sábado, 7 de abril de 2012

A renegociação silenciosa da dívida irlandesa

O Le Monde de dia 3 refere que"Os irlandeses estão a começar a cansar-se do rigor que se tornou o seu dia-a-dia nos últimos anos. Em jeito de rebelião, metade dos contribuintes da pequena república decidiu não pagar o imposto de habitação cujos proprietários deveriam receber em 31 de março. Este é um sinal para o governo de Dublin a dois meses do referendo sobre o novo tratado orçamental europeu. Esta é uma das primeiras fissuras na aplicação de um programa de recuperação que até então não tinha causado grandes movimentos sociais, ao contrário do que poderia ter acontecido noutras nações periféricas da zona euro em crise ".


Parece afinal que a política de austeridade da Irlanda não é tão eficaz quanto isso...
Os últimos números conhecidos são preocupantes.
A Irlanda está novamente em recessão (queda de 0,2% do PIB no quarto trimestre de 2011), a taxa de desemprego atingiu os 15% e a dívida chega aos 108% do PIB. Não, não é um sonho. E é isto que explica a crescente tensão dos irlandeses contra o seu governo.

Mas para além de tudo isto, na completa indiferença dos mercados e dos media, a Irlanda... reestruturou a sua dívida. Muito discretamente. O que aconteceu? O país teve que pagar 3,1 mil milhões de euros. E conseguiu vir a reembolsá-los apenas... em 2025. Sim, daqui a 13 anos!!! . Foi exactamente o que a Grécia fez no mês passado e nenhum de nós esqueceu os debates, crises e cambalhotas na situação grega a que isso conduziu.

Certamente que 3,06 mil milhões, nestes tempos de crise da dívida soberana, são como um pequeno café ... mas o risco de propagação como mancha de óleo existe. Na verdade, são 31.000 milhões que o governo irlandês está a tentar reestruturar.

A União Europeia está a braços com as crises gregas, espanhola e portuguesa e não tem vontade de ver uma bomba extra para explodir em vôo sobre a aparente acalmia actual - uma pausa paga a um preço tão caro.
A UE tem em vista o referendo de 31 de maio. Os irlandeses vão pronunciar-se sobre o pacto orçamental da UE (aquele que pretende controlar os défices públicos na Europa e estabelece penalidades para os maus alunos da rigidez orçamental). Mas os precedentes não são muito tranquilizadores. Quando se trata de Europa, a Ilha Verde tem a tendência de votar contra...

3 comentários:

menvp disse...

A contradição dos cúmplices da RATOEIRA


Muitos economistas gostam de evocar a relação aritmética que mostra como uma economia com uma taxa de crescimento nominal do produto, superior à taxa média da dívida pública, pode ter, todos os anos, um défice primário (sem juros) compatível com a estabilidade do peso da sua dívida pública ---> isto é, ou seja, a RATOEIRA do endividamento esperando um crescimento económico perpétuo!...

A contradição dos cúmplices da RATOEIRA é óbvia:
- por um lado, eles (os economistas cúmplices da RATOEIRA) reconhecem a existência de ciclos económicos... todavia, no entanto, em simultâneo, não se cansam de repetir «só o crescimento perpétuo, só o crescimento perpétuo... é que nos salvará do caos económico»!?!?!?
O resultado está à vista de toda a gente: ao cair na RATOEIRA do endividamento esperando um crescimento económico perpétuo... Portugal está a ser forçado a VENDER ACTIVOS IMPORTANTES para a sua soberania!...


ANEXO:
Os portugueses (e não só) foram uns otários ao caírem na ratoeira do NEGÓCIO DA DÍVIDA: de facto, há séculos e séculos que o Negócio da Dívida é a mesma coisa:
- sempre que um agiota quer 'deitar a luva' aos bens de alguém... o agiota acena com empréstimos... que sabe que não vão conseguir pagar... até porque, frequentemente, o agiota 'trata' de complicar a vida ao devedor!
Resultado Final: quem foi atrás do aceno de empréstimos (feito pelo agiota) vê-se espoliado... e o agiota fica com os seus bens!

Graciete Rietsch disse...

Conheço muita gente que caiu na ratoeira. E os Estados vão atás mas não inocentemente.

Um beijo.

Formiga disse...

Infelizmente o povo tem abdicado do seu privilegio de raciocinar, deixando que os média - detidos por aqueles que beneficiam da existência da agiotagem - formulem a sua opinião e imponham-lhes as suas cremças... deste modo o povo contenta-se a resmungar nos corredores e cafés... chegando ao fim do seu resmungo com slogans que lhes são vendidos diariamente tipo, é inevitável... de seguida deixam os cafés e corredores e lá vão eles para casa com a fė que alguém lhes deu...