domingo, 26 de outubro de 2014

Forças e interesses em conflito na desestruturação do Médio Oriente

O professor José Manuel Anes disse há dias, num jantar/ tertúlia na Mesquita Central de Lisboa, que o Califado está a instituir no seu território padrões de vida importantes. Mas não há imagens nem reportagens que o demonstrem. A desconfiança em relação ao Islão no Ocidente, o ganhar-se muito dinheiro nas fileiras do EI, serão alguns dos factores que mobilizam jovens europeus a juntarem-se aos jihadistas. Referiu pormenorizadamente à unidade o número de terroristas vindos de dezenas de países, informação dos serviços secretos (de quem?), que teria feito inveja ao ministro
No mesmo evento, a jornalista Cândida Pinto disse que era difícil aos jornalistas terem acesso aos territórios dominados pelo EI. Mas se a vida lá é promissora porquê tais dificuldades de acesso dos jornalistas? Os jornalistas não têm feito reportagens sobre ataques feitos pelos EI, incorporados nas tropas deste? Só a CNN tem a exclusividade? Ou será que nos têm estado apenas a servir vídeos feitos algures, sabe-se lá onde?

Também não vimos imagens dos cerca de 500 mortos feitos pela aviação norte-americana. A contabilidade dos mortos, feita pelo Observatório Sírio dos Direitos do Homem (um dos organismos dirigidos pela CIA para o combate contra Assad e o seu país) é impecável mas…onde estão eles? Como é isso compatível com a progressão na Síria do EI ?
A única coisa que parece real é serem as milícias curdas (peshmergas) a combaterem na Síria para evitarem a tomada pelo EI da cidade síria de Kobani, que, a realizar-se seria seguida da chacina dos derrotados (militares mas também civis).
Progressão em que os EUA estão mais interessados, porque não conseguiram que o Ibrahim do Exército Sírio de Libertação, travestido agora no Ibrahim do EI, não conseguiu atingir esse objectivo ao longo de muitos meses de destruição e morte.

Na cobertura pelo Público no passado dia 23 sobre esta tertúlia, o jornal entendeu omitir a minha intervenção nela. Passe a imodéstia, mas creio ter contribuído para uma discussão mais objectiva e não tão nebulosa como a feita pelos dois oradores anunciados. Falei sobre o que é o EI, a evolução na sua composição interna, a perda de referências islâmicas, a reconfiguração de diferentes grupo jihadistas de acordo com a situação em que operam, desde a guerra do Afeganistão, sobre a responsabilidade dos EUA nesta “guerra”, sobre as consequências que poderá ter para os países produtores de petróleo da região a queda abrupta do dólar decidida pelos States com apoio da Arábia Saudita.

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