segunda-feira, 13 de abril de 2015

Raul Castro: viemos aqui cumprir com o mandato de José Marti, com a liberdade conquistada com as nossas próprias mãos

Segundo a reportagem do Granma de ontem, o presidente Raúl Castro afirmou no sábado 11 de abril que Cuba foi à 7ª Cimeira das Américas cumprir o mandato de José Martí com a liberdade conquistada com nossas próprias mãos.
Photo: cumbredelasamericas.pa
Agradeceu a solidariedade de todos os países da América Latina e do Caribe que tornou possível que Cuba participasse em pé de igualdade neste fórum hemisférico, e ao presidente da República de Panamá pelo convite e pelos minutos concedidos, pois “tantos anos de ausência” nestas cimeiras justificava que se estendesse um pouco mais que os oito estabelecidos para falar na sessão.
Sustentou que quando nos dias 2 e 3 de dezembro de 2011 foi criada a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, em Caracas, se  inaugurou uma etapa na história de Nossa América, que tornou patente o seu direito, bem ganho, de viver em paz e a desenvolver-se como determinem livremente os seus povos e se traçou para o futuro um caminho de desenvolvimento e integração, baseado na cooperação, a solidariedade e a vontade comum de preservar a independência, soberania e identidade.
No ano 1800, pensou-se em adicionar Cuba à União do Norte como o limite sul do extenso império. No século XIX, surgiram a Doutrina do Destino Manifiesto com o propósito de dominar as Américas e o mundo, e a ideia da Fruta Madura para a gravitação inevitável de Cuba para a União norte-americana, que deixava de lado o nascimento e desenvolvimento de um pensamento próprio e de emancipação.
Afirmou que depois, mediante guerras, conquistas e intervenções, esta força expansionista e hegemónica despojou a Nossa América de muitos territórios, estendendo-se até o Rio Bravo.
Após longas lutas que foram frustradas, José Martí organizou a “guerra necessária” e criou o Partido Revolucionário Cubano para a conduzir e fundar uma República “com todos e para o bem de todos”, que se propôs atingir “a dignidade plena do homem”.
Ao definir com certeza e antecipação os traços de sua época, Martí entregou-se ao dever “de impedir a tempo com a independência de Cuba, que os Estados Unidos se estendessem pelas Antilhas e caíssem com força sobre nossas terras da América”.
A Nossa América é para ele a do crioulo, do índio, a do negro e do mulato, a América mestiça e trabalhadora que tinha que fazer causa comum com os oprimidos e saqueados. Ora, para além da geografia, este é um ideal que começa a tornar-se realidade, explicou Raúl.
Acrescentou que há 117 anos, em 11 de abril de 1898, o então presidente dos Estados Unidos solicitou ao Congresso autorização para intervir militarmente na guerra de independência, já ganha com rios de sangue cubano, e este emitiu sua enganosa Resolução Conjunta, que reconhecia a independência da Ilha “de fato e de direito”. Entraram como aliados e apoderaram-se do país como ocupantes.
Impôs-se a Cuba um apêndice na sua Constituição, a Emenda Platt, que a despojou de sua soberania, autorizando o poderoso vizinho a intervir nos assuntos internos e que deu origem à Base Naval de Guantánamo, a qual ainda usurpa parte de nosso território. Nesse período, aumentou a invasão do capital nortenho, houve duas intervenções militares e o apoio a cruéis ditaduras.
No dia 1 de janeiro de 1959, 60 anos depois da entrada dos soldados norte-americanos em Havana, triunfou a Revolução cubana e o Exército Rebelde comandado por Fidel Castro Ruz chegou à capital.
Em 6 de abril de 1960, apenas um ano depois do triunfo, o subsecretário de Estado Léster Mallory escreveu em um perverso memorando, revelado dezenas de anos depois, que “a maioria dos cubanos apoia Castro… Não há uma oposição política efetiva. O único meio previsível para restar apoio interno é através do desencanto e o desalento baseados na insatisfação e nas penúrias económicas (…) enfraquecer a vida económica (…) e privar Cuba de dinheiro e suprimentos com o fim de reduzir os salários nominais e reais, provocar fome, desespero e o derrubamento do governo”, citou Raul.
Também explicou que os cubanos têm suportado grandes penúrias. 77% da população cubana nasceu sob os rigores que impõe o bloqueio. “Mas as nossas convicções patrióticas prevaleceram. A agressão aumentou a resistência e acelerou o processo revolucionário. Aqui estamos com a cabeça bem erguida e a dignidade intacta”, sublinhou.
Quando já tínhamos proclamado o socialismo e o povo havia combatido na Baía dos Porcos para o defender, o presidente Kennedy foi assassinado precisamente no momento em que o líder da Revolução cubana Fidel Castro recebia uma mensagem dele procurando iniciar o diálogo, continuou.
Noutro momento do discurso, Raul afirmou que tinha expressado e reiterava agora ao presidente Barack Obama a nossa disposição para o diálogo respeitoso e a convivência civilizada entre ambos os Estados apesar das nossas profundas diferenças.
Considerou que o presidente Obama é um homem honesto e pensa que sua forma de ser tem a ver com a sua origem humilde. Mas normalizar as relações é uma coisa e o bloqueio é outra.
Apreciou como um sinal positivo uma sua recente declaração de que decidirá rapidamente sobre a presença de Cuba numa lista de países patrocinadores do terrorismo na qual nunca devia ter estado.
Até hoje, o bloqueio económico, comercial e financeiro aplica-se copm toda a sua intensidade contra a Ilha, provoca danos e carências ao povo e é o obstáculo essencial para o desenvolvimento de nossa economia. Constitui uma violação do Direito Internacional e seu alcance extraterritorial afecta os interesses de todos os Estados, sublinhou.
Da nossa parte, continuaremos envolvidos no processo de atualização do modelo económico cubano com o objetivo de aperfeiçoar o nosso socialismo, avançar rumo ao desenvolvimento e consolidar as conquistas de uma Revolução que se propôs “conquistar toda a justiça”.
Também reafirmou que a Venezuela não é nem pode ser uma ameaça à segurança nacional de uma superpotência como os Estados Unidos e qualificou como positivo que o presidente norte-americano o tenha reconhecido.
“Cuba continuará defendendo as idéias pelas quais o nosso povo tem assumido os maiores sacrifícios e riscos e lutado, junto aos pobres, os doentes sem atendimento médico, os desempregados, as crianças abandonados à sua sorte ou obrigados a trabalhar ou a prostituírem-se, os que passam fome, os discriminados, os oprimidos e os explorados que constituem a imensa maioria da população mundial”, sublinhou.
Lembrou que a aprovação, em Janeiro de 2014, na Segunda Cimeira da Celac, em Havana, da Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz, constituiu uma contribuição transcendente nesse propósito, marcado pela unidade latino-americana e caribenha na sua diversidade.
O presidente cubano sustentou que deve ser respeitado, como reza o Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz, “o direito inalienável de todo Estado a eleger seu sistema político, económico, social e cultural, como condição essencial para assegurar a convivência pacífica entre as nações”.
Concluiu dizendo que graças a Fidel e ao heróico povo cubano, viemos a esta Cimeira, para cumprir o mandato de José Martí com a liberdade conquistada com nossas próprias mãos, “orgulhosos de nossa América, para servi-la e honrá-la… com a determinação e a capacidade de contribuir para que seja estimada pelos seus méritos, e seja respeitada por seus sacrifícios”.

1 comentário:

Andreia disse...

Foi um excelente discurso, em circunstâncias especiais, com o mundo todo atento às suas palavras.