terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ainda sobre a síntese abiótica de hidrocarbonetos

Recebi com gosto observações de um amigo ao post que, sobre esta matéria, publiquei aqui no passado dia 20, a que respondi nos termos que podereis consultar nos respectivos comments, chamando a atenção para o interesse de que se reveste trabalho anterior do falecido cientista Thomas Gold publicado na resistir.info.
Daí resultaram tentativas de contactos com os três cientistas do trabalho que eu inicialmente tinha citado.
Goncharov, atendeu-me amavelmente e disse-me que o interesse dos três investigadores vinham de experiências e previsões teóricas anteriores (já referidas no trabalho do falecido Thomas Gold atrás referido).

Nessas experiências o metano sujeito a altas pressões e temperaturas dava origem a hidrocarbonetos mais pesados. Mas as moléculas não se podiam identificar, apresentando uma distribuição semelhante. Goncharov afirmou-me terem ultrapassado essa questão com a sua técnica de aquecimento a laser, em que puderam tratar volumes maiores e mais uniformemente, tendo verificado que o metano pode ser produzido a partir do etano e que, portanto, existe uma reversibilidade de reacções.

Retomando a questão que coloquei há dois dias, o petróleo e o gás que abastecem as nossas casas e os carros resultaram de organismos vivos que morreram, foram comprimidos, e aquecidos sob pesadas camadas de sedimentos na crosta da Terra. Há anos que os cientistas têm debatido se alguns destes hidrocarbonetos também poderiam ter sido criados em camadas mais profundas da Terra e sem o concurso de matéria orgânica.

Agora, pela primeira vez, os cientistas descobriram que o etano e hidrocarbonetos mais pesados podem ser sintetizados sob a pressão de condições de temperatura do manto superior da camada de terra sob a crosta e no topo do núcleo. A pesquisa foi conduzida por cientistas do Laboratório de Geofísica do Instituto Carnegie, com os colegas da Rússia e da Suécia, e foi publicada, on line, em 26 de Julho passado, nas Letters da Nature Geoscience.
Legenda: Este olhar artístico do interior da Terra mostra os hidrocarbonetos a formarem-se no manto superior e a serem transportados através de falhas profundas para as profundezas da crosta da Terra. A outra imagem inserida mostra um instantâneo da reacção de dissociação do metano estudada neste trabalho.

O Metano (CH4) é o principal componente do gás natural, enquanto o etano (C2H6) é usado como matéria-prima na indústria petroquímica. Ambos os hidrocarbonetos, bem como outros relacionados com o combustível, se designam por hidrocarbonetos saturados, porque eles têm ligações simples e estão saturados com hidrogénio. Eles usaram uma célula de “bigorna de diamante” e uma fonte de calor laser. Submeteram em primeiro lugar o metano a pressões superiores a 20 mil vezes a pressão atmosférica ao nível do mar e a temperaturas que variam entre 1.300 ° F e mais de 2.240 ° F. Estas condições reproduzem as que poderão ser encontradas a 40-95 quilómetros de profundidade no interior da Terra.
O metano reagiu e formou etano, propano, butano, moléculas de hidrogénio e grafite.
Depois submeteram o etano às mesmas condições e obtiveram metano. Esta reversibilidade de reacções implica que a síntese de hidrocarbonetos saturados é termodinamicamente controlada e não requer matéria orgânica.
Estes cientistas excluíram catalisadores como parte do aparato experimental, mas reconhecem que os catalisadores poderão estar envolvidos no interior da Terra numa mistura de compostos.

Já não consegui obter resposta de Kutcherov que foi quem fez a declaração, não fundamentada, das promissoras perspectivas económicas, que citei no post anterior, mas que não constavam do trabalho propriamente dito, apresentado em Julho pelos três autores, parecendo ser tão só um aparte seu.

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