quarta-feira, 15 de junho de 2011

Danny Glover: "se pensarmos que o sistema se vai modificar por si só..."

O actor norte-americano Danny Glover afirmou em Havana que a chegada ao poder de Barack Obama em nada mudou a marginalização sofrida por negros e latino-americanos nos Estados Unidos, agravada com a crise, segundo uma entrevista publicada nesta terça-feira.



"O facto de (os EUA) terem um presidente negro (...) não trouxe vantagem alguma para os afro-americanos. O certo é que negros e latinos são os sectores populacionais que sofrem mais rigorosamente o impacto da crise", declarou ao jornal oficial Granma.
"Falam que já estamos saindo dos piores momentos (...) estatísticas citam o fim da recessão e o início da recuperação. Mas estas estatísticas não chegam aos negros e latinos, cada vez mais pobres", ressaltou. O ator negro, 64 anos, estimou que "o problema está no mesmo sistema, criado sobre bases destrutivas", não apenas nos Estados Unidos, "mas em boa parte do planeta".

"Vivemos no meio de um esbanjamento material, que confunde o consumo com o bem-estar, a acumulação de recursos com sucesso. Sem pensar no dano que fazemos a nós mesmos", disse. "Devemos tomar consciência disso porque se continuarmos a acreditar que o sistema se vai emendar por si só e resolver estes problemas, estaremos a   enganarnos e a cair  numa armadilha", acrescentou.
O actor norte-americano, em Havana, considerou o resgate das contribuições da cultura africana para a humanidade como parte de "um grande projeto colectivo". "A nossa responsabilidade vai muito além de representar os afrodescendentes e defender os temas relacionados a eles. Mas também abordar a vida daqueles biliões que nós também representamos", afirmou Glover num seminário na capital cubana.
Na sua intervenção, o ator considerou necessário identificar projectos para resgatar as contribuições deixadas pela cultura africana aos países latino-americanos e do Caribe. "Estamos numa etapa na qual os afrodescendentes de todo o mundo estão visíveis. E é um grande projeto, não o projeto de um país individualmente, mas um projeto colectvo", destacou.
Glover ressaltou que a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) dedicou 2011 como o "Ano Internacional dos Afrodescendentes". Nos seis meses transcorridos desde então este é o primeiro evento do qual participa "que trata com seriedade deste tema", disse.
Desde sua chegada a Havana no final de semana passado, Glover e sua esposa, a intelectual brasileira Eliane Cavalleiro, visitaram vários projectos vinculados ao programa de cooperação da Unicef em Cuba.

Membro do Partido Comunista norte-americano, o actor de 63 anos visitou Cuba em várias oportunidades. A última havia sido em 2009 quando presidiu junto com Harry Belafonte à abertura do escritório da Mostra Itinerante de Cinema das Caraíbas.

Glover, revelado no filme "A cor púrpura" (1985) de Steven Spielberg, e famoso pelo eu papel com Mel Gibson em "Máquina mortífera" (1987), visita a ilha como Embaixador da Boa Vontade da UNICEF para participar no seminário "Cuba e os povos afrodescendentes da América.

1 comentário:

Fernando Torres disse...

E também no ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA de Fernando Meireles, baseado na obra de Saramago