Painel cerâmico da estação do Metropolitano de Lisboa, "Sete Rios”
A INTUIÇÃO ATENTA À RAZÃO
Afirmo que a pintura sempre se envolve no objectivo final de servir a causa dos espaços públicos, sentido esse que a enobrece. A sua função não se limita a “decoração” de um dado espaço mas a dotá-lo de um sentido próprio e inconfundível.
A sua natureza de estação foi respeitada no confuso espaço interior no qual se dão os cruzamentos direccionais de linhas.
O objectivo da estação de que sou autor, foi de tornar esse espaço animado como uma continuidade do clima exterior.
Dada a proximidade do Jardim Zoológico, entendi natural que a vida animal e vegetal servissem de motivação no tratamento das paredes e dos pavimentos. Os estudos foram feitos à exaustão mas a execução foi de um grande improviso respeitando o princípio que nenhum sinal é repetível!…
Os azulejos foram realizados na Fábrica Viúva Lamego em Sintra, onde sempre encontrei o melhor ambiente de trabalho e colaboração.
Júlio Resende, Outubro 2010
1 comentário:
Esta obra do Júlio Resende foi, de longe, a mais notável intervenção de todas as remodelações das antigas estações do metropolitano de Lisboa.
Não necessariamente porque seja a mais bela.
Mas porque, comparando o antes e o depois, nenhuma das outras intervenções conseguiu, como esta, transformar uma estação estreita, apertada, escura, pesada, triste, húmida, insegura, degradada e abandonada, numa estação aberta, clara, luminosa, cheia de leveza, tranquilizadora e alegre.
A proeza foi conseguida sem mudanças arquitectónicas, apenas com os paineis cerâmicos do pintor. O que é um feito verdadeiramente notável.
Poucas vezes na minha vida observei uma intervenção artística, sem mexer na estrutura, modificar tão profundamente o aspecto desolador de um edifício.
O valor desta obra não deve ser julgado apenas pela visita à exposição dos respectivos estudos (que justamente aqui é recomendada). Deve ser avaliado in loco. Sobretudo por aqueles que ainda se recordam da desolação em que caíra a antiga estação.
HM
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