domingo, 31 de outubro de 2010

Recomeçar

Tal como noutros países a crise financeira internacional levou a que o estado português injectasse liquidez nos bancos portugueses, incluindo a que desapareceu no buraco fundo do BPN. Quem pagou? Nós todos. Quem usufruiu? Os do costume.
Em Portugal as consequências foram mais graves. Por deliberada política dos grupos dominantes de há 34 anos a esta parte, particularmente depois da entrada para o Mercado Comum, a indústria, a agricultura e a pesca foram vítimas de uma premeditada morte lenta, até com incentivos "europeus" para o efeito. Os fundos europeus tiveram escasso efeito na adaptação da economia a uma situação de invasão do nosso mercado e de acrescidas dificuldades na concorrência em mercados externos.
Quem ignora isto nas análises conjunturais, na recuperação para a ribalta dos antigos e novos responsáveis de tais orientações, nas "inevitabilidades" actuais para as aprofundar, presta um péssimo serviço ao país. E ainda "nos" (excepção feita aos "eles") enxameia de moscas que nos querem obrigar a fazer uma vida mais modesta, com argumentos e até receituários práticos...

A fusão do capital monopolista e financeiro do século passado, continuou nas últimas décadas na financiarização da economia e os bancos estão entre os grandes responsáveis pela degenerescência do seu papel essencial que deveria ser o apoio à economia. Isso está cada vez mais longe dos seus horizontes. Optaram pelo ganho rápido e os empréstimos-garrote, só parcialmente transformado em liquidez, para habitação e consumo, que se tornou a grande parte da sua actividade.
Quando o sr. Ricardo Salgado ou o Sr. Fernando Ulrich hoje nos dão tantos palpites, apetece esfregar-lhes a cara com a propaganda dos "seus" bancos desse tipo de crédito, agressiva e enganosa, que faziam há cinco anos atrás e contribuíram para os edge funds que originaram a crise financeira em que cooperaram com a banca norte-americana. Os que pagaram estas opções aventureiras foram mais uma vez os mesmos.
E à sra. Merkl apetece fazer o mesmo quando na zona euro foi a principal promotora do crédito fácil para depois vir exigir que países como Portugal sejam mais castigados financeiramente e mais afectados na quase nula margem de soberania que ainda lhes resta por causa do deficite que poria o euro instável.
Governantes e banqueiros que cooperaram, neste vasto período .nestes esquemas já deviam ter ido andando há muito. Mas agora juntam-se para caucionar previamente acordos na Assembleia da República entre o PS e PSD que vão ter sérias consequências negativas para os portugueses e para a economia.

Mais uma vez a UE andou mal. No rescaldo da primeira fase da crise o BCE continuou a fornecer liquidez barata aos operadores dos mercados, a quem os países e empresas o vão buscar entre 2 e 7 vezes mais caros,sujeitando-se a juros definidos pelos próprios agiotas.
Para que os mercados financeiros acentuem o seu carácter antidemocrático, em vez de agências de notação validadas e participadas pelos próprios visados, as agências de rating existente, no fundamental norte-americanas, vão dando indicações de risco para empréstimos, que limitam o acesso ao crédito dos países mais debilitados.

Passos Coelho é mais novo de idade mas todas estas opções erradas e injustas são a espinha dorsal do seu desempenho. Para além daquela frase preocupante de "não haver direitos adquiridos"...Ele, Sócrates e Cavaco, bem como o Soares, Carreira, o Silva mais o Lopes, mais não sei quantos instalados e comentadores à la carte são o passado. São incapazes de se associarem a políticas de recuperação do país. Mas há um país que continuará depois deles.

É preciso cuidar da economia para que ela cumpra os interesses da generalidade dos portugueses, e como forma real de reduzir os déficites. Isso implica apostar no trabalho dos trabalhadores e de muitos outros profissionais, de valorizar as suas condições de vida e de participação efectiva na condução da economia e do país.
Portugal tem condições para vencer mas precisa de novas políticas, realmente de esquerda, e de outras pessoas a realizá-las, de forma honesta. Não precisa seguramente de mais do mesmo que nos tem levado à recessão, ao empobrecimento colectivo, ao recuo de direitos ganhos no decorrer da história, à corrupção das camadas dirigentes, com reflexos em valores de terceiros, e ao afastamento dos portugueses da política para dar lugar a mais espaço aos poderes transnacionais, europeus e mundiais, à margem e copntra a democracia, que  faz o seu percurso, enquanto ressoam os tambores da guerra.

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