segunda-feira, 10 de maio de 2010

Joaquim Vital (1948-2010)

Conheci o Joaquim Vital no Liceu Gil Vicente em 1963. Filho de pais de esquerda, ligados ao PCP, Joaquim Vital já então se manifestava como um jovem culto e com vocação para a literatura, e com contactos com escritores.
Fazíamos parte de um grupo que integrava também Cáceres Monteiro, António Leitão, Almeida Martins, e que encontrava apoio em alguns professores, como Albano Arezes , para projectos ligados à literatura, e que estavam mais ou menos formalmente ligados ao PCP, tendo parte deles seguido outros caminhos políticos mais tarde.

Quando o Vital foi preso, a PIDE foi buscá-lo ao liceu mas o reitor de então, Brás Gomes, um homem do regime que tentou em vão que enquadrassemos certas actividades na Mocidade Portuguesa, disse-lhes que a prisão não poderia ser efectuada dentro da escola. Um numeroso grupo de alunos concentrou-se no átrio em apoio do Vital e a PIDE só o prendeu depois.V ital foi torturado e mais tarde iria para a Bélgica e depois para França.

Só tive notícias dele muito depois através das edições La Différence, com a sua livraria em, Paris, onde teve um importante papel no lançamento em França de traduções de obras de escritores portugueses, no quadro de uma actividade de editor e livreiro muito digna e profícua.

Como foi referido hoje num órgão de comunicação social, sobre o mundo da edição, Vital escreveu: “Pode dizer-se, parafraseando Fernando Pessoa, que há três espécies de editores: os que publicam os livros de que gostam, os que gostam dos livros que publicam, os que não gostam de livros - e que não são editores. É a esta terceira categoria que pertencem os industriais e financeiros que decidiram, por razões de estratégia empresarial, atacar o mercado do papel impresso.”

Foi com tristeza que o vimos agora partir, de forma inesperada.

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