segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Lumumba", de Raoul Peck

O Instituto Francês em Portugal está a apresentar um ciclo de cinema, Cinemas do Mundo.
Ontem foi projectado "Lumumba", filme  que tem por fundo a independência do então Congo belga, a primeira eleição de um Primeiro-Ministro que estava então na cadeia, Patrice Lumumba, a conspiração contra ele por parte da CIA, do governo belga e de fantoches congoleses.
Golpe que termina com a prisão de Lumumba e de dois seus ministros que foram fusilados, sendo Lumumba esquartejado depois disso por dois conspiradores brancos que lhe dissolveram os pedaços do corpo em ácido sulfúrico, para desaparecer e não poder ser alvo de homenagens populares.
É um belo filme, a que pode aceder no Youtube em 9 partes.
Se quiser ver outros filmes do ciclo consulte o site do IFP
http://www.ifp-lisboa.com/

sábado, 28 de janeiro de 2012

Um fim de tarde com a música de Thomas Adès

Ontem foi um dia de encontro com o compositor e maestro Thomas Adès, dirigindo a Orquestra Gulbenkian.
A primeira parte foi dedicada a duas das suas melhores obras: Asyla e Polaris: Viagem para Orquestra.
Asyla tem uma conotação semântica com local de refúgio e também de santuário ou local de acolhimento de doentes mentais e essa múltipla interpretação está presente nos seus 4 andamentos.
Polaris se refere a um sistema estrelar múltiplo, imagem astronómica que inspirou o autor em "idéias melódicas e o fluxo musical derivam e evoluem a partir de uma série com propriedades magnéticas" (do programado concerto), com a criação de "um mecanismo musical no qual um conjunto de doze notas é apresentado gradualmente, mas regressando persistentemente a uma nota âncora como se estivesse magnetizado". (Puilip Jones, 2010).

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Frase de fim-de-semana, por Jorge


"Nos Estados Unidos, [...] a relação entre economia e política é quase caricatural:

os ricos utilizam o seu dinheiro para adquirirem mais poder e o poder para ganharem mais dinheiro"

Atlas da Globalização - Le Monde Diplomatique (2003)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Soneto quase inédito, de José Régio

Soneto quase inédito

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO Soneto escrito em 1969.



José Régio e o seu burro, por Hermínio Felizardo


sábado, 21 de janeiro de 2012

Frase de fim-de-semana, por Jorge



"Informação não é conhecimento,
conhecimento não é sabedoria
e sabedoria não é clarividência"

Arthur C. Clarke
(autor futurista, 1917-2008)

As bojardas de Cavaco Silva

As declarações de Cavaco Silva relativas às suas pensões são uma afronta à nossa inteligência e às dificuldades em que vive boa parte da população portuguesa. Dizendo que recebe 1300 euros de pensões mais qualquer coisa que não quantificou e que isso não lhe chega para as despesas, depois de ter prescindido do vencimento de Presidente da República, é algo que escapa ao entendimento de toda a gente....


Em primeiro lugar porque não é esse o valor de pensões que recebe.

Em segundo porque omite o património edificado e financeiro de que dispõe.

E em terceiro lugar porque não referiu a que tipo de despesas a que se refere, sendo altamente improvável que esteja a falar de alimentação, vestuário, transportes, despesas de saúde e educação, habitação principal, que são as despesas que afligem a generalidade das pessoas.

Terá encargos com outras habitações que a generalidade dos portugueses não tem. E certamento os tem por decisão sustentada nos próprios recursos ou em préstimos que terá contraído para esse fim.

O Presidente da República é uma figura ímpar no nosso sistema político. O respeito para com essa figura, apesar das diferenças de opções políticas, não tem sido quebrada. Mas com esta declaração dá um tiro no pé, mas dos grandes!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Amendoeiras, por Jorge












As primeiras
são as bravas, rosadas,
as das amêndoas amargas....

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Pacto de agressão", por Octávio Teixeira

É hoje formalmente assinado um alcunhado acordo de concertação social entre o Governo, o patronato e a UGT. Alcunhado porque um acordo, para o ser, implica que haja uma conciliação entre os interesses das partes contratantes, coisa que manifesta e declaradamente não existe neste caso. O próprio secretário-geral da UGT não teve pejo em declarar que é um "acordo fortemente negativo para os trabalhadores". O que só pode significar que aquela central sindical abdicou de defender os interesses dos trabalhadores, cedendo em toda a linha às pretensões do governo e do patronato.

Os trabalhadores nada ganham com o que foi acordado, perdem tudo: mais dias de trabalho não remunerado, aumento do banco de horas gerido pelo patronato, imposição unilateral do patronato do gozo de férias nas pontes, menores indemnizações por despedimento, menos protecção no emprego com o alargamento das possibilidades de despedimento, redução das remunerações no âmbito das horas extraordinárias e pela via da acumulação temporária de salários com parte do subsídio de desemprego porque conduz à oferta de salários mais baixos.

O Governo tem o despudor de declarar que isso "reforça a competitividade da economia". Asneira, se o dissesse com seriedade. Do que se trata é de uma aposta governativa e patronal no modelo dos baixos salários - que está na base da crónica baixa produtividade da nossa economia - do trabalho sem direitos, da precariedade no emprego e do empobrecimento dos trabalhadores. O que é reforçado são os lucros e a exploração.

O dia de hoje ficará registado como a data de um pacto de agressão sem precedentes aos trabalhadores portugueses, perpetrado pelo Governo e pelo patronato com o prestimoso colaboracionismo da UGT atraiçoando os trabalhadores.

Economista e ex-deputado do PCP
Opinião publicada hoje no Jornal de Negócios
Selecção de foto AA

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Contra os trabalhadores, marchar, marchar...

Até dia 29, Frida Kahlo no Museu da Cidade

Exposição patente de 4 de Novembro de 2011 a 29 de Janeiro de 2012, no Pavilhão Preto do Museu da Cidade.

A Casa da América Latina trouxe a Lisboa uma selecção de 257 fotografias das 6.500 que compõem o acervo da Casa Azul/Museu Frida Kahlo numa exposição intitulada “Frida Kahlo - As Suas Fotografias”. Esta é a primeira apresentação internacional da exposição que pôde ser visitada desde 4 de Novembro de 2011 até 29 de Janeiro de 2012, no Pavilhão Preto do Museu da Cidade (Campo Grande, 245).

Esta exposição que mostra uma série de fotografias que pertenciam ao acervo pessoal da artista, na sua maioria desconhecidas, divide-se em seis núcleos: Os Pais: Guillermo e Matilde; A Casa Azul; O Corpo Acidentado; Os Amores de Frida; A Fotografia e a Luta Política. Não se pretende apresentar uma cronologia da vida e obra de Frida Kahlo, mas antes, mostrar pedaços da sua história pessoal e da sua intimidade, de um país e de uma época, permitindo também descobrir novas facetas de uma personalidade complexa e enigmática do século XX.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Congresso Internacional Marx em Maio

 Nos próximos dias 3, 4 e 5 de Maio de 2012, realizar-se-á, no anfiteatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o Congresso Internacional Marx em Maio, perspectivas para o séc.XXI, organizado pelo Grupo de Estudos Marxistas. Congresso multidisciplinar, incluindo participantes das áreas da Filosofia, da História e da Economia, mas também das Ciências naturais, das Artes plásticas, da Política e do mundo sindical, o seu fio condutor será a actualidade e fertilidade do pensamento marxista enquanto instrumento fundamental de análise crítica. Num contexto de crise generalizada, pautada pela desconsideração do papel da racionalidade, da teoria e da cultura como elementos fundamentais de transformação, individual e colectiva, o Congresso Marx em Maio procurará contribuir para o aprofundamento de problemáticas centrais dos nossos dias e para o estímulo de um pensamento científico guiado por uma racionalidade crítica e dialéctica.
A lista dos participantes, assim como o título das comunicações estão disponíveis em http://marxemmaio.wordpress.com/
Para mais informações, contactar :
grupodeestudosmarxistas@gmail.com

domingo, 15 de janeiro de 2012

Concerto de Ars Antiqua de Paris, dia 20, às 20.30 h, na Igreja de S. Luis dos Franceses

Ars Antiqua de Paris
A embaixada de França apresenta um concerto excepcional de Ars Antiqua de Paris na Igreja São Luís dos franceses:

ARS ANTIQUA DE PARIS

Fundado em 1965, o Ars Antiqua de Paris que explora um repertório da Idade Média à Renascença, tem-se apresentado nos mais importantes festivais, com digressões regulares pela Europa, E.U.A., Canadá, Extremo-Oriente, África e América do Sul. Em Abril e Maio de 2010, fez uma digressão de 23 concertos através da Colômbia, Venezuela, Chile e Perú. Em Valparaíso, o Círulo de Críticos de Arte do Chile, consideraram o concerto do Ensemble Ars Antiqua de Paris como o Melhor Concerto Internacional em 2010. O Prémio foi entregue em Abril de 2011.

Mais informações: http://arsantiqua.free.fr/

Os músicos:



JOSEPH SAGE é um contra-tenor, com uma extensão vocal de três oitavas o que lhe permite abordar um vasto repertório. Joseph Sage criou, na Opéra Comique de Paris e em muitos festivais (incluindo o de Avignon, as óperas contemporâneas "Orden" Addio Garibaldi" e "Le diable dans la bouteille".

THIERRY MEUNIER trabalhou com Javier Hinoosa a interpretação da guitarra, do alaúde e da música antiga, na École Normale de Paris e na Schola Cantorum de Paris. Para além disso frequentou vários cursos de alaúde com Paul O'Dette. Apresentou-se em numerosos concertos a solo, duo ou ensemble, em França e no estrangeiro e em publicções editadas nas Éditions Musique Transatlantiques (Paris) e Heinrichsofen's Verlag (Willemshaven).

CHRISTINE LOOSFELT : Medalha de Ouro para flauta de bísel, Medalha de Ouro de História da Música, Primeiro Prémio de Música Barroca dos Conservatórios Nacionais de França, Christine Loosfel toca regularmente em França e no estrangeiro. Com o Ensemble Cappriccio Stravagante foi Diapasão de Ouro e editou nas Edições Mardaga, uma obra dedicada ao tratado de Ganassi, "La Fontegara". A flautista lecciona também flauta de bísel no Conservatório Nacional de Calais.

O programa:

Musique au temps de Saint Louis
Musique française du XIVème et XVème siècle
L'Âge d'or de la Musique espagnole (XVIème siècle)
Intervalo
Shakespeare et la Musique élisabéthaine (XVIème siècle)
Musique française du XVIème et du XVIIème siècle

Onde?

Igreja Saint Louis des Français, Rua das Portas de São Antão- Lisboa

Outros filmes...

sábado, 14 de janeiro de 2012

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"A pobreza é a pior forma de violência"

(Rua da Boavista 84 - Lx)

EUA e Israel, com apoio "ocidental", provocam o Irão e a Síria

O assassinato por um sniper de um jornalista francês, que realizava uma visita enquadrado por autoridades sírias, e o assassinato de um dos responsáveis do programa nuclear para fins pacíficos do Irão (já é o quarto cientista deste programa assassinado) dão conta da escalada da provocação para mais guerras de agressão, que há muito se preparam.
Enquanto isto se passava tinha-se reacendido a campanha mediática contra ambos os países numa atitude de descomunal desrespeito pela inteligência das pessoas.
Para além das reservas que muitos de nós terão em relação aos regimes de ambos os países, importa que não nos deixemos enredar neste coro de críticas para a agressão passar.
Deste meu pequeno ponto de intervenção vos dirijo a todos, meus amigos, que de uma forma ou de outra, nos cruzámos nos caminhos da vida, para não deixarmos que se repita a situação anterior da Líbia.

A firmeza de princípios, a dignidade e  a solidariedade para com outros seres humanos não podem ficar reféns da tropa fandanga que domina os governos e a generalidade dos media "ocidentais".

A política e os seus efeitos desclassifica os seus autores

O governo não pára. As mal-feitorias sucedem-se.

O carácter anti-social das decisões que toma não resiste às fantasias das embalagens diáfanas com que as apresenta.
As previsões de melhoria da crise que sustentam a "austeridade" não se baseiam em dados objectivos. Há muitas condicionantes e imponderáveis que lhe escapam a ele e aos outros governos europeus.
As medidas da troika e suas sucedâneas querem tão só empobrecer os portugueses para os situar a um nível de condições que facilitariam maior sobre-exploração futura.


Quando comecei a escrever estas linhas sobre a falta de "fundamento" da política de austeridade do governo não sabia, não esperava que mais uma desclassificação do país por outra agência de rating norte-americana estava para ontem. Isso só serviu para ilustrar o que aqui tinha referido.


Num àparte não deixarei de referir que esta forma de nos designar como "lixo", humilhante, não é muito diferente da cultura da soldadesca norte-americana, que há dias urinava sobre cadáveres de combatentes afegãos.

Espera-se que isto contribua para que, entre o grupo dirigente desta democracia mitigada, possa sair algum sobressalto quanto ao alinhamento incondicional com as guerras que os EUA e Israel, com apoio da França e dos EUA, têm desencadeado no Médio Oriente e que se preparam para continuar contra o Irão e a Síria, num quadro que prepara uma 3ª guerra em que a China seria a principal visada...Tudo pelo humanitário interesse pelo petróleo e outras matérias primas.

Esta desclassificação da Standard & Poors no quadro europeu vai dificultar ainda mais o pagamento das dívidas e juros de empréstimos anteriores, pelo factor desconfiança que acentua nos mercados de eventuais compradores de dívida quer pelo aumento das taxas de juro que o Fundo de Equilíbrio Financeiro vai pagar e que repercutirá nos empréstimos à banca portuguesa.

Esta situação, aliada à quebra da produção própria, exige uma reconsideração global das condições dos empréstimos anteriores e do papel das instituições comunitárias para que a perspectiva de pagamento portuguesa da dívida não equivalha à transformação de portugueses e outros povos em escravos da Alemanha, num nível muito baixo de pobreza e sem o mínimo de soberania.

É significativo que Merkl já hoje tenha dito que esta revisão em baixa da S&P reflecte a falta de confiança dos investidores quando talvez devesse ter dito que é a desclassificação que induz essa falta de confiança...
 
O governo terá que ser cada vez mais confrontado com a recusa dos portugueses em aceitar este caminho.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"25 de Abril em Portugal: verdade ou mentira", por Fernando Sequeira, professor universitário

Sobre o 25 de Abril em Portugal tecem-se os mais contraditórios comentários. E agora mais do que seria de esperar, dado que já decorreram quase 40 anos sobre a Revolução dos Cravos. Parece existir a pretensão de justificar as dificuldades recentes com os acontecimentos revolucionários de então: a Revolução teria originado um ´catastrófico declínio da actividade económica’, e conduzido o País ‘à beira do caos, a um ‘passo do desastre’, etc. No entanto houve opiniões de eminentes professores do MIT que reconheceram que no início de 1976 a economia portuguesa estava ‘surpreendentemente saudável’, com resultados não muito diferentes dos do resto da Europa.

A evolução do produto interno bruto

Na tentativa de entendermos o que terá originado tão diversas opiniões, comecemos por analisar o gráfico que se segue. No eixo da abcissas indicam-se as datas, os anos que decorrem entre 1960 a 2010, e no eixo das ordenadas os logaritmos na base 10 dos correspondentes produtos internos brutos a preços constantes em Portugal (retirados da PORDATA) . Neste gráfico o produto interno bruto de cada ano em euros é dado pela potência de base 10 e expoente igual à ordenada do ponto correspondente a esse ano, e a taxa de crescimento anual pela inclinação da recta tangente ao gráfico nesse ponto. 1





A inclinação da recta traçada no gráfico corresponde a uma taxa anual igual à taxa média de crescimento do produto interno bruto entre os anos de 1960 e 1980. Como se observa no gráfico a taxa anual de crescimento do produto interno bruto manteve-se praticamente constante e a um valor bastante elevado durante este período, não tendo esse valor sofrido qualquer alteração sensível devida aos acontecimentos revolucionários de 1974-75 2. Os professores do MIT tinham razão, e se essa taxa se tivesse mantido depois de 1980, a produção em 2010 seria superior a 2 vezes e meia a que realmente existia nessa data: corresponderia à diferença entre um país rico e um país pobre 3.

O valor constante da taxa de crescimento desde 1960 a 1980 não significa que o aparelho produtivo do País não tivesse sofrido profundas alterações (recordam-se as nacionalizações, a Reforma Agrária, etc.) e que a distribuição da riqueza acumulada fosse a mesma: muito provavelmente o aumento da produção antes do 25 de Abril terá servido de sustento à guerra colonial e ao enriquecimento de alguns; com a Revolução contribuiu para o desenvolvimento de Estado Social Português, uma das grandes Conquistas da Revolução; acompanhando este desenvolvimento, aumentou o consumo, aumentaram os salários e de uma forma geral, o rendimento nacional.

O 25 de Novembro e a Contra-Revolução

O golpe de 25 de Novembro de 1975 porém, abriu novas perspectivas à contra-revolução, que pouco a pouco foi conseguindo travar o passo à Revolução, pondo em causa todas as Conquistas alcançadas: as Nacionalizações, a Reforma Agrária, o desenvolvimento económico, a universalidade dos direitos à Educação, à Saúde, enfim o próprio Estado Social, etc. E quem sabe a própria Independência Nacional.

A Contra-Revolução e a estagnação da economia

Com a Contra-Revolução, em poucos anos a estagnação económica, tornou-se um facto consumado, para durar (ver gráfico referente aos anos 1980-85 e anos consequentes); apenas foi interrompida nos períodos de 1986-90 e de 1996-2000 (ver o mesmo gráfico na parte referente a estes períodos). Mas convém referir o seguinte: o primeiro correspondeu á entrada de Portugal nas Comunidades Europeias e durante esse período foi preservado o princípio da coesão económica social com fundos comunitários, que foram usados para, em certo sentido, impor a Portugal o abandono dos seus recursos naturais, das suas actividades produtivas, portanto das linhas de desenvolvimento que vinha trilhando; comparando o gráfico nos dois períodos e posteriormente, pode-se observar os efeitos da nova política económica imposta pela Europa; esses efeitos são evidentes a partir de 2000, tendo o euro, não só encontrado mas também contribuído para a estagnação da economia portugue sa.

A estagnação económica tornou-se numa porta aberta para o endividamento do País. Se o crescimento económico tivesse aumentadoao ritmo dos anos que se seguiram à Revolução, no ano 2010 a produção poderia ter sido cerca de duas vezes e meia a que realmente se verificou nesse ano. O endividamento foi consequência não do consumo excessivo, mas da paralisação da economia, e do seu enfeudamento à Europa. Mas as classes dominantes em Portugal parece não se terem preocupado com essa paralisação, seguindo na senda da Europa, ao procurar manter os seus lucros através de uma maior exploração da classe trabalhadora (ver gráfico seguinte).



A Contra-Revolução e a Crise do capitalismo

Encontrando-se o País fortemente endividado, a dívida foi aproveitada pelos governos PS, PSD e CDS para contrair um empréstimo a juros agiotas e em condições draconianas. Com o argumento da necessidade de o País cumprir ‘as suas obrigações’, isto é de pagar esse empréstimo e os correspondentes juros, impuseram ainda, com o apoio do grande capital e o desemprego em massa da classe trabalhadora, uma política que lhes permitia atacar o que restava da Revolução de Abril: a resistência dos trabalhadores e o Estado Social com todos os direitos inerentes: trabalho, saúde, educação…



* Nota final - explicação matemática do primeiro gráfico:

1.Para as curvas logarítmicas traçadas no primeiro gráfico, utilizei a tabela do PIB a preços constantes, construída com dados do INE-BP, base 2006, Fonte PORDATA, actualizada em Junho de 2011.

2 A substituição do valor inicial do PIB escolhido como base (no caso presente foi o de 2006) na construção da tabela a preços constantes, bem como da unidade monetária utilizada, escudos, dólares, euros ou marcos (no documento utilizei ‘mil euros’ como unidade monetária), não alteram a forma da curva logarítmica, apenas originam translações do gráfico paralelas ao eixo das ordenadas, mantendo as direcções das tangentes ou das rectas que unem dois quaisquer dos pontos (do gráfico). As taxas de crescimento do PIB são invariantes para as multiplicações por constantes, daí não me ter preocupado a fornecer dados inúteis, e muito menos a levantar outros problemas. As curvas logarítmicas são deslocadas para cima ou para baixo na direcção do eixo das ordenadas, sem alterar a sua forma; apenas se somam ou subtraem constantes aos valores do gráfico.

3.Pode dizer-se que a forma da curva logarítmica caracteriza bem a evolução do PIB, é independente do valor da base e da moeda escolhidas, mas tem uma pequena ‘nuance’: as variações bruscas da taxa de crescimento, se de curta duração e sem reflexos futuros, como sucedeu em 1974, ficam esbatidas no gráfico; as que perduram, mesmo lentas que sejam (como a que se estendeu no período 1980-2010) reflectem-se com o devido realce.

4. O valor médio da taxa de crescimento do PIB em cada intervalo de tempo é proporcional à inclinação da recta que une os pontos do gráfico referentes ás extremidades desse intervalo (a constante de proporcionalidade é o logaritmo neperiano de 10 de base ; ver nota 2 de rodapé no artigo ). Através do gráfico pode observar-se que em quase nenhum intervalo de tempo posterior a 1980 a taxa de crescimento atingiu a média com que vinha do período anterior, incluindo o período revolucionário. Referimos o intervalo 1985-1990, mas a seu respeito tecemos alguns comentários no documento.

5.Para se ter uma ideia dos efeitos da perda do ritmo de crescimento da produção que existiu no período 1980-2010, podem comparar-se os valores do PIB dados na recta do gráfico com os da curva que representa o processo evolutivo que se verificou em Portugal; estes valores tomados no ano de 2010, por exemplo. O quociente desses valores do PIB é aproximadamente igual a 2,5 (ver nota 3 de rodapé). A recta representa a evolução do PIB a taxa de crescimento constante igual à taxa média anterior a 1980 (ver nota 1 de rodapé).




sábado, 7 de janeiro de 2012

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"o destino do homem não está inscrito em parte alguma"
Jacques Monod (prémio nobel da medicina francês, 1910-1976)

Os dedos do piano do nosso imaginário

Se há homens que contribuíram para o prazer da música, com sentidos elevados, Pedro Osório foi um deles. Dos que entregaram toda a vida a isso. Ele tem os dedos no piano do nosso imaginário.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Oratórias de fim de ano

Na sua oratória natalícia, o Primeiro-Ministro insistiu nos "compromissos a honrar" e nos "objectivos orçamentais e financeiros para cumprir". Isto é, no continuar a pedir emprestado, para pagar os juros e anteriores empréstimos , não havendo receitas da actividade produtiva bastante pela anemia crónica em que a meteram e estando-se em regime de empobrecimento que quebra os magros poderes aquisitivos...
O Presidente da República, com nuances para inglês ver, seguiu-lhe os passos.
Não advogando que se não cumpram compromissos adquiridos (embora uma parte deles sejam fruto de pura agiotagem à solta nesta União Europeia) , importa que o PM e PR se não esqueçam de coisas como:
  •  Não terem sido os portugueses agora chamados a pagar com língua de palmo quem deu cobertura à financiarização da economia nem quem criou produtos tóxicos na banca nem na imposição do crédito generalizado em que valeu tudo. Que tudo partiu de grandes brancos norte-americanos em 2007 que contagiaram a generalidade dos sistemas bancários com eles feitos. Insistir na tecla de que vivemos acima das nossas possibilidades (quem viveu?) só deveria servir para que os resultados fossem pagos pelos autores destas políticas, incluindo com prisão; 
  • À crise das dívidas soberanas, disso resultantes, responderam FMI, UE e BCE com medidas recessivas nos países mais fragilizados, impondo a troco de uma austeridade que funcione como garantia, "resgates", melhor dizendo super-empréstimos a taxas elevadas do que os países credores obtêm nos mercados. E tanto maior quanto se reduzem a despesa pública, a procura, as receitas fiscais;
  • Esta prática de "sugar até ao tutano" os países mais débeis como Portugal, traz como outra face da moeda, a impossibilidade destes pagarem as dívidas e continuarem a pagar as importações dos parceiros mais fortes;
  • Esta situação teria imposto que, há muito, a renegociação da dívida em valores especulativos, prazos de garrote que permitissem à economia respirar, relançá-la e combater a recessão e deflação;
O Presidente da República fala na necessidade de relançar a economia e de se não poderem corrigir as dívidas com receitas extraordinárias (que levam o estado e as empresas a terem que correr riscos muito mais elevados) mas relativamente às opções de fundo subscreve-as. Nem um nem outro falaram dos trabalhadores, o que não deixa de ser sintomático das suas motivações...