Com quase noventa anos, morreu Lauren Bacall, uma das mais
extraordinárias actrizes de Holywwod. Uma voz grave com uma entoação
inesquecível, um olhar que não deixava nada indiferente, mesmo nada fosse vivo,
morto ou inerte. No imaginário do cinema, na sua mitologia, conta-se que Howard
Hawks, já interessado por aquela rapariga de 19 anos que aparecia numa
fotografia da Harper’s Bazar, ficou paralisado de surpresa quando, num
“casting”, a rapariga saltou da fotografia para o palco e disse“Hello,
how are you”. Começava
uma carreira impar até pela intransigência com que escolhia os pápeis que lhe
queriam atribuir. Por isso a produtora cinematográfica que a tinha contratado
suspendeu-a uma dúzia de vezes
Célebre ficou a cena do seu
primeiro filme “Ter
ou não Ter” em que
contracena com Humptrey Bogart e lhe diz, como só ela saberia dizer "Quando me quiseres chamar, assobia".
Ensina-lhe a assobiar, ensina-o a fumar, era e foi até ao fim da
vida uma fumadora inveterada, ensina-lhe algumas coisas mais que acabaram
em casamento. Tornaram-se num dos casais marcantes em Holywood, época do
maccartismo e código Hayes, pela sua excelência como actores, pela sua postura
política pela sua intransigência com as faltas de carácter.
Conhecia-a, já com setenta anos, num almoço promovido pelo
Festroia e pela Câmara de Grândola, quando o Festroia trazia a Portugal um
Robert Mitchum que era um bom companheiro, um Denis Hooper tão frenético ao
vivo como na tela, um Almodovar excelente e imparável conversador. Lauren
Bacall continuava uma bela mulher a quem os anos traziam encantos que
substituam e se acrescentavam aos encantos anteriores. Era extraordinário como
mantinha as distâncias exercendo uma sedução extrema.
Alguns episódios marcaram essa sua vinda a Portugal. No referido
almoço, apreciando o belíssimo tinto alentejano que se bebia, logo encomendou
dez caixas mostrando como continuava atenta aos prazeres da vida. Contaram-me,
dou como verdadeiro, que quando descerraram placa que assinalava a sua presença
no Festival, indignou-se e recusou que ela ficasse exposta se o seu nome não
tivesse letras maiores ou iguais aos nomes de outros actores bem menores que
ela, apontava com acinte para Jane Russell. Foram fazer nova placa rapidamente,
a tempo antes de ela se ir embora. Não era um exigência de uma estrela snob.
Era uma exigência justa de uma actriz que sabia o seu valor.
Assim era e foi Lauren Bacall, do príncipio até ao fim da vida.
Uma estrela de cinema por mérito próprio que fazia parte do “star-system”
mantendo-se fora dele, uma democrata até à medula, uma mulher por inteiro que
não convivia com a mediocridade.
http://pracadobocage.wordpress.com/
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