que confirmam a existência de um golpe em preparação para matar Stalin, que envolvia entre outros Trotsky e Bukharine. E sublinha que, depois da 1ª guerra e da guerra civil, a Rússia Soviética assiste ao desenvolvimento de um conflito ideológico muitíssimo agreste que quase se transformou noutra guerra civil - que Trotsky considerava inevitável contra Stalin. Sublinhando, porém, que "o choque entre Stalin e Trotsky é um conflito não apenas entre dois programas políticos, mas também entre dois princípios de legitimação". Para o autor, desgraçadamente, tanto Stalin como Trotsky compartilham a mesma pobreza ideológica e, desconsiderando a categortia de contradição objectiva avançada por Hegel e Marx, e dos conflitos que nessa base se desenvolvem, ambos se limitam a trocas de acusações de "traição".
Mas, aconselho a ler o livro, por enquanto só em tradução brasileira e ao preço de 20 euros.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
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5 comentários:
Do que conheço, do que li sobre este tema concordo com o autor quando defende que "... tanto Stalin como Trotsky compartilham a mesma pobreza ideológica e, desconsiderando a categoria de contradição objectiva avançada por Hegel e Marx, e dos conflitos que nessa base se desenvolvem, ambos se limitam a trocas de acusações de "traição".
Mas tens razão convém ler atentamente o livro.
Gabriela
Eu li o livro em 2008 quando saiu em Itália e já o voltei a ler depois disso. É um livro "au-dessus de la melée" que nada tem a ver com a imbecilidade universitária, o pensamento único, o socio moralismo do professor Porventura (de Susa Santos). Escoreito, denso, cheio de referências, algumas das quais também li, como as de Lacroix-Riz, o importante livro de Geoffrey Roberts "Stalin's Wars", os livros de Ian Kershaw sobre o comprometimento dos ingleses e americanos com os nazis e muito mais coisas, entre elas as memórias de alguns comandantes russos nada stalinistas como o Rokossovski, o Vatutin e o (precioso) Jukov. Pessoalmente, já nã tenho aciência para aturar imbecis que falam sem saberem nada, nada de nada.
Só uma coisa não entendi no livro: o pouco esclarecedor ensaio de Liciano Canfora, pensador que eu tanto admiro mas que aqui é pouco claro.
Parabéns pelo post
Luis Nogueira
http://resistir.info/russia/benediktov.html
Talvez seja util,ler este texto.
Desculpa, António, por alguns erros ortográficos no meu dito acima. Foi a pressa de acudir a um assunto que normalmente não se discute, berra-se.
E o anónimo que fala da utilidade deste texto, tem razão. É mais que necessário, e o tempo, que nunca sobra para sermos lúcidos, urge.
Mais uma vez, um abraço e parabéns.
Luis Nogueira
Abreu, é possível informares em que livraria se pode comprar o livro, uma vez que é uma edição brasileira?
carlosvale2005@gmail.com
Um abraço.
Carlos Vale
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