segunda-feira, 30 de junho de 2008

Sindicatos das forças policiais decidem hoje formas de protesto




Representantes de cinco sindicatos policiais reúnem-se hoje em Lisboa para decidir formas de luta a empreender contra o Governo. Os polícias querem a reposição dos direitos perdidos na assistência à saúde e na aposentação, para além de exigirem a melhoria geral das condições de trabalho e o final dos processos disciplinares a todos os sindicalistas que, no âmbito das suas funções, criticam os respectivos comandos ou tutelas.


Associações da agricultura protestam quarta-feira em Chaves


Segundo a Lusa, estruturas ligadas à agricultura transmontana organizam, quarta-feira em Chaves, uma concentração de agricultores e máquinas agrícolas sobretudo contra o aumento dos combustíveis e para reivindicar medidas compensatórias para atenuar os custos dos factores de produção.


Juntam-se ao protesto os produtores de leite, de carne, de batata, entre outros.


A grande reivindicação passa pela criação, por parte do Governo, de medidas de compensação para atenuar os sucessivos aumentos dos combustíveis, à semelhança do que aconteceu com sector das pescas


Os agricultores reivindicam também medidas económicas e financeiras que façam baixar outros factores de produção, como os adubos, as rações e as sementes, a reposição da ajuda à electricidade verde para uso agrícola e o escoamento a preços justos para os principais produtos agrícolas.


Pedem ainda um sistema de segurança social escalonado em função do rendimento das explorações, o pagamento de todas as ajudas comunitárias aos agricultores e às associações de agricultores, a alteração das medidas agroambientais, previstas no PRODER, repondo de novo os sistemas policulturais, lameiros e o olival tradicional.

Outras informações www.cna.pt.

domingo, 29 de junho de 2008

Competitividade, produtividade multifactorial e desindustrialização, em estudo de Eugénio Rosa

Eugénio Rosa tem vários estudos seus publicados em http://www.pcp.lisboa.pt/.

No intróito deste, publicado ontem, explica aos leitores dois aspectos que foram ocultados quando da apresentação do relatório da OCDE sobre Portugal referente a 2008 pelo secretário-geral deste organismo no discurso de apresentação que fez, em que esteve presente o ministro das Finanças, e que também foram ignorados pela generalidade dos media que trataram desta matéria, mas que merecem, a meu ver, uma atenção especial pois constituem algumas das causas mais importantes da baixa produtividade e competitividade da economia portuguesa.

Esses aspectos são nomeadamente o "crescimento negativo" da produtividade multifactorial registado nos últimos anos e a desindustrialização que se tem verificado em Portugal

São precisamente estes dois aspectos que analisa neste estudo assim como a
redução da despesa com o subsidio de desemprego em -14%; o aumento em +99% do saldo global da Segurança Social; a utilização do excedente assim criado para baixar a taxa de contribuição das empresas para a Segurança Social
e para multiplicar de isenções, resultante do acordo assinado pelo governo,
pelas associações patronais e pela UGT sobre a revisão do Código do
Trabalho, tudo isto feito à custa da Segurança Social.

Publicamos de seguida o resumo deste estudo.




A OCDE apresentou em Lisboa o seu relatório sobre Portugal referente a 2008. Na intervenção feita pelo seu secretário-geral, este substituiu a credibilidade técnica que esta organização pretendia ter, por uma defesa do neoliberalismo, defendendo que a redução do défice orçamental no nosso País devia continuar sem olhar às consequências, e que era necessário uma maior flexibilidade das leis do trabalho (leia-se precariedade) para aumentar a competitividade e assegurar, desta forma, o crescimento económico. E quando confrontado com a debilidade de tal argumento afirmou textualmente o seguinte: “Não interessam os resultados das reformas que o governo português está a fazer, o que é importante é fazer reformas, pois a mensagem de que isso é possível em Portugal é muito importante para os agentes económicos”. No entanto, os dados constantes do próprio relatório da OCDE desmentem as afirmações do seu secretário-geral.



O crescimento económico num país depende do aumento da produtividade. Normalmente fala-se apenas da produtividade do trabalho, procurando desta forma culpabilizar os trabalhadores pelo baixo crescimento económico. Segundo o relatório da OCDE, a produtividade do trabalho cresceu a uma taxa de 3,6% ao ano no período 1985-2000, e de 1,2% ao ano no período 2000-2005. Mas a chamada produtividade multifactorial registou em Portugal um “crescimento” negativo entre 2000-2005.. A produtividade multifactorial é a produtividade conjunta de todos os factores de produção (trabalho, capital, etc.) que revela a eficiência/ineficiência como esses factores são utilizados. E como revelam os dados constantes do relatório da OCDE, no período 2000-2005, a produtividade multifactorial teve um “crescimento negativo” de -0,5% ao ano em Portugal. Portanto, mais grave do que a chamada “rigidez” das relações laborais em Portugal, é a ineficiente utilização de todos os recursos que as empresas possuem, consequência da falta de capacidade de organização e de gestão dos empresários portugueses. Mas o governo, os patrões, e também o secretário-geral da OCDE ocultam este grave problema fruto da incompetência dos patrões.



O relatório da OCDE vem agora também reconhecer que a desindustrialização verificada em Portugal é uma das causas da baixa produtividade portuguesa. E isto porque a contribuição por trabalhador da industria para a produtividade total é superior à dos serviços, e com a desindustrialização o emprego na industria diminuiu tendo aumentado nos serviços, o que provocou a descida média na produtividade do trabalho em Portugal. A culpabilização dos trabalhadores pela baixa produtividade em Portugal é assim também desmentida pelos próprios dados contidos no relatório da OCDE sobre Portugal.



O governo pretende flexibilizar do emprego aumentando a insegurança dos trabalhadores.Com esse objectivo assinou um acordo com os patrões e a UGT para alterar o Código do Trabalho. No entanto, continua a reduzir o apoio aos desempregados. Só nos cinco primeiros meses de 2008 a despesa com subsidio de desemprego diminuiu em 106,1 milhões (-14%) relativamente a igual período de 2007 , o que dá uma redução média de 21,2 milhões de euros por mês. O valor médio actual do subsidio de desemprego ronda os 500 euros por beneficiário e por mês. Se dividirmos aquela “poupança” de 21,2 milhões de euros por mês por 500 euros por mês, conclui-se que cerca de 42.400 desempregados deixaram de receber subsidio de desemprego. Entre Janeiro e Junho de 2007, o numero de desempregados a receber subsidio de desemprego baixou de 295.145 para 263.581, ou seja, diminuiu em 31.564. É evidente que em 2008 este número é ainda mais baixo, devido à redução de 42.400 referida anteriormente. A diminuição da despesa com desempregados e a redução do valor das pensões, consequência da alteração da formula de cálculo das pensões imposta pelo governo de Sócrates determinou que, entre 2007 e 2008, e só referente aos 5 primeiros meses do ano, o saldo global da Segurança Social tenha passado de 781 milhões de euros para 1.566 milhões de euros, ou seja registou um aumento de 99,2%. Com este excedente criado à custa dos desempregados e do reformados o governo de Sócrates tenciona reduzir as contribuições dos patrões (baixando a taxa e multiplicando as isenções) para a Segurança Social, o que não vai reduzir a precariedade (esta é uma consequência da “empresa flexível” defendida pelos patrões) nem aumentar o emprego (este depende do crescimento económico) mas apenas reduzir os encargos das empresas à custa da Segurança Social. .


sábado, 28 de junho de 2008

Férias, finalmente...


"Ribeirinha", por jorge (*)

Como introdução ao tema, veja-se o belo "Retrato da frente ribeirinha de Lisboa" . São 19 km de um espaço público excepcional, do povo de Lisboa tão perto e dele também tão afastado.
Há agora finalmente um projecto global para sua "reabilitação". Tanto pela dimensão, como pelo investimento e interesses envolvidos (seria o Dr. Júdice um filantropo?), o seu nome faz sorrir: "frente ribeirinha", cândido diminutivo para os muitos milhões dos grandes projectos residenciais envolvidos e para o negócio de privatização do património público que se prepara...

(*) O jorge, cuja chegada saudo, é professor do ensino superior e também vai colaborar no antreus.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

O PCN (maoista) do Nepal forma governo


O primeiro-ministro do Partido do Congresso, Koirala, de 83 anos antigo sindicalista e resistente, que ainda se mantinha em funções depois das eleições terem dado a maioria absoluta ao PCN(m), demitiu-se esta semana na sequência da insistência deste partido em não atrasar e não perturbar a formação do novo governo.

Nos útimos dois anos verificaram-se rápidas mudanças no Nepal com a transformação em partido político da guerrilha maoista, de grande implantação popular, dirigido por outro histórico, Pachandra, que ganhou as eleições de Abril para a Assembleia Constituinte, a abolição da monarquia e a implantação da República em Maio.

A demissão de Koirala verificou-se depois do PCN(m) ter convocado manifestações em todo o país em apoio dos seus direitos resultantes das eleições e em prol da integração dos ex-guerrilheiros nas Forças Armadas do país.


Os cartoons de Monginho

in Avante!

Organizações ambientalistas desconfiam da fusão de sistemas de tratamento dos RS da Valor Sul e Resioteste


Organizações ambientalistas de Loures manifestaram há dias apreensões quanto ao secretismo em que está a decorrer, sob a égide do governo, o processo de fusão dos dois sistemas de tratamento de resíduos sólidos.

Tanto mais quanto, segundo afirmam, os estudos em que o processo assenta lhes merecem sérias reservas.

Pelo que se questionam se o que está a comandar o processo não será a abertura de nova queima de resíduos na incineradora da Valorsul, em S. João da Talha, e não ganhos ambientais como as recolhas selectivas e o seu encaminhamento para as fileiras de reciclagem respectivas.

Referem que o engodo de um abaixamento de preços poderá resultar de preços subsidiados que desapareceriam após o primeiro ano de laboração.

A taxa de rec iclagem continuaria nos escassos 15 % actuais, a lógica continuaria a ser "queimar/ enterrar" e por isso as organizações designam este processo como uma "montanha econóomica e accionista que vai parir um rato ambiental".

Importam pois esclarercimentos, consulta autárquica dos documentos, debate público e a definição de eventuais alternativas mais favoráveis ao ambiente.

Uma visita ao Brasil em entrevista a Jerónimo de Sousa, no Avante!


Jerónimo de Sousa, em entrevista ao Avante! de ontem, relata a experiência desta visita, a convite do PC do B, em que o PCP contactou a Presidência do Brasil, a Câmara dos Deputados, o Senado e as organizações que apoiam o governo de Lula.

Nela o secretário-geral do PCP faz uma avaliação do governo de Lula, refere-se à participação do PC do B no governo com a manutenção da sua independência política, as relações fraternas entre o Brasil e Cuba e o incómodo que disso resulta para a administração Bush, alguns aspectos distintivos da social-democracia na Europa e na América Latina e ao papel das personalidades nestes processos de democratização na América Latina bem como à necessidade de partidos comunistas fortes.

Uma entrevista a não perder.

Carvão de Almada Negreiros


quinta-feira, 26 de junho de 2008

Plano de Emergência do PCP: Afinal há propostas e sempre as houve


O PCP propõe hoje no Parlamento no Parlamento um conjunto de medidas destinadasa satisfazer necessidades prementes e inadiáveis copm efeitos imediatos nas condições de vida da populaçãso e da economia.
As bancadas parlamentares irão debater diplomas que os comunistas apresentam na forma de projectos de resolução e de lei.
Os diplomas abrangem


7 medidas inadiáveis


1 Aumento geral dos salários, designadamente do salário mínimo nacional, que inclua um aumento intercalar para os trabalhadores da administração pública, correspondente à recuperação da perda de poder de compra ocorrida este ano, de acordo aliás com as promessas do Primeiro-ministro.

2 Aumento extraordinário das pensões por forma a que as pensões mais baixas progridam em 2008 pelo menos 4% e as intermédias acompanhem o aumento previsível da inflação.

3 Alteração dos critérios para a atribuição do subsídio de desemprego no sentido de reverter a restrição imposta pelo Governo, que está a vedar à maioria dos desempregados o acesso ao respectivo subsídio.

4 Aplicação de medidas com vista à diminuição dos preços dos combustíveis, designadamente através da criação de um imposto sobre os lucros especulativos das petrolíferas, destinado primordialmente ao apoio a importantes sectores económicos especialmente penalizados por estes aumentos.

5 Garantia do congelamento dos preços dos títulos de transporte, para além dos passes sociais, através da concretização da utilização do gasóleo profissional anunciada pelo Governo e que tarda a concretizar-se.

6 Estabelecimento de um preço máximo para 2008 num conjunto de bens essenciais básicos alimentares e de higiene.

7 Contenção do aumento custo dos empréstimos actualmente existentes à habitação através da orientação accionista do Estado para a Caixa Geral de Depósitos no sentido de praticar um spread máximo de 0,5% nos empréstimos à habitação, com o consequente efeito de arrastamento no mercado, equacionando igualmente o eventual recurso a medidas de apoio ao nível do endividamento das famílias com mais baixos recursos.

diplomas abrangem

Nos cem anos de Salvador Allende


Não pretendo generalizar neste blog as efemérides. Sairão ao ritmo das memórias que me são gratas, tristes como esta mas sempre com a componente de grandeza, dos que assumiram actos de heroísmo em períodos heróicos da marcha marcha dos povos.
A tragédia do Chile tem um carrasco visível e a CIA a organizar o golpe. A mesma CIA que desencadeou uma década depois uma campanha de direitos humanos.


"Não vou renunciar. Colocado no caminho da História pagarei com minha vida a lealdade do povo. E digo que tenho certeza de que a semente que deixamos na consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser ceifada definitivamente. Eles têm a força, poderão submeter-nos, porém não deterão os processos sociais nem com crimes nem com a força. A história é nossa e é feita pelo povo".


Passagem da última comunicação de Salvador Allende ao país transmitidas pela Rádio Magallanes durante o bombardeamento do Palácio de La Moneda, em 11 de Setembro de 1973


quarta-feira, 25 de junho de 2008

sábado, 28, acção geral de protesto e luta




Presidente cessante do Uruguai tenta imunidade parlamentar contra corrupção de que é acusado

Nicanor Duarte, presidente cessante que perdeu as últimas eleições para o candidato da esquerda Fernando Lugo, apresentou a demissão antes da tomada de posse de Lugo em 15 de Agosto, que então formará novo governo.
A oposição vencedora, e mesmo outros partidos e membros destacados do seu partido (colorado), vêem nesta atitude, a tentativa de regressar ao Parlamento como senador efectivo para poder beneficiar da imunidade parlamentar para as acusações que sobre ele pendem.

Questão de respeito, segundo Alacant (*)

Do mês que está a acabar seleccionamos a manif de 5 de Junho.

Não queremos que o 1º ministro tenha medo dos milhares de manifestantes que saíram à rua no dia 5 de Junho, (eco International pois estava fora do país) mas que lhes deve respeito isso deve e é o mínimo que se lhe pode EXIGIR.


RESPEITO por quem não tem EMPREGO e por consequência, HABITAÇÂO, SAÚDE, EDUCAÇÂO que é o básico para se viver com dignidade.


Saberá o 1º ministro o que significa a frase VIVER COM DIGNIDADE???

Há bons explicadores por aí e com falta de trabalho.


Respeitosamente

Alacant



(*) Casal amigo que nos passa a fazer companhia. Sejam bem-vindos

Crise social e palhaçadas...



A revisão do Código do Trabalho e a atitude para com os agricultores são uma palhaçada...
Não daquelas que fazem sorrir e pôr bem disposto mas das que revelam o desplante e a má formação feitos valores oficiais para encarar a chamada concertação.

Que me desculpem, os palhaços da foto...

Fazer passar a revisão do código com a matreirice de retirar uma cáusula, deixando a gravidade das outras, para transmitir a idéia que a UGT conseguiu isso é um rançoso recurso "negocial" do faz de conta muito baixo. Ainda por cima com coisas de afogadilho que não permitem um estudo adequado como os novos documentos distribuídos num dia para a reunião seguinte ou a fusão do código com o respectivo regulamento, em jeito de copy and paste...

O mesmo se diz dos impropérios e más disposições do ministro da agricultura para com os agricultores, como se estes fossem uns malandros que só querem subsídios...para produzir. Mas o que é certo é que o ministro e a nomenklatura de Bruxelas se fartaram de dar subsídios para liquidar a nossa produção agrícola ou cingi-la a quotas. E agora quando se esgotam as nossas reservas alimentares e se revela a importância de corrigir drasticamente o nosso déficite alimentar, nada é mais importante que esta cruzada contra os agricultores.

Sim, palhaçadas...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Zona ribeirinha, por salpicodomar (*)

A intervenção é necessária. O projecto em concreto ainda não o conheço. Por isso, vou tecer sobretudo algumas considerações gerais.

Desde há alguns anos, é apregoada como palavra de ordem “Devolver o Tejo aos lisboetas” que, parecendo simpática à primeira vista, encerra no entanto muitos equívocos. O maior deles é considerar que o Tejo foi roubado aos lisboetas por uma entidade, Porto de Lisboa, cuja designação institucional tem variado ao longo do tempo e que agora se chama APL- Administração do Porto de Lisboa. Em contrapartida, essa devolução do rio aos cidadãos deveria corresponder à criação de zonas de lazer em toda a margem norte desde Algés até à foz do Trancão.



Esta visão comporta por um lado um erro histórico: a margem norte do Tejo antes da construção das infra-estruturas portuárias era em grande parte uma lixeira. A regularização das margens pelas obras portuárias teve um aspecto de dar uma cara mais lavada à frente ribeirinha.


Por outro lado, a compreensão pelos cidadãos de Lisboa — e de outras urbes ribeirinhas, Almada, Seixal, Barreiro, Montijo, Alcochete, ... ou mesmo de Portugal no seu todo — da grande riqueza que é possuirmos um porto natural com a amplidão do estuário do Tejo, deve fazer parte da sua cultura de cidadania. Propostas sobre o aproveitamento das zonas ribeirinhas do Tejo que tenham em conta apenas a vertente de lazer e abdiquem de uma actividade económica como a portuária, são uma má oferta para os lisboetas e para o país.



Acho inclusivé que a actividade portuária, à parte os aspectos relacionados com a segurança, necessária tanto no manuseamento de cargas como noutras vertentes como prevenção de criminalidade e terrorismo, comporta em si algo interessante para observação, tanto nos grandes navios de cruzeiro como nos porta-contentores. Barcelona, Marselha, o Pireu, Hamburgo são exemplos de cidades onde parte da actividade portuária é valorizada como uma atracção.


Se devido ao desenvolvimento tecnológico, parte da área afecta à actividade portuária se encontra devoluta, é lógico que não seja a entidade administradora do Porto a decidir do seu futuro. Câmara e Governo, resultantes de processos de eleição popular, têm legitimidade, mas a intervenção dos cidadãos não se esgota (não deve) nas urnas e é importante este debate.


Evidentemente que há projectos que podem ser considerados de “interesse económico” e que acho que são autênticos crimes não de lesa-majestade mas de lesa-público. À volta do Tejo, já vimos o de acabar com a Docapesca por causa da Copa América ou o de construção de arranha-céus nos antigos estaleiros da Margueira.


Nestas grandes tentações, julgo que a nossa autarquia não cairá. Pode é haver a tentação deslizante ir abandonando uma concepção inicial mais ou menos equilibrada, para em nome de “sustentabilidade económica do projecto” fazer cedências a interesses privados. O Parque Expo hoje é já uma caricatura da “recuperação da zona oriental de Lisboa” que nos foi apresentada como o efeito da organização da Expo’98 e é um bom exemplo de quão necessária é a intervenção cívica.



(*) salpico do mar é um velho amigo do IST, de lutas conjuntas e desavindas, que aceitou colaborar no Antreus.


As nossas boas vindas e agradecimento.





Loures também (não) tem Tejo, por Rui Pinheiro (*)




Se é certo que o modelo económico-financeiro e de gestão territorial da EXPO-98/Parque das Nações suscitou as maiores dúvidas e reservas que o tempo se encarregou de confirmar como aspectos problemáticos e questionáveis, não é menos certo que a zona oriental de Lisboa e de Loures foram varridas por um vento de esperança e, porque não dizê-lo, de efectiva requalificação.



São agora vários os problemas emergentes, mas nada que não tenha (ainda) solução ou pelo menos, ainda se está a tempo de fazer muito melhor. A zona do Parque das Nações foi no passado e é hoje uma zona de fronteira entre Loures e Lisboa. Uma fronteira que precisa, em parte, ser acertada, negociada e definida, mas que inquestionavelmente ali se localiza. Loures e Lisboa estão portanto ali incontornavelmente juntos, associados, contínuos.



Os problemas foram no passado comuns. São comuns no presente em vários aspectos. Será portanto de admitir que as soluções a encontrar sejam também partilháveis e partilhadas.



Têm o Tejo em comum. Uma frente ribeirinha magnífica. Uma paisagem excelente sobre o riquíssimo estuário e a margem sul. Um potencial turístico invejável. Uma oportunidade incomparável de proporcionar às respectivas populações, às novas gerações, o usufruto e o deleite do acesso e partilha do Rio. Condições invejáveis para estabelecer ligações cicláveis e pedonais, corredores verdes, transportes públicos alternativos, acções conjuntas de valorização e protecção do Rio e do Estuário.



Têm para enfrentar os mesmos perigos, os mesmos desafios e as mesmas ameaças: as ocupações portuárias (nada que não se resolva com bom senso e equilíbrio) e a voracidade urbanística-armazenística que vem ocupando das piores formas possíveis todas as nesgas de terreno com o máximo de construção possível, com o máximo de ocupação possível. Enfim, têm para enfrentar o regresso a uma “nova” desqualificação, mais “limpa”, mais “disfarçada”, mas efectiva. Os muros de betão e de contentores estão já aí em todo o seu esplendor.



Dificilmente se percebe como é que o Governo assina um Protocolo com o Município de Lisboa para a frente ribeirinha de Lisboa e deixa de fora Loures e Vila Franca de Xira. Podia ser apenas falta de visão estratégica, mas suspeito que seja mais do que isso. Que interesses bem mais mesquinhos tenham presidido e orientem a iniciativa política. As embrulhadas são mais que muitas de que a recentíssima demissão do (até agora) providencial J. M. Júdice é apenas um episódio.



A concepção e gestão desse processo veio – quanto a mim – pôr em evidencia que: a) Não há visão estratégica no Governo; b) Outros interesses, que não os públicos e colectivos, são o substrato do Protocolo entre a Câmara de Lisboa e o Governo; c) António Costa confirma uma vez mais o que tenho dito a propósito da sua actividade autárquica: como autarca é medíocre; d) Com a actual gestão municipal em Loures, o Município não é levado a sério, não conta para nada e nem os colegas de partido no Governo e na Câmara se lembraram de contar com Loures para um processo de tanta importância para a área metropolitana de Lisboa norte; e) Loures, com esta gente, estará destinada a acolher na sua quota de frente ribeirinha as actividades que o Governo e Lisboa quiserem remover da Capital, para dar lugar aos condomínios de luxo a que apenas alguns (muito poucos) terão acesso.



Por isso, é indispensável lembrar que LOURES TAMBÉM TEJO.



(*) O Rui Pinheiro vai colaborar neste blog. Se o quiseres encontrar procura-o em http://www.foradocarreiro.blogspot.com/


Um amigo na campanha de Obama


O Sousa Marques continua a estar presente com a sua experiência de activista da campanha de Obama


6. POLITIZAR O MEDO



1. Charlie Black é o Director Estratégico da candidatura McCain (chief campaign strategist). À revista Fortune disse o seguinte: "Um ataque terrorista no solo americano representaria certamente uma grande vantagem para o candidato do Partido Republicano". Charlie Black é também um dos três membros do staff da candidatura de McCain que, no passado, estiveram ligados ao célebre caso Enron, uma empresa que faliu estrondosamente e que lesou muitos milhares de apostadores da Bolsa (muitos de vós lembram-se certamente dessa história).



2. Certamente disse o que pensava, dizendo no entanto o que nunca deveria dizer. Por aqui há uma expressão muito utilizada quando se fala de uma grande surpresa que é preparada para Outubro, umas semanas antes das eleições presidenciais (que, tradicionalmente, se realizam na primeira terça-feira de Novembro): "A primeira regra da Surpresa de Outubro é não falar da Surpresa de Outubro".



3. Charlie Black não se limitou a expressar esse pensamento. Explicou com o exemplo do atentado que levou à morte, no Paquistão, a candidata da oposição Benazir Bhutto. Também poderia ter falado do atentado de Madrid (10 bombas e 191 mortos), três dias antes das eleições gerais de 2004 em Espanha e que foi aproveitado pelo Primeiro-Ministro no poder, José María Aznar, para acusar a ETA, mesmo quando havia provas de que se tratava de um atentado terrorista não organizado pela ETA.



4. Quando um jornalista perguntou a McCain qual o significado das palavras do seu Director de campanha, respondeu: "Não posso imaginar porque terá dito isso. Não é verdade". Depois foi a vez de membros da candidatura afirmarem que o Sr. Black não se recordava de ter dito aquilo à Fortune. Mas o próprio Charlie Black veio, mais tarde, "lamentar profundamente os seus comentários". Como referiu o jornalista Keith Olberman (msnbc - Countdown): "Black lamenta profundamente ter dito aquilo que os seus colegas de campanha afirmaram que ele não se recordava de ter dito"!!!



5. Para lá da enormidade do erro e da brutalidade do disparate o que se torna claro é o seguinte:



a) Alguém (o director da candidatura, ainda por cima!) disse o que, dentro da própria candidatura e no meio dos "círculos geralmente mais bem informados", já se sabia que constava: um certo desejo que acontecesse qualquer coisa em Outubro, umas semanas ou uns dias antes de 4 de Novembro. Pela segunda vez (recorde-se o acidente de Hillary Clinton quando referiu o assassinato de Robert Kennedy para justificar a sua manutenção na campanha das Primárias até à Convenção Democrática de Agosto) se fala de "qualquer coisa que possa vir a acontecer" e que possa interferir na campanha eleitoral...



b) Em muitos países, é prática comum politizar as questões de segurança nacional. Por aqui, quem o costuma fazer é o Partido Republicano porque, de certa maneira, encarna a política crua e dura da chamada "defesa dos interesses americanos". A candidatura McCain limita-se a, sem imaginação, repetir velhos slogans. O drama para eles é que os americanos consideram que as questões mais importantes são a crise da economia, o fim (e não a continuação) da chamada guerra do Iraque, o problema da saúde, a crise da habitação, o desemprego. Só depois disso é que se preocupam com a segurança interna. Como é que os Republicanos conseguirão fazer com que este passe a ser o assunto que mais afecta os eleitores de Novembro?



c) A política do medo tem imperado, principalmente depois dos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001. À conta disso a administração Bush montou a campanha que permitiria a invasão do Iraque e a sua reeleição em 2004. Amedrontar os eleitores e condicionar-lhes o voto é uma estratégia muito bem sabida e aplicada e que, no passado, deu óptimos resultados para quem dela beneficia. Também não é novidade que é coisa sabida há muito e aplicada nos mais diversos países. Muitos outros exemplos se podem recordar. Lembro-me da história que a minha avó me contava dos tempos de Sidónio Pais. Uma certa noite bateram à porta uns senhores que perguntaram pelo meu bisavô. Ela disse que ele ainda não tinha chegado e que eles entrassem para o esperar. Foi o que fizeram. Passou tempo e nada. Eles estavam com pressa. Tinham outras missões para cumprir. À saída prometeram voltar. Depois de saírem e da minha avó ter a certeza que o pai poderia estar a salvo, informou-o (ele estava escondido lá em casa!) e permitiu que ele fugisse e andasse a monte para não ser apanhado. Foi assim que o velho maçon escapou à morte certa...



d) O "terrorismo", mesmo quando não actua, paira como uma ameaça. Para além disso, como prova de força e influência, pode ser utilizado para condicionar os cidadãos e os eleitores. As suas forças escondidas são aproveitadas pelos que, afinal, precisam dele para continuar a fazer o chorudo negócio da guerra. Uma simbiose a que é preciso pôr fim. Só possível se houver uma política global capaz de, para lá de o combater com eficácia, enfraquecer a sua base de apoio, que bebe, por sua vez, das injustiças que grassam pelo mundo, dos extremos de riqueza e miséria, da propagação da ignorância, dos mil e um graves problemas que permanecem



O cherne de papel mostra os dentes cariados...

União Europeia, sem tratado, aceita encargo dos EUA e aprova novas sanções contra o Irão.

O banco iraniano Melli foi impedido de operar na Europa, o que se esperava e o Irão teve tempo para pôr a salvo o que tinha na Europa. Está a ser elaborada lista de iranianos a quem vai ser impedida a entrada nos países da UE por estarem ligados a programas oficiais iranianos nucleares e balísticos.

Concertadamente, o governo israelita procedeu a exercícios militares prévios a um possível bombardeamento de instalações militares iranianos, como aqui referimos na semana passada.

O cherne de Bruxelas é cooperante. Desde a foto das Lages há uns anos atrás se percebeu que Durão Barroso era o homem certo para o lugar certo segundo Bush, Aznar e Blair.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

"Trabalhar" os exames para as estatísticas


Levantam-se as vozes entre docentes e suas organizações profissionais: a ministra estimulou a facilidade das provas de exame para apresentar estatísticas de resultados mais elevados.

Ora aí está como dar a volta por cima.

E depois? Logo se verá. Para já há é que obter resultados para agitar nas eleições.

Como é que ninguém se tinha ainda lembrado disto?

Os bonecos de Santo Aleixo


Títeres do Alentejo, de varão, de pequenas dimensões e manipulados por cima.

Criados no sec. XIX por um tal Nepumoceno que, fugido de um crime, se assentara em S. Romão (Vila Viçosa), perto da Fronteira, com a actividade de bonecreiro. O seu espólio chegou às mãos de Manuel Jaleca que manteve a actividade de bonecreiro e depois fez parceria com um camponês, dado ao improviso e cantador, António Talhinhas, que desenvolveu muito a actividade e manteve Jaleca como empregado. Isto nos anos trinta. A família Talhinhas foi sua proprietária e Michel Giacometti e Henrique Delgado divulgaram em 1967 ao país a sua existência. Só em 1978 se criaram as condições para a conservação e trabalhos sobre os Bonecos com a sua aquisição pela Assembleia Distrital de Évora.

Hoje propriedade do Centro Cultural de Évora, são manipulados por um grupo de profissionais e objecto de vários trabalhos de pesquisa.

domingo, 22 de junho de 2008

Os cadernos secretos do Prior do Crato, de Urbano Tavares Rodrigues

O Prior do Crato que Urbano reinventou escreveu estes "Cadernos". Diz o escritor:

"Admitamos que, sendo ele o sujeito da escrita, nessa convenção serei eu o destinador e o primeiro destinatário, a que se seguirão os leitores".


Nos "Cadernos" que assim escreveu, o personagem contador, D. António, revela-se como o lutador pelo trono depois do desastre da Alcácer Quibir. Que alguns patriotas, fidalgos e bispos proclamaram Rei, antes da invasão espanhola de Filipe II e do Duque de Alba, com o apoio de traidores das classes mais abastadas. Dando-nos conta das suas contradições, desde logo a sua capacidade de sedução de mulheres em todos os lados em que passou, no país e depois no exílio onde procurava juntar recursos para as tentativas que falharam de regressar a Portugal e escorraçar castelhanos e traidores. Contradições que resolvia no quadro duma relação muito pessoal que afirmava ter com Deus.

Os Cadernos Secretos do Prior do Crato
Publicações D. Quixote
2007
Preço 11,90 euros

Ser solidário

sábado, 21 de junho de 2008

Um homem nas presidenciais de 1958 - o nosso pai

A. H. S. Abreu, auto-retrato
Permitam-me que transcreva aqui artigo publicado no Militante de Set/Out de 1998, da autoria de meu pai, António Horácio Simões de Abreu.

Esta foi uma das muitas lutas e responsabilidades que teve ao longo da sua vida política.

1. Em finais de 1957 o Partido começou a encarar a actuação para aquelas eleições. Era necessário antes de mais encontrar um candidato que pudesse unir à sua volta todas as forças da oposição.
Depois de várias sugestões e tentativas considerou-se um convite ao engenheiro Cunha Leal. Para isso o camarada Gaspar Teixeira e eu próprio solicitámos-lhe uma entrevista, em nome do Partido, a que acedeu e onde expusemos o objectivo em vista. Cunha Leal ficou de pensar no assunto e aprazou-se nova entrevista. Acabou por aceitar em meados de Março e pouco depois começou a receber mensagens

de apoio de jovens, mulheres e trabalhadores de vários pontos do País.
Para alargar e reforçar esse apoio foi decidido realizar um jantar de homenagem que teve lugar no restaurante “Castanheira de Moura” (ao Lumiar), em que seria tornada pública a sua candidatura. De entre as várias intervenções e do discurso de aceitação de Cunha Leal, destacou-se a intervenção da escritora Natália Correia, declamando um poema dedicado à memória de Catarina Eufémia, que comoveu as centenas de participantes e foi coroada por uma vibrante ovação.
Daí em diante passei a manter um contacto regular com Cunha Leal que me recebia sempre com a maior cordialidade. Numa dessas entrevistas quis-me ler o esboço do Manifesto Eleitoral a dirigir ao povo português e perguntou-me se o teor e os termos do Manifesto mereceriam o acordo do Partido. Não tive dúvidas em responder afirmativamente.

2. A certa altura fomos confrontados com o anúncio da candidatura do general Humberto Delgado, feito no Porto, parecendo-nos que a iniciativa partira de António Sérgio. Cunha Leal logo me questionou sobre a atitude que o Partido iria tomar face a este novo e preocupante facto. Respondi-lhe, sem hesitações, que nunca poderíamos apoiar tal candidatura, dados os antecedentes bem conhecidos da vida política do general. Cunha Leal retorquiu humoradamente que a palavra “nunca” não devia ser pronunciada em questões de ordem política.
Algum tempo depois fomos surpreendidos pela notícia de que Cunha Leal fora internado no Hospital da CUF e que a gravidade da doença o obrigava a desistir da sua candidatura.
É claro que esta nova situação, inesperada, nos deixou deveras preocupados e logo o Partido teve de começar a pensar na escolha de um candidato substituto.
À volta de um grupo de democratas que habitualmente se reunia na “Seara Nova” surgiu a possibilidade do Dr. Arlindo Vicente. Tendo então sido resolvido colocar-lhe essa difícil tarefa, ele, abnegadamente, aceitou o encargo (20/4).
Apesar das inerentes dificuldades que iria ter de enfrentar esta candidatura, marcadamente de esquerda, a campanha rapidamente se desenvolveu com muito entusiasmo contando com grande apoio, sobretudo das camadas de trabalhadores, como era natural, através de concorridos comícios realizados no sul do País.
Sucedeu, porém, que a candidatura de Delgado galvanizou o País inteiro e que o comportamento público do general surpreendeu toda a oposição ao regime fascista, pela clareza, firmeza e frontalidade com que se ia pronunciando e não havia dúvidas de que o Partido não mais poderia deixar de reconhecer a justeza e a amplitude do movimento nacional por ele desencadeado.
Parece-nos que a pérfida e ignominosa ofensiva desencadeada pelo Governo contra o general e particularmente a brutal intervenção da PIDE e das outras forças policiais contra as suas deslocações e acções de campanha eleitoral, só resultaram na sua crescente firmeza e combatividade.

3. Face a esta nova situação, foi resolvido convocar para Beja, em 29 de Maio de 1958 (onde se iria realizar um comício de Arlindo Vicente), uma reunião nacional dos representantes das Comissões de Apoio dos vários pontos do País, para se considerar a possibilidade de negociar com o general Delgado um acordo político que pudesse gerar a fusão das duas candidaturas e lhe permitisse vir a representar toda a oposição nas eleições que se aproximavam.
Obtido o acordo de Arlindo Vicente e de todos os delegados presentes nessa reunião, telefonámos de Beja para o general, que nessa noite iria realizar um comício em Cacilhas (Almada), propondo-lhe um encontro, antes do comício, onde se pudesse obter um acordo nesse sentido e, se resultasse, seria anunciado publicamente no decorrer daquele comício.
É claro que Salazar ficou preocupadíssimo com a eventualidade desse acordo, que certamente iria desencadear uma onda de entusiasmo, imparável, em todo o País. E a PIDE, que deve ter escutado aquele telefonema feito de Beja, logo entrou em acção. O carro em que seguiam, com esse destino, Arlindo Vicente e eu próprio, conduzido pelo camarada Domingos Carvalho, ao fim dessa tarde, foi interceptado por uma brigada da PIDE chefiada pelo inspector Farinha, acompanhada por uma força da GNR, no ponto em que o trajecto se bifurcava em duas direcções (Cacilhas ou Vila Franca). Fomos intimados pela força a seguirmos rumo a Vila Franca.
Chegámos já noite à Sede da candidatura de Arlindo Vicente (no Bairro Social do Arco do Cego) e verificámos que as imediações estavam vigiadas por uma brigada da PIDE chefiada pelo inspector Porto Duarte. Esperámos ainda algum tempo que esta vigilância abrandasse e foi já muito tarde que, deitados no banco posterior do carro para não sermos vistos, conseguimos chegar à Estação do Sul e Sueste (Terreiro do Paço) (*).
Uma vez chegados ao local do comício que já estava prestes a terminar, subi à Academia Almadense, avistando-me com o capitão Carlos Vilhena e Rolão Preto que conseguiram avisar o general da nossa chegada. Verificada a impossibilidade de realizar ali mesmo o projectado encontro com o general, resolveu-se, por sugestão deste, que ele se realizasse em Lisboa na sua residência da Rua Filipe Folque.
Assim se procedeu, com a maior cordialidade, e foi já pelas 4 horas da madrugada (30 de Maio) que se obteve o desejado acordo, a anunciar no dia seguinte a todo o País.

4. Como era de esperar, daí em diante a campanha eleitoral redobrou de entusiasmo. É de salientar que os apoiantes iniciais de Arlindo Vicente e muito particularmente os membros do nosso Partido deram um importante contributo para a eficiência da actuação desenvolvida até ao dia das eleições.
Por essa altura, como a PIDE certamente verificaria a minha presença assídua e bastante activa na Sede do general (Avenida da Liberdade), aluguei um quarto para dormir (Rua Alexandre Braga), donde ia telefonando para minha casa, procurando evitar que a PIDE me prendesse antes do acto eleitoral.
Nas vésperas deste redigiu-se um Manifesto ao Povo Português, que seria assinado pelo general Delgado, por Arlindo Vicente, pelo professor Vieira de Almeida e por mim próprio, como representante da respectiva Comissão de Apoio, manifesto esse em que se apela va à participação massiva à boca das urnas e à vigilância destas face às habituais falcatruas dos agentes de Salazar. O Manifesto não chegou a sair, tendo sido assaltada pela PIDE a tipografia onde seria impresso.
Num desses dias dirigiu-se-me na Sede, já restabelecido, o Engenheiro Cunha Leal que humoradamente me observou o despropósito do termo “nunca” que eu havia pronunciado em sua casa aquando do anúncio da candidatura de Humberto Delgado.
Podemos afirmar que nos últimos dias da campanha eleitoral éramos praticamente nós, Arlindo Vicente, eu próprio e outros elementos da nossa candidatura, que mantínhamos o fun-cionamento da Sede, enfrentando o cerco e as violências da PIDE.

5. No próprio dia do acto eleitoral (domingo, 8 de Junho), ao encerrarmos a Sede, a PIDE esperava por mim à saída. Arlindo Vicente e uma senhora advogada, de Torres Vedras, cujo nome não me recordo, deram-me o braço, um de cada lado, e logo a brigada da PIDE procurou soltar-me, sem êxito, desse forte abraço. Assim fomos descendo a Avenida da Liberdade, aqueles amigos segurando-me fortemente e os agentes da PIDE puxando-me pelo casaco que chegaram a rasgar.
Próximo do cinema Condes, aproveitando uma distracção e a passagem de um táxi, eles conseguiram isolar-me para forçar a minha entrada nesse táxi. Subi ao estribo do carro e soltei um viva ao general Delgado, procurando atrair as pessoas que se aproximavam. Senti então no pescoço a pressão de uma pistola empunhada por um dos agentes. Os meus amigos conseguiram de novo dar-me os braços e a caminhada continuou até à esquina do Teatro Nacional (Rossio), onde nos esperava já o famigerado Seixas. Este ameaçou de prisão Arlindo Vicente e aquela senhora advogada, se não me largassem, e pouco depois era conduzido ao Aljube, onde permaneci cerca de 10 dias. Soube então que também o professor Vieira de Almeida tinha sido detido e encarcerado no Aljube (o pretexto destas prisões deve ter sido a assinatura do Manifesto acima referido).

6. Após a burla eleitoral e esse período de prisão, mantive contactos regulares, em nome do Partido, com o general, na sua própria residência, onde sempre me recebeu com toda a gentileza, originando mútua consideração e simpatia.
Efectivamente pensávamos que o general, pela conduta digna e vigorosa demonstrada ao longo da campanha, deveria tornar-se o polo aglutinador das forças da oposição até à insurreição nacional que deveria levar ao derrubamento do regime fascista.
Foi por isso que, na última visita aprazada a sua casa, quando a empregada que abriu a porta me informou de que o general havia pedido asilo à Embaixada do Brasil, fiquei surpreendido e seriamente preocupado.
É que a saída do País do general iria certamente enfraquecer o movimento que a campanha produziu. E estou pessoalmente convencido de que foram alguns elementos da oposição, tementes da confiança depositada pelo general no nosso Partido, que trabalharam de sapa para levar o general a tomar aquela inesperada decisão.
Além de prejudicar gravemente a actuação futura do movimento de oposição ao regime fascista, a deambulação do general, no exílio, ora aqui, ora ali, iria facilitar o aparecimento de intrigas políticas e permitir as manobras tenebrosas de Salazar e da PIDE. E de facto foi o que acabou por acontecer com o ardiloso e cobarde assassinato do general Delgado e da sua secretária, na emboscada que lhe montaram em Badajoz em 1965.
Não tivesse ele tomado a errada decisão de se exilar e pessoalmente estou convencido que o 25 de Abril teria sido antecipado de alguns anos.

(*) Meses mais tarde, ao recebermos no escritório de Arlindo Vicente um agente da PSP, agora colocado em serviço de Tribunais, este confidenciou-nos que fizera parte da força da PSP que esteve em serviço naquela estação, que tinha notado a nossa presença mas que fingira não nos ter visto...


Portugueses!

A Oposição Independente e a Oposição Democrática, representadas pelos seus candidatos à Presidência da República, senhor General Humberto Delgado e senhor Doutor Arlindo Vicente, em face da necessidade de estabelecer, nas urnas, uma unidade de acção contra o Governo da Ditadura, verificaram ser útil, e até decisivo, proceder imediatamente a tal unidade e, para isso, estabelecer a actuação comum nos seguintes termos que se comunicam à Nação:

As Candidaturas prosseguirão, a partir desta data, a trabalhar em conjunto, e no final, representadas nas urnas por um só Candidato, o General Humberto Delgado, que se compromete, por sua honra, e salvo caso de força maior, a tornar efectivo o exercício do voto até às urnas e estabelecer, em caso de êxito, o seguinte:

a) Condições imediatas de aplicação do Artº 8º da Constituição;
b) Exercício de uma Lei Eleiroal honesta;
c) Realização de eleições livres até um ano após a constituição do seu Governo;
d) Liberdade dos presos políticos e sociais;
e) Medidas imediatas tendentes à democratização do País.

Viva Portugal!
Viva a Liberdade!

Lisboa, 30 de Maio de 1958

aa. Humberto Delgado
Arlindo Vicente

Israel e os EUA preparam ataque ao Irão


O governo de Israel, com a anuência dos EUA, realizou nos últimos dias ensaios militares que visam, entre outros, objectivos nucleares no Irão.

Em final de mandato, Bush pretende criar um facto político mandando Israel ameaçar, depois das ameaças recentes que, ele próprio, fez.

Ensandeceram. Nova ameaça para a paz.

Ibsen pelo Berliner Ensemble no Festival de Teatro de Almada

Quando foi escrito, o Peer Gynt de Ibsen não era para ser representado. À superfície este texto aparenta ser um poema épico baseado em lendas folclóricas. Mas a um nível mais profundo acaba por revelar-se um ardiloso estudo sobre as mudanças no Mundo e sobre a passagem do ser humano pela vida. Neste sentido, Peer Gynt é o homem comum do século XIX: um homem nem bom nem mau, que é ao mesmo tempo um idealista e um materialista, um produto genuíno da era capitalista de crescimento rápido. Graças à magnífica interpretação de Uwe Bohm, este Peer Gynt é também frontal e magnético: um homem-criança à procura de si mesmo.


Intérpretes Uwe Bohm, Benjamin Çabuk, Gerd David, Peter Donath, Ninon Held, Ruth Glöss, Ursula Höpfner-Tabori, Deborah Kaufmann, Alice Kornitzer, Ann-Marie von Löw, Annett Renneberg, Steffen Roll, Dorothea Gebhardt, Judith Strößenreuter, Marko Schmidt, Veit Schubert Oliver Urbanski, Axel Werner, Angela Winkler, Ronald Zehrfeld
Cenário e figurinos Karl Kneidl
Coreografia Reinhild Hoffmann
Música Georg Klein
Dramaturgia Bärbel Jaksch

Língua alemã (legendado em português)
Duração 3h30 c/ intervalo


JULHO
21h00 Sáb 12
16h00 Dom 13

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Encosta-te a mim...


Avé Maria, de J.S. Bach, por Carmen Monarcha

Morreu Thinguiz Aïtmatov




Morreu no passado dia 9 o escritor quirguize, autor do romance Djamília, a que Aragon chamou uma das mais belas histórias de amor.


Autor de outras obras, Aïtmatov recebeu o Prémio Lenine e muitas outras distinções na URSS e noutros países.


Djamilia foi para mim uma imensa descoberta na minha juventude. A beleza de Djamília, a emancipação feminina no quadro de uma sociedade rural quirguize, a sensibilidade humana dos habitantes da Quirguízia, marcaram-me para sempre.




A tradução do foi feita por Louis Aragon (que o prefaciou) e A. Dimitrieva.
A mais recente edição portuguesa do livro é da Relógio de Água em 1990, mas não haverá, de momento exemplares disponíveis.


Vê-la anos depois no cinema , numa boa adaptação desta obra, foi também um acto de grande emoção.


Foi um dos nomes grandes da literatura soviética. Era bilingue tendo publicado as suas obras em quirguize e russo.


As outras obras do autor traduzidas para português são




O Navio Branco, pela Relógio de Água, em 1991

O lugar da caveira, pela D. Quixote, em 1995

Mãe tolgonai, pela Campo das Letras, em 1996


América Latina contra a Directiva da Vergonha



Como era previsível antes da votação pelo Europeu do Directiva de Retorno, , as reacções não se fizeram esperar.

A directiva foi designada por Rafael Correa por Directiva da Vergonha.Chavez declarou ontem que os países que aplicarem esta directiva verão fechada a torneira do petróleo venezuelano e não devem cobntasr vcom novos investimentos no país.Evo Morales falou na realização duma campanha internacional




quinta-feira, 19 de junho de 2008

55 anos passaram sobre o assassinato dos Rosenberg


Um amigo na campanha de Obama



Caros amigos,


Um dos objectivos das minhas Obama News (que, neste momento, conta com 75 leitores directos) era e é fornecer-vos informação honesta e actualizada a que, certamente, não poderão ter acesso através dos meios de comunicação de que dispõem.


O facto de me encontrar a viver nos EUA dá-me a vantagem de poder estar, não apenas a assistir, mas a participar.


Por outro lado, tenho procurado estudar tudo isto, tentar perceber, caminhar pela complexidade das coisas e não me satisfazer com aparências, notícias de ocasião, impressões do momento, apoios ou rejeições impensadas, palavras ou frases fora do contexto, distracções várias, provocações, etc.


Outro aspecto enriquecedor desta minha iniciativa é receber comentários, críticas, observações, correcções, perguntas, silêncios, recusas, apoios, abraços... que servem para aprender mais e matar algumas saudades.


(…)



5. REUNIÃO DE VOLUNTÁRIOS



(…)


Éramos cerca de 40 pessoas e, por curiosidade, como de costume, dois terços eram mulheres. Outra curiosidade: apenas 4 não eram brancos.


Fez-me recordar o romantismo e a entrega de certos movimentos e iniciativas que começam nos dias difíceis e em que cada um dá o que tem. Desde as lutas clandestinas, às acções mais simples. Nessas alturas não havia (e não há) "tachos" para distribuir ou "penachos" para alguns... Nada era fácil a não ser a entrega voluntária a uma causa em que se acreditava... E, quando chegava a hora da verdade, cada um, por mais isolado que estivesse (nas celas de Caxias ou nas veredas da clandestinidade) sabia que não estava só.


A minha mãe, na sua infinita preocupação de me proteger, dizia: "O que andas a fazer, meu filho!?... Não vês que isto sempre foi assim e será!?... Não compreendes que, sozinho, não poderás mudar o mundo!?"... E eu sem lhe poder dizer que estava acompanhado...


Depois vem a fase da instalação, da rotina, da partilha de poderes (grandes e pequenos), das listas, da continuidade, da reacção ao que é novo e quer agitar, do proteccionismo e da corrupção (muitas vezes, intelectual), do adormecimento, do profissionalismo incompetente mas fiel substituir a militância crítica, do medo, da dependência e de tanta outra coisa que dá vida aos chamados "aparelhos partidários", essas realidades tentaculares que não podem deixar de existir mas que, a maior parte das vezes, perdem a capacidade de renovação e de autocrítica.


Será, porventura, o que se irá passar por aqui. Poderá, quem sabe, ser excepção.


Mas, o que me interessa, é que neste momento estamos numa fase que antecede a do poder. Mais tarde, se acontecer porcaria, será tempo de voar para lá de outras fronteiras, de olhar para trás e não renegar, de olhar para a frente e continuar à procura de outras utopias.


Estou a viver a fase infantil de um processo democrático mitigado. Imagine-se o que é ter como primeira tarefa conseguir inscrever uns milhões de americanos nos cadernos eleitorais para poderem votar pela primeira vez!!!... Ainda por cima quando eu nem sequer posso votar!...


(…)


Para tentar compreender isto comprei ontem um livro intitulado Why Americans Still Don't Vote - And Why Politicians Want It That Way. Os autores são Frances Fox Piven e Richard A. Cloward.



Um enorme abraço para todos,


fernando