domingo, 18 de setembro de 2011

Meu amor, já amanhece

O entardecer era um momento mágico daquele dia de verão. Tu lias e eu parara  para ver a mutação de cores no horizonte. Toquei-te e, de mão dada, ficamos suspensos no olhar e na orla vermelha do Sol que que fugia como areia entre os dedos das mãos. Tudo pareceu ficar um pouco sem jeito, como se se procurasse um novo equilíbrio.

Fui-te buscar uma água e relemos os cabeçalhos. Tudo parecia louco e inverosímil, monocórdico e falso à luz de um suposto senso comum que esmagava a dissidência. Quase parecia que as alavancas dos braços das mulheres e homens do país se transformara, sabe-se lá porquê, na alavancagem dos bancos na voragem dos mercados deste nosso descontentamento.

Amor,  querem tirar-nos a linguagem dos afectos e tornar a felicidade proscrita. Mas o nosso amor é mais forte, como fortes serão os laços dos que já se revoltam e partiremos em busca da liberdade, dos direitos e das vidas que construímos. Nos campos continuarão a lavrar-se a nossa dignidade e autonomia. Nas fábricas será produzido o que precisamos e para vender e trocar com outros. Os barcos voltarão a pescar o que é nosso e seremos mais autosuficientes.

Basta do caminho cruel, do sistema iníquo, das pretensas inevitabilidades. Vamos reencontrar-nos, nas ruas e praças da revolução.
Agora é tempo de amar e de lutar, de reconstruir as nossas raízes, de dizer o que queremos porque o podemos fazer. Já começou o amanhecer. Vem, meu amor.

2 comentários:

José Martins Raposo disse...

Um belíssimo "poema" de amor!

Jorge disse...

Bonita surpresa!