quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Considerações breves sobre a crise e a sua evolução, de Carlos Carvalhas

Neste artigo, Carlos Carvalhas, ex-secretário-geral do PCP, revela as responsabilidade de José Sócrates na gravidade da crise e o efeito da propaganda do tipo da economia portuguesa estar robusta e "outras balelas do género, que só deixaram agravar a situação”.
Transcrevemos a primeira parte e remetemos o eleitor para a leitura completa no diário info.

A crise aí está a mostrar como foram erradas:

- A política do tudo à exportação, com o abandono da política da produção de bens transaccionáveis para a substituição de importações e o definhamento do mercado interno.
- A política de desindustrialização do país, com a crescente e excessiva dependência do investimento estrangeiro aumentando a vulnerabilidade e a incerteza quanto ao futuro, de que a Quimonda – que assegurava ficticiamente o nosso saldo positivo na balança tecnológica – e a Auto-Europa são exemplos.
- A política das privatizações dos empresas básicas e estratégicas e serviços públicos, que não se traduziu em benefícios para o país, antes pelo contrário. No sector financeiro por exemplo, importantes Bancos nacionais caíram em mãos estrangeiras e outros aumentaram a sua dependência. Perdeu o Orçamento de Estado, pois as receitas dos impostos sobre estas empresas diminuíram de imediato. Perdeu a economia nacional como um todo, pois o crédito – bem público – passou a ser gerido segundo os interesses particulares dos accionistas e não segundo o interesse público (1). As trafulhices no BCP, BPN e BPP – que são para já as conhecidas - evidenciam com clareza quais os desígnios da gestão privada e o pedido para a renacionalização da COSEC por parte dos exportadores, proposta já anunciada pelo governo, é a confirmação que aquela empresa nas mãos dos privados guiando-se pelos interesses particulares e de grupo não serve os interesses das exportações nacionais.
- A política de desvalorização e subalternização do investimento público; o combate ao défice com o estrangulamento da actividade económica; a submissão ao Pacto de Estabilidade e as concepções de que o mercado por si só era auto-regulador.
- A política de concentração de riqueza e da diminuição do poder aquisitivo das massas trabalhadoras e das camadas intermédias.
- O atraso com que se começou a reagir à crise, com as soberbas afirmações de que a economia portuguesa estava robusta e outras balelas do género, que só deixaram agravar a situação. A primeira resposta do governo foi a de ignorar a crise com o Banco de Portugal no seu “rame rame” e em que a política orçamental esteve praticamente ausente.
- A política de gestão das nossas reservas de ouro que foram sendo vendidas nos períodos de baixas cotações com o argumento de que não eram rentáveis – o que era verdade – mas não nos períodos de crise. A displicência com que têm sido geridas as reservas de ouro e as levianas concepções que tem aparecido quanto à sua aplicação mostram por parte do Banco de Portugal e de outros “doutos” economistas do sistema, que para estes tínhamos chegado ao «fim da história » e que já não haveria mais uma crise como a que estamos a viver. Como dizia um clássico, num outro sistema o ouro até pode servir para fazer latrinas, mas no sistema vigente continua a ser um valor refúgio que deve ser gerido não de forma imobilista – boi Ápis – mas para a sua valorização e rentabilidade (2)
(...)

Notas

(1) O governo criou um grupo de contacto entre a banca e associações empresariais para avaliar as queixas dos empresários sobre gestão e concessão do crédito. “Diário Económico” 22/05/09(2) Face à incerteza da evolução do dólar a China tem vindo a comprar importantes quantidades de ouro.

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