quinta-feira, 10 de julho de 2014

Mais uma vez posto em causa o dólar como moeda única nos pagamentos internacionais

Segundo o jornalista Michael Stothard, do Finantial Times, no passado dia 7, o banco francês BNP Paribas comprou páginas de publicidade na imprensa norte-americana para apresentar "desculpas" e assumir responsabilidades, depois de ter sido multado pelas autoridades dos EUA em 8,9 mil milhões de dólares (67,5 mil milhões de euros) por ter ajudado países como Cuba, o Irão e o Sudão defenderem-se dos embargos impostos pelos EUA. Entre a publicidade comprada estão páginas inteiras no The New York Times e Wall Street Journal. "Esta semana, o BNP Paribas chegou a acordo com as autoridades norte-americanas relativamente a transacções com países que estão submetidas a sanções pelos EUA", escreveu o director-geral, Jean-Laurent Bonnafé. "Sempre procurámos manter um nível elevado em termos de comportamento, o que não conseguimos. Lamentamos profundamente", acrescentou Bonnafé. De forma subserviente o director geral declarou que "Os erros que vieram a público nunca deveriam ter ocorrido no BNP Paribas". O banqueiro disse ainda que o banco "tinha tirado as lições" e que "as pessoas envolvidas foram punidas ou saíram do grupo".

Segundo Stothard, esta questão suscitou  que os meios políticos e empresariais  da França  se insurgissem contra a hegemonia do dólar nas transações internacionais. 
Michel Sapin, o ministro das Finanças francês, apelou  para um "reequilíbrio" das moedas utilizadas nos pagamentos globais, dizendo que o caso BNP Paribas "nos deve fazer perceber a necessidade de usar uma diversidade de moedas."
Em entrevista ao Financial Times, à margem de uma conferência de economia do fim de semana "Eu acho que um reequilíbrio é possível, e necessário, não apenas com o euro mas também com as grandes moedas dos países emergentes" que são cada vez mais responsáveis pelo comércio global. "
Christophe de Margerie, presidente-executivo da Total, maior empresa da França, por capitalização do mercado, disse que não via nenhuma razão para o petróleo  ser comprado em dólares,  mesmo que o preço de referência em dólares permaneça..
"O preço do barril de petróleo é cotado em dólares", disse. "Uma refinaria pode aplicar esse preço e utilizando a taxa de câmbio euro-dólar num determinado dia, e acordar fazer o pagamento em euros."
Um dirigente executivo de um grupo industrial, o CAC 40, disse que apoiou a iniciativ do Sr. Sapin.
"Empresas como as nossas estão num beco sem saída porque nós vendemos um lote em dólares mas podemos não querer estar sujeitos a todas as regras e regulamentos dos Estados Unidos", disse.
O alvoroço sobre a multa ao BNP quebrou o ambiente normalmente calmo das conferências de economistas em Aix-en-Provence. E sublinhou  um novo ponto de atrito nas relações transatlânticas.
Os meios oficiais  franceses vieram dar um forte apoio ao maior banco do país, o BNP, argumentando que ele não tinha quebrado as regras europeias, o que levou a um debate sobre ter sido vítima de decisões judiciais  dos EUA que pretendem aplicar-se a outros países.
Sr. Sapin disse que iria levantar a necessidade de uma alternativa mais forte para o dólar com outros ministros das Finanças da zona do euro, quando se reunirem em Bruxelas na próxima segunda-feira, recusando-se antes disso a entrar em detalhes sobre que passos práticos podem surgir.
Mais da metade dos empréstimos transfronteiriços e depósitos são transacionados em dólares (num estudo recente, o dólar era utilizado em 87 por cento de todas as relações comerciais). Apesar dos esforços para diversificar as moedas, muitos bancos centrais dizem que eles ainda não vêem outra alternativa real para a segurança e a liquidez do mercado de Tesouro dos EUA, e detêm mais de 60 por cento de suas reservas em dólares.
Um alto funcionário francês lançou dúvidas sobre a capacidade do governo para estimular a continuação da utilização do euro no comércio internacional: "No fim das contas, é difícil saber o que pode realmente fazer. O mercado realmente decide essas coisas. "
O Sr. Sapin no domingo reiterou comentários feitos na semana passada que o governo francês estava disposto a vender alguns dos € 100 mil milhões de participações empresariais, exercendo mais uma "gestão activa" sustentada.
Não quis comentar sobre a escala ou ritmo do objectivo de vendas, mas disse que o dinheiro será usado "para reduzir a dívida, para ajudar a financiar a nossa economia, a transição na política da energia e na habitação."


Estes debates e comentários em França reflectem contradições capitalistas que, em si mesmo, não devem ser saudadas, a não ser nos reflexos positivos que um mundo mais multipolar possa ter na contenção do domínio do imperialismo norte-americano.
Para não falar já do papel do euro, que não é uma moeda nacional mas um projecto de federalização de economias e de globalização financeira de dimensão  continental em que   alguns dos países dominam os restantes, amarrando-os a uma moeda e legislação que lhes retira a soberania para decidir, por si próprios, de acordo com os interesses dos respectivos povos e economias.

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