O professor José Manuel Anes disse há dias, num jantar/
tertúlia na Mesquita Central de Lisboa, que o Califado está a instituir no seu
território padrões de vida importantes. Mas não há imagens nem reportagens que
o demonstrem. A desconfiança em relação ao Islão no Ocidente, o ganhar-se muito
dinheiro nas fileiras do EI, serão alguns dos factores que mobilizam jovens
europeus a juntarem-se aos jihadistas. Referiu pormenorizadamente à unidade o
número de terroristas vindos de dezenas de países, informação dos serviços
secretos (de quem?), que teria feito inveja ao ministro
No mesmo evento, a jornalista Cândida Pinto disse que era
difícil aos jornalistas terem acesso aos territórios dominados pelo EI. Mas se
a vida lá é promissora porquê tais dificuldades de acesso dos jornalistas? Os
jornalistas não têm feito reportagens sobre ataques feitos pelos EI,
incorporados nas tropas deste? Só a CNN tem a exclusividade? Ou será que nos
têm estado apenas a servir vídeos feitos algures, sabe-se lá onde?
Também não vimos imagens dos cerca de 500 mortos feitos pela
aviação norte-americana. A contabilidade dos mortos, feita pelo Observatório
Sírio dos Direitos do Homem (um dos organismos dirigidos pela CIA para o
combate contra Assad e o seu país) é impecável mas…onde estão eles? Como é isso
compatível com a progressão na Síria do EI ?
A única coisa que parece real é serem as milícias curdas
(peshmergas) a combaterem na Síria para evitarem a tomada pelo EI da cidade
síria de Kobani, que, a realizar-se seria seguida da chacina dos derrotados
(militares mas também civis).
Progressão em que os EUA estão mais interessados, porque não
conseguiram que o Ibrahim do Exército Sírio de Libertação, travestido agora no
Ibrahim do EI, não conseguiu atingir esse objectivo ao longo de muitos meses de
destruição e morte.
Na cobertura pelo Público no passado dia 23 sobre esta
tertúlia, o jornal entendeu omitir a minha intervenção nela. Passe a imodéstia,
mas creio ter contribuído para uma discussão mais objectiva e não tão nebulosa
como a feita pelos dois oradores anunciados. Falei sobre o que é o EI, a
evolução na sua composição interna, a perda de referências islâmicas, a
reconfiguração de diferentes grupo jihadistas de acordo com a situação em que
operam, desde a guerra do Afeganistão, sobre a responsabilidade dos EUA nesta
“guerra”, sobre as consequências que poderá ter para os países produtores de
petróleo da região a queda abrupta do dólar decidida pelos States com apoio da
Arábia Saudita.
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