segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sobre a revolução tunisina

1. Por estas horas espera-se o anúncio de um governo provisório que prepare futuras eleições livres.
A sua composição dará uma idéia do grau de compromisso entre algumas forças de mudança, o Exército e o partido do poder.
Os polos em que assenta hoje o poder são o povo e o Exército mas a relação não é clara.
O movimento sindical (UGT) acompanhou os protestos. O mesmo o fizeram outras forças políticas da oposição, com destaque da Comissão pelas Liberdades e Direitos Humanos, o Partido Comunista Operário Tunisino e o movimento Ennahdha, islamita moderado.
Quem terá presidido às negociações foi o ex-primeiro-ministro Ghanoushi, figura da ditadura, que após a fuga há dois dias do ditador Ben Ali e da sua mulher - que se locupletou com 1,5 toneladas de barras de ouro!... - . foi nomeado Presidente interino.
Hoje manifestações populares pela ilegalização do partido do poder, RCD (Reagrupamento Constitucional Democrático), membro de pleno direito da Internacional Socialista, fundado pelo anterior presidente Bourguiba, foram reprimidas pela força.
O Exército recusou-se a participar na repressão às manifestações das duas últimas semanas. Mas o general Ammar poderá vir a desempenhar papel importante nos próximos tempos. Essa tarefa repressiva coube à guarda presidencial, responsável por muitos dos mortos, e à Polícia. O Exército ontem perseguiu a guarda presidencial e alguns responsáveis da ditadura foram presos.

2. A Tunísia era até agora o grande aliado dos EUA e de Israel no Magreb. Se recuarmos umas semanas atrás não encontraremos nos media ocidentais muitas referências à Tunísia como ditadura...Mas nos últimos dias a Wikileaks desencantou um telegrama em que os EUA teriam reservas  em relação ao regime...
Os regimes árabes da região, particularmente o Egipto de Mubarak, sentem-se ameaçados (curiosamente o partido de Mubartak também é da Internacional Socialista...). A revolução tunisina pode ser um rastilho em situações semelhantes noutros países.
As causas da revolta popular, que adquiriu novo fôlego após a imolação pelo fogo de um jovem desempregado, têm a vêr com o grande agravamento das condições sociais (preços dos bens essenciais, desemprego, despedimentos, pobreza e assimetrias sociais) e políticas (ditadura, corrupção a partir do poder). Não só a Tunísia tem este quadro de situações...Na Argélia, ali ao lado, já ontem se registou outra imolação e o governo francês logo instigou a uma cooperação policial dos dois países para conter a revolta e não a deixar pôr em causa as liberdades...

3. A revolução popular foi a responsável directa e única da queda do regime. Apesar de proptagonizada essencialmente por jovens e estudantes, teve um largo apoio social que poderá restringir-se se as situações de carência alimentar e de serviços forem agravadas com a especulação e distúrbios a que os apoiantes do regime deposto já se entregaram.
O PCP apoiou a revolta e as forças revolucionárias tunisinas.

4. Uma atitude de simpatia e apoio internacional à revolta tunisina será muito importante nos próximos dias em que forças diversas se movimentarão para lhe esvaziar as motivações.

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