Segundo o jornalista Michael Stothard, do Finantial Times, no passado dia 7, o banco francês BNP Paribas comprou
páginas de publicidade na imprensa norte-americana para apresentar
"desculpas" e assumir responsabilidades, depois de ter sido multado
pelas autoridades dos EUA em 8,9 mil milhões de dólares (67,5 mil milhões de
euros) por ter ajudado países como Cuba, o Irão e o Sudão defenderem-se dos
embargos impostos pelos EUA. Entre a publicidade comprada estão páginas
inteiras no The New York Times e Wall Street Journal. "Esta semana, o BNP
Paribas chegou a acordo com as autoridades norte-americanas relativamente a
transacções com países que estão submetidas a sanções pelos EUA", escreveu
o director-geral, Jean-Laurent Bonnafé. "Sempre procurámos manter um nível
elevado em termos de comportamento, o que não conseguimos.
Lamentamos profundamente", acrescentou Bonnafé. De forma subserviente
o director geral declarou que "Os erros que vieram a público nunca
deveriam ter ocorrido no BNP Paribas". O banqueiro disse ainda que o
banco "tinha tirado as lições" e que "as pessoas envolvidas
foram punidas ou saíram do grupo".
Segundo Stothard, esta questão suscitou que os
meios políticos e empresariais da França se insurgissem contra a
hegemonia do dólar nas transações internacionais.
Michel Sapin, o ministro das
Finanças francês, apelou para um "reequilíbrio" das moedas
utilizadas nos pagamentos globais, dizendo que o caso BNP Paribas "nos
deve fazer perceber a necessidade de usar uma diversidade de moedas."
Em entrevista ao Financial Times, à
margem de uma conferência de economia do fim de semana "Eu acho que um
reequilíbrio é possível, e necessário, não apenas com o euro mas também com as
grandes moedas dos países emergentes" que são cada vez mais responsáveis
pelo comércio global. "
Christophe de Margerie,
presidente-executivo da Total, maior empresa da França, por capitalização do mercado,
disse que não via nenhuma razão para o petróleo ser comprado em dólares,
mesmo que o preço de referência em dólares permaneça..
"O preço do barril de petróleo
é cotado em dólares", disse. "Uma refinaria pode aplicar esse preço e
utilizando a taxa de câmbio euro-dólar num determinado dia, e acordar fazer o
pagamento em euros."
Um dirigente executivo de um grupo
industrial, o CAC 40, disse que apoiou a iniciativ do Sr. Sapin.
"Empresas como as nossas estão
num beco sem saída porque nós vendemos um lote em dólares mas podemos não
querer estar sujeitos a todas as regras e regulamentos dos Estados
Unidos", disse.
O alvoroço sobre a multa ao BNP
quebrou o ambiente normalmente calmo das conferências de economistas em
Aix-en-Provence. E sublinhou um novo ponto de atrito nas relações
transatlânticas.
Os meios oficiais franceses
vieram dar um forte apoio ao maior banco do país, o BNP, argumentando que ele
não tinha quebrado as regras europeias, o que levou a um debate sobre ter sido
vítima de decisões judiciais dos EUA que pretendem aplicar-se a outros
países.
Sr. Sapin disse que iria levantar a
necessidade de uma alternativa mais forte para o dólar com outros
ministros das Finanças da zona do euro, quando se reunirem em Bruxelas na
próxima segunda-feira, recusando-se antes disso a entrar em detalhes sobre que
passos práticos podem surgir.
Mais da metade dos empréstimos
transfronteiriços e depósitos são transacionados em dólares (num estudo
recente, o dólar era utilizado em 87 por cento de todas as relações
comerciais). Apesar dos esforços para diversificar as moedas, muitos bancos
centrais dizem que eles ainda não vêem outra alternativa real para a segurança
e a liquidez do mercado de Tesouro dos EUA, e detêm mais de 60 por cento de
suas reservas em dólares.
Um alto funcionário francês lançou
dúvidas sobre a capacidade do governo para estimular a continuação da
utilização do euro no comércio internacional: "No fim das contas, é
difícil saber o que pode realmente fazer. O mercado realmente decide essas coisas.
"
O Sr. Sapin no domingo reiterou
comentários feitos na semana passada que o governo francês estava disposto a
vender alguns dos € 100 mil milhões de participações empresariais, exercendo
mais uma "gestão activa" sustentada.
Não quis comentar sobre a escala ou
ritmo do objectivo de vendas, mas disse que o dinheiro será usado "para
reduzir a dívida, para ajudar a financiar a nossa economia, a transição na
política da energia e na habitação."
Estes debates e comentários em
França reflectem contradições capitalistas que, em si mesmo, não devem ser
saudadas, a não ser nos reflexos positivos que um mundo mais multipolar possa
ter na contenção do domínio do imperialismo norte-americano.
Para não falar já do papel do euro,
que não é uma moeda nacional mas um projecto de federalização de economias e de
globalização financeira de dimensão continental em que alguns dos
países dominam os restantes, amarrando-os a uma moeda e legislação que lhes
retira a soberania para decidir, por si próprios, de acordo com os interesses
dos respectivos povos e economias.