1. A propósito da utilização contra a Líbia de mísseis de cruseiro com urânio empobrecido, o Professor Massimo Zucchetti, professor da Universidade de Turim em instalações nucleares, refere na voltaire net.org que o apoio militar da NATO aos revoltosos de Benghazi contra o ditador de Trípoli está a ser feito contra as populações civis. Em média, um em cada dez mísseis descontrola-se e cai aleatoriamente na zona alvo. Todos os mísseis, quer os que têm uma cabeça revestida de urânio empobrecido quer os que têm apenas os seus estabilizadores de urânio empobrecido, poluem a área. Assim, este supostamente bombardeio "humanitário" matará nos próximos anos milhares de civis com cancro.
Segundo o autor é importante, recolher dados e estudos - e há muitos - quanto aos efeitos sobre o homem e o ambiente das "novas guerras". Que concluirão que as armas modernas, de modo nenhum “cirúrgicas”, produzem danos inaceitáveis, particularmente a partir da primeira chamada guerra “humanitária” em 1991.
2. O responsável pela rede noticiosa onde este trabalho foi publicado há alguns dias, Thierry Meyssan diz que a primeira vítima de uma guerra é a verdade. As operações militares na Líbia e a resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, que serve como base jurídica à actual intervenção, confirma a regra. Ela foi apresentada ao público como uma necessidade para proteger civis, vítimas da repressão indiscriminada do Coronel Kadhafi. Mas na realidade encobrem objectivos imperialistas clássicos.
Os invocados “crimes contra a humanidade”, invocados pelas potências que atacam a Líbia para insinuarem um julgamento de Kadhafi no Tribunal Penal Internacional, não se baseia em evidências comprováveis desde o início do conflito armado. Os ataques contra civis não adquiriram dimensão expressiva de parte a parte. As cidades por onde o conflito passou estão quase sem ninguém e os que nelas se mantêm não são combatentes. Procuram continuar a sua vida. Estes circulam em pick-ups com anti-aéreas e metralhadoras pesadasHá, de facto, muitos mortos em combate das forças militares a Kadhafi e de militares que passaram a apoiar os rebeldes. A obtenção de armamento ligeiro e pesado por estes nos quartéis do exército líbio de que se apoderaram, passou a conferir-lhes, de facto, mesmo que com reduzido grau de organização e atitudes aventureiras, o estatuto de combatentes.
A “ajuda humanitária” que as forças francesas estão a realizar são um apoio a uma das partes da guerra civil. Os bombardeamentos ingleses, franceses e americanos a alvos do exército líbio são a mesma coisa. A conformidade destes actos com a resolução do Coselho de Segurança em que a Rússia e a China deixaram a porta aberta para a situação actual é mais que questionável.
O que está em curso é uma agressão bárbara à Líbia dos colonialistas ávidos de petróleo.
Os dois pesos e duas medidas com que tratam diferentes situações de países onde também existem revoltas populares (não armadas) como no Bahrein, no Iémen.
Se o objetivo era proteger as populações civis, a zona de exclusão aérea deveriater sido limitada aos territórios insurgentes (como havia sido feito com o Curdistão do Iraque). Mas o que está a acontecer é a balcanização da Líbia. E um retalhar de África também, já visível no Sudão e na Costa do Marfim.
3. Os responsáveis políticos desertores do campo de Kadhafi têm altas responsabilidades mas são eles que as potências atacantes impuseram como “governo alternativo” em Benghazi, não permitindo que outras correntes árabes anti-imperialistas e os comunistas assumam responsabilidades no seio da rebelião. Com eles estão antigos chefes militares líbios e responsáveis do LIFG.
De entre os combatentes, uns são desertores do exército líbio outros paramilitares do LIFG (Lybian Islamic Fighting Group), ligado à Al Qaeda, cuja rede funciona há anos como instrumento das intervenções dos EUA e da NATO, desde a intervenção soviética no Afganistão. Ligado à CIA e ao MI6 britânico, o LIFG tem um historial de acção na Líbia que passou pela tentativa de assassinato de Kadhafi em 1996. E a Al Qaeda, depois da guerra do Afganistão, apoiou o exército muçulmano bósnio, o exército de libertação do Kosovo apoiados activamente pelos EUA e a NATO.
O ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros líbio, Moussa Koussa, que há dias “desertou” era, por um lado responsável pelos serviços secretos líbios, responsável pelos crimes de que o “ocidente” acusa Kadhafi e, simultâneamente, há cerca de dez anos agente duplo recrutado pelo MI6. Apoiante da Al Qaeda, de entre outras facções do governo líbio, viabilizou a formação operacional do LIFG que, por sua vez, negociou com os ingleses a “fuga” de Moussa Koussa. A partir de 2009, com a formação de militares líbios em luta anti-terrorista pela CIA, a CIA penetrouo aparelho de estado líbio.
É através do LIFG que a formação militar dos revoltosos e o reforço do seu armamento se está a dar a partir da CIA e MI6.
4. A intervenção de regimes autoritários árabes como a Arábia Saudita ou o Qatar contra a vaga de revoltas populares no norte de África deu-se combatendo os revoltosos e apoiando “alternativas” saídas dos regimes contestados no sentido de lhes fazer perder o carácter revolucionário que poderia alastrar também dentro das suas próprias fronteiras.
5. Se não tivesse havido intervenção estrangeira na Líbia, Kadhafi já teria derrotado a sublevação na Cirenaica. Com ela, mantida neste nível, a situação ficará num impasse, arrastando-se o número de mortos. Se essa intervenção aumentar qualitativamente, em violação clara da resolução da ONU, as forças de Kadhafi poderão ser derrotadas.
Talvez isso justifique a recusa por parte do “governo” apoiado pela NATO da proposta feita pelos filhos de Kadhafi hoje para um cessar fogo e conversações para um governo de unidade nacional.
Governo esse apoiado e integrado pela estrutura líbia da rede da Al Qaeda...