Nos
últimos 15 anos, pelo menos 180 cidades de 35 países recuperaram o controlo dos
serviços públicos de água e saneamento privatizados, segundo revela um estudo
elaborado por três organizações internacionais (em anexo).
O
primeiro mapa global da remunicipalização da água, publicado em Novembro de
2014, vem confirmar a tendência de regresso ao poder público destes serviços
essenciais. Realizado conjuntamente pelo Instituto Transnacional (TNI), o
Observatório das Multinacionais e a Unidade de Pesquisa de Serviços Públicos
(PSIRU), o relatório destaca as grandes
cidades que remunicipalizaram estes serviços: Atlanta e Indianápolis (EUA)
Accra (Ghana), Almaty (Cazaquistão), Berlim (Alemanha), Buenos Aires
(Argentina), Budapeste (Hungria), Dar es Salaam (Tanzânia), Jakarta
(Indonésia), Kuala Lumpur (Malásia), Joanesburgo (África do Sul), La Paz
(Bolívia), Maputo (Moçambique) e Paris (França).
Inversamente,
no mesmo período, houve muito poucos casos de privatizações nas grandes
cidades, de que são exemplo a cidade de Nagpur (Índia), que teve grande
oposição e contestação, e de Jeddah (Arábia Saudita).
Nos
chamados países ricos o ritmo das remunicipalizações duplicou nos últimos cinco
anos, passando de 41 processos entre 2005 e 2009 para 81 entre 2010-2014.
Esta
tendência foi particularmente visível em França, onde se registaram 33 casos
desde 2010 contra apenas oito entre 2005 e 2009.
Os EUA foram o país com mais
remunicipalizações (59), seguindo-se a França (49), a Alemanha (12), Argentina
(4) e a Hungria e a África do Sul (3 cada).
As
razões que levaram à remunicipalização são semelhantes por todo o mundo:
desempenho medíocre das empresas privadas, sub-investimento, disputas sobre
custos operacionais e aumento de preços, aumento brutal de tarifas, dificuldade
em fiscalizar os operadores privados, falta de transparência financeira,
despedimentos e deficiente qualidade de serviço.
A
maioria das remunicipalizações ocorreu por rescisão dos contratos privados,
antes de o prazo expirar.
Vários
municípios tiveram de enfrentar duros contenciosos com os privados e pagar
avultadas indemnizações. Por exemplo, a cidade de Indianápolis foi obrigada a
pagar 29 milhões de dólares à multinacional francesa, Veolia, enquanto os
habitantes de Berlim tiveram de suportar elevados custos com a compra das
acções detidas por dois operadores privados.
Os
autores do estudo consideram que estes conflitos devem alertar os políticos que
ponderam a transferência da gestão da água para o sector privado, sublinhando
que «a privatização, seja sob que forma for, ao invés de trazer a prometida
gestão eficiente e inovação, tem produzido sistematicamente efeitos negativos a
longo prazo para as comunidades locais e os seus governos».
Eliminando
a lógica de maximização do lucro, imperativa na gestão privada, a gestão pública melhora o acesso e a
qualidade dos serviços de água, constata o relatório, referindo exemplos tão
diversos como o de Paris, Arenys de Munt (Espanha) e Almaty.
Por
outro lado, a gestão pública permitiu aumentar significativamente o
investimento, como é o caso de Grenoble (França), Buenos Aires e Arenys de
Munt, onde o sistema tarifário foi revisto de forma a garantir o acesso à água
às famílias com rendimentos mais baixos.
Por
iniciativa do STAL e da campanha «Água de todos», o relatório já se encontra
traduzido em português e pode ser consultado na íntegra em www.aguadetodos.com.
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