quarta-feira, 2 de julho de 2008

Cê (*) pergunta: A margem do Tejo vai continuar a pertencer à cidade ou será que está a ser privatizada?



Para os habitantes de Lisboa, a recuperação da frente ribeirinha, do Parque das Nações até Belém é por certo uma óptima ideia. Todos ficarão contentes se puderem um dia ter um enorme espaço verde junto ao Tejo, onde possam passear, jogar à bola, picnicar, ler, pescar, correr, andar de bicicleta ou, simplesmente, ficar a olhar para a bela paisagem…


No entanto, o projecto de que se fala, não é só ouro sobre azul. É que, para além dos espaços verdes estão previstos empreendimentos que levantam preocupações.


O primeiro e o mais duvidoso é o terminal de cruzeiro no Terreiro do Trigo, porque vai criar uma barreira entre o bairro de Alfama e o rio quando, o que seria desejável, era recriar a ligação de Alfama ao rio. Claro que o terminal de cruzeiros vai atraír turistas ao centro histórico que visitarão os velhos bairros e poderão criar riqueza mas, se fosse deslocado para nascente, funcionava da mesma forma e permitia a revalorização da zona baixa de Alfama. Já imaginaram como seria descer a colina do Castelo em direcção ao Chafariz de Dentro e seguir por um espaço verde até ao cais?


Outros dois projectos igualmente duvidosos são os dois centros comerciais previstos para Santa Apolónia e para o Cais do Sodré. Será que Lisboa necessita de construir mais dois centros comerciais, junto ao rio? Não seria muito mais interessante, em vez de mais dois enormes edifícios que concentram sempre as mesmas lojas, reanimar o comércio tradicional da zona com a sua variedade?


Finalmente, poquê construir edifícios no Campo das Cebolas? A Baixa está desabitada,


Alfama tem inúmeros edifícios ao abandono, para quê construir logo alí a tapar a vista para o Tejo? E o equipamento cultural na Doca da Marinha, vai ser o quê, outra barreira visual? Com tanto edifício com valor patrimonial ao abandono tem mesmo que se construir alí?


Edifícios recentemente construídos como a Agência Europeia de Segurança Marítima, no Cais do Sodré e o Hotel Vila Galé Ópera em Alcântara, são exemplos do que não deve ser feito e deixam adivinhar o que será o futuro!


O que é preciso fazer na zona ribeirinha é limpar, reabilitar, ajardinar e preservar o sistema de vistas. Nunca construir novos imóveis.


Mais longe, na Doca Pesca, fala-se na construção de uma marina…


A margem do Tejo vai continuar a pertencer à cidade ou será que está a ser privatizada?



(*) Cê é uma técnica de reabilitação urbana, a quem damos as boas vindas por este início de colaboração.

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