O combate aos fogos tem duas vertentes que, como os comunistas salientaram neste dois últimos meses, têm que pesar de forma diferente na política de combate aos fogos. Sendo que ambas têm que ser objecto de medidas consequentes, sob pena das boas intenções ficarem parcialmente no papel sem atacar as situações de fundo que originam o desastre. Não sou um especialista nas matérias mas em vários anos da minha actividade profissional contactei com diferentes aspectos dessas duas vertentes para não me sentir como mais um a mandar palpites sobre os enormes sofrimentos causados às populações e aos bombeiros por esta tragédia. Nem a ficar-me pelo simplismo não inocente de ver a questão central nas actuações criminosas ou nas “alterações climáticas”, remetendo para outras instâncias as medidas decisivas neste combate.
A vertente a que normalmente se dá mais atenção é, na altura dos combates contra os fogos, a dos recursos humanos e materiais ao serviço dos bombeiros e protecções civis. É possível, para já, detectar algumas melhorias neste campo. O mesmo aconteceu na coordenação dos meios. Mas, como, alguns apontamentos de reportagem revelaram, persistem desajustamentos que implicariam, entre outras medidas, como a melhoria de planos e meios de protecção civil a nível concelhio, a coordenação entre diferentes níveis de protecção civil e municípios, para suster a subida de número e dimensão dos fogos.
A outra é a que respeita ao agir, de forma continuada sobre as debilidades ou problemas estruturais da floresta. Como, por exemplo, o abandono dos campos, o insucesso das políticas agro-florestais, que minimizariam os efeitos desse abandono, a limpeza da floresta que passou a ser mais cara, os preços baixos pagos pela indústria do papel aos produtores de madeira, o abandono que isso gera na limpeza das matas, a falta de recursos para essa limpeza por alguns proprietários produtores ou compartes dos baldios individualmente. A que a experiência recomendou associar também alguns departamentos de universidades.
Não deixa de ser significativo, como salientou o deputado comunista Agostinho Lopes que “Entre 2008 e 2010, o preço da pasta de papel passou de 580 para 700 euros por tonelada, enquanto o eucalipto desceu de 45 para 39 euros por tonelada”, não deixando de referenciar que a Portucel duplicou os seus lucros de 2009 para este ano.
Como se compreende depressa este tipo de medidas não são compatíveis com a vigência de um PEC como este e suas contenções orçamentais que impedem o investimento e o ordenamento. A somar às frustrações de equipas técnicas pelos insucessos anteriores, a redução de recursos financeiros às Direcções de Recursos Florestais, que atingiu níveis intoleráveis e o regime de mobilidade especial, levaram a uma maior redução das equipas técnicas.
Por outro lado, medidas contra quem não limpe as áreas têm que ter em conta que o Estado não tem recursos para, só por si o fazer, o que implica fazer, alternativamente, aceder, em termos aceitáveis, à parte nacional da comparticipação em fundos regionais disponíveis, a apoiar essas candidaturas, e a estimular o associativismo na utilização dos recursos de limpeza.
Ainda a propósito de fogos, trabalhei numa empresa, de capitais exclusivamente públicos, onde a criação e o alargamento progressivo de uma equipa de sapadores florestais aumentaram a capacidade de limpeza, num quadro de gestão articulada com outros organismos, que já prestava serviços de limpeza de proximidade a quintas da área sob nossa gestão, colmatando a escassez de recursos dos organismos oficiais aí sediados, um dos quais apresentava uma gestão muito nebulosa, para ficar por aqui, e que além disso sabotava de todas as formas o nosso trabalho.
Antes do ICN e a câmara respectiva me fazerem saltar, tentei convencer o ministro, mais preocupado em aumentar o número de gestores remunerados numa empresa falida, a ter um só administrador executivo e aumentar razoavelmente o número de sapadores florestais…”. Isso é demagogia” disse ele. Um outro Secretário de Estado de outra pasta optou por me convidar “a retirar todos os esqueletos do meu armário”…
Com alegria vi ontem na televisão um jovem engenheiro que, depois de mim, foi afastado da empresa, quando era um quadro promissor, com boa formação técnica, um “todo-o-terreno” a ter responsabilidades na direcção de bombeiros no combate ao fogo. Boa!