sábado, 8 de outubro de 2011

Da violência

Governo, dirigentes da polícia e media decidiram criar uma onda de discussão sobre a prevenção e combate à "violência social". À sua maneira, Mário Soares, com créditos de muitos anos na prestidigitação da mesma, já estava nessa onda há muitos meses, a propósito da crise do capitalismo.

Comecemos por entender que nem de toda a violência eles falam.

Não falam da violência do desemprego e da falta de meios de sobrevivencia. Que, em si mesmos, retiram qualquer conteúdo ao facto de se dizer que o "nosso país tem liberdades" ou que vivemos em "regime democrático". Que liberdades restam a estes nossos concidadãos? Ir votar porque "é muito importante"? Resta a liberdade de lutar para recuperar liberdades perdidas, se o desespero, a falta de esperança, as depressões ainda lhe não retiraram a força anímica.
Para isso tem contribuído a luta política e sindical. Que não lutam por causas perdidas já que é a condição humana que os move.

Comer mal ou não comer, não poder mandar os filhos à escola, ficar em casa para não revelar situações de carência, perder a casa por não poder pagar ao banco, retirarem-lhe apoios sociais, que só uma minoria usaria indevidamente, confrontar-se com os aumentos de transportes e de taxas moderadoras, não poderem recorrer à justiça devido aos custos crescentes dela e à impossibilidade de se servirem de práticas dilatórias que só os ricos podem pagar, serem desapossados dos meios de realização e fruição culturais.

E ainda terem sido vítimas de terem sido atraídos para todo os tipos de créditos e de facilidades em os obter. E ainda terem de ouvir, em jeito de acusação, de "terem vivido acima das suas possibilidades" pelos reguladores da actividade bancária ou, em jeito de ameaça, de serem vítimas da violência policial quando crescem os protestos sociais e a polícia não tem recursos para cumprir com a sua tarefa básica que é a segurança dos cidadãos...

Estas são, sim, as causas perdidas dos predadores, dos grandes ladrões, das criaturas saprófitas do carácter social do Estado.

Quem vive sujeito a tais violências é livre?
O regime em que vive é democrático? E não pode e deve procurar alternativas para si, para os seus e para todos nós?

Quem é violento é ou não, ainda, quem o quer convencer que não há alternativas?

A violência de que falam é a que ameaçam exercer. Não porque se vislumbre argumentos da realidade para a ela recorrer. Fazem-no como ameaça. Para criar medo. Para funcionar como intimidação contra o espírito de revolta que cresce e continuará a crescer porque novas medidas graves decorrerão neste e no ano que se segue. O recurso à violência do poder poria em causa, a prazo, a sua própria existência. Não esperem que este povo se dobre. Ele vai resistir.

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