Ontem, após 6 anos da mesma política, acelerada dia após dia, Sócrates foi derrotado.
Na completa negação da realidade que essa política provocou, Sócrates e essa política afundaram-se.
Não, não nego que isso é acompanhado por um governo de direita que está em constituição. E quew isso comporta perigos elevados.
Mas importa sublinhar que, se esse ponto final acabou por acontecer, isso se deveu a que a resistência dos trabalhadores, dos agricultores, professores, de sectores importantes da chamada classe média não foi deixada apenas a debates parlamentares, debates televisivos entre comentadores, em geral pouco atreitos a lerem essa realidade, ficando-se pela frase feita, o remoque pessoal e os cenários pré-fabricados para as leituras de conveniência.
Foi nas ruas, nos protestos, nas propostas de política alternativa que quem lutou foi revelando. Se isso não tivesse existido a aspiração à mudança não seria tão forte.
Todos sabemos, da experiência da história, que isso não reverte automaticamente para um reforço global da esquerda. Há muitos condicionamentos ao voto que têm a ver com receios criados e infundados e com um controle dos conteúdos mediáticos em que nos movemos - com algumas importantes excepções mas de eficácia desproporcionada.
As pretensas responsabilidades da "extrema esquerda" pela derrota do PS, de que ontem ainda se ouviu arremedo por parte de alguns dirigentes seus, reflectem tão só a sua incapacidade auto-crítica. Como se a esquerda se tivesse que andar com Sócrates e a sua política ao colo por entender ele pertencer à "esquerda"... Ou a perfilhar disparates, não inocentes, como os os que Rui Tavares (euro deputado independente do BE, colunista do Publico) que hoje nos diz coisas como:
"Nada pode escamotear a dimensão desta derrota para a esquerda portuguesa (...) Só não sabemos responder a esta pergunta: onde falhámos nós (...)". Falhou quem: o colunista, a sua contemplação com Sócrates?
Manuel Alegre seguiu-lhe as pisadas, querendo diluir na "esquerda" a responsabilidade e consequências da política de direita dos dirigentes derrotados do PS.
À esquerda houve quem cumprisse as responsabilidades próprias de ser de esquerda: a CDU. Na rua, na batalha eleitoral e na percentagem eleitoral e mandatos. E é estranho que um analista, Raposo Antunes, no Publico avance na afirmação de que "De eleição em eleição, o PCP continua a segurar o eleitorado, sem se perceber muito bem como é possível que isso aconteça em pleno século XXI"(...) "Por estranho que isto possa parecer em 2011 num país da União Europeia"... Ó Sr. Raposo você não percebe. Pronto. Tem essa dificuldade. Veja lá se resolve isso...
Face à previsível constituição de um governo PSD/CDS, uma analista de direita, Helena Matos, refere, no mesmo jornal "(os homens da troika) foram os grandes vencedores da noite: 78,4% dos eleitores votaram nos partidos que assinaram o memorando". Ela deve saber que tal matéria foi omitida na campanha eleitoral pela "nossa" outra troika. Porque não propõe a analista uma consulta popular, item por item das medidas assinadas?
Outra, Leonete Botelho, vai avançando que "Agora que o memorando da troika aponta para reformas que exigem mudança na lei fundamental, PSD e CDS poderão ser tentados a propor um texto que vá para além do necessário"...Alguém ouviu isto no decurso da campanha, que possa conferir legitimidade eleitoral a tal "tentação"?
Bom, a prosa vai longa.
Tentar vai a direita tentar muita coisa. Mas os portugueses não emigraram todos e vão estar atentos.
LIVRAI-NOS DELES
Há 1 dia
3 comentários:
Que oposião vai existir para contrapor esta maioria direita?
:((
Eng.ro, uma vitória de direita que envergonhará as nossas vidas... dias negros nos esperam.
Não é a primeira vez que isso ocorre em Portugal. As oposições existiram e, em articulação com movimentos sociais, as maiorias alteraram-se. É certo que não foi a esquerda a beneficiar disso. O PS cavalgou esse descontentamento e fez a mesma política.
É melhor a mesma política ser feita por quem se reclama de "socialista", retirando crédito ao próprio conceito de "socialismo", do que ser feita por quem se assume como de "centro-direita"?
Eu não tenho vergonha por Sócrates ser derrotado. Estive do lado daqueles que lutaram contra ele. E só sinto honra nisso. Ele é que deveria ter vergonha de ter aberto o caminho à direita.
PSD e CDS/PP cavalgaram o descontentamento. O PS já o tinha feito.
Conhecemos os projectos de liquidação da democracia que a direita arrasta no seu baú das velharias e revanchismos da história, nomeadamente nas suas vertentes social e económica. Para parte dos quais precisa do concurso do PS para maiorias de 2/3...
Vergonha teriamos nós se víssemos como aterradora esta maioria dos partidos da troika e baixássemos os braços. Vergonha teríamos se os nosso filhos nos dissessem que não lutamos por eles e pelos avós deles.
Alexandre, deixe pousar a poeira de domingo e preparemos o que há que ser feito...
Obrigado pelo seu esclarecimento, mais ponto de vista, Antonio Abreu, e, a mesma " não vergonha" é-nos comum...
Mas serão os nossos filhos que irão mudar algo que surgirá de novo,que pouco terá a ver com o que temos andado a fabricar para eles, nós os da esquerda e os da direita vencedora.
O Homem Novo, vai surgir por uma outra via, quero acreditar...
Boa noite...
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