quinta-feira, 30 de abril de 2015

José Goulão - União Europeia afogou os direitos humanos no Mediterrâneo

 
 

no Mundo Cão 26 de Abril 2015
Os resultados da cimeira da União Europeia dedicada à tragédia no Mediterrâneo confirmam que os conceitos de “humanismo” e “direitos humanos” se transformaram em palavras ocas a usar obrigatoriamente nos discursos e declarações oficiais, mas que deixaram de fazer qualquer sentido nas mentes dos dirigentes, pervertidas por estatísticas, indicadores e cálculos.

Por José Goulão, no Mundo Cão 26 de Abril 2015

O panorama tornou-se de tal maneira vergonhoso que permitiu a emergência de Jean-Claude Juncker, o tecnocrata que preside à Comissão Europeia, como figura dotada de resquícios de alguma sensibilidade. Por isso, falou sozinho e as suas propostas foram derrotadas.

A arte propagandística da manipulação dos números, usando termos como “triplicar verbas” e insistindo no uso da palavra “milhões”, não resiste a uma avaliação breve dos resultados. Em suma, os chefes dos 28 países – que gastaram longas quatro horas dos seus preciosos tempos à ameaça que paira sobre milhões de seres humanos – decidiram gastar 9 milhões de euros por mês nas operações de patrulhamento do Mediterrâneo através do Frontex, a polícia das fronteiras externas da União, em vez dos 2,9 milhões atuais.

Pois bem, descodificando a multiplicação por três: os 9 milhões correspondem ao que a Itália gasta sozinha na operação Mare Nostrum e, ao contrário desta, que se estende até os limites das águas líbias e tunisianas, restringem-se apenas às águas territoriais dos países ribeirinhos da União, evitando as zonas onde acontecem a maioria dos naufrágios. Recorda-se que o orçamento da União Europeia para 2015 é de 161,8 mil milhões de euros.

Como o preço da vida humana anda de facto muito baixo nas cotações bolsistas, note-se que 9 milhões de euros/mês correspondem a menos de um décimo do orçamento do Frontex, que obviamente tem muito mais  que fazer. O seu diretor-geral, Frederice Leggeri, explicou que este corpo “não tem por missão salvar vidas”, e se o faz é apenas por imposição “do direito marítimo”, porque deve dedicar-se, isso sim, a “controlar e triar as entradas de imigrantes irregulares”.

No quadro das decisões tomadas durante a trabalhosa reunião, a chefe da política externa da UE, a italiana Federica Mogherini, foi encarregada de estudar os meios jurídicos a que é possível recorrer, no quadro das leis internacionais, para combater as redes de traficantes de carne humana que medraram como cogumelos no Mediterrâneo depois de a Otan ter “libertado” a Líbia. Ou seja, a dirigente europeia vai refletir nas leis para combater traficantes de pessoas que fogem da guerra e da miséria depois de a União Europeia ter passado por cima de todas as leis internacionais para fazer a guerra na Líbia e desmantelar o país, deixando o terreno perfeito para os praticantes de todos os tráficos.

Quanto aos imigrantes propriamente ditos que sobreviverem às tragédias no mar dificilmente escaparão à triagem do Frontex, muito mais preocupado em expulsá-los para os países de origem, para as situações de que fugiram – sendo que esta medida viola a Declaração Universal dos Direitos Humanos, coisa de que não é matéria obrigatória, nem facultativa, nos cursos de economia neoliberal, incluindo os tirados por correspondência. Para o acolhimento “solidário” dos imigrantes que escaparem a tudo isto, a União Europeia vai criar um “programa piloto” de integração, ideia que dificilmente encontrará saída no labirinto da burocracia europeia, onde nem sequer ainda entrou. Talvez o objectivo seja esse.

Registemos que as quatro longas horas de reunião foram um favor feito pelos dirigentes europeus aos milhões de seres humanos vítimas de guerras e misérias. O presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald Tusk, foi muito claro quanto a isso: “a Europa não causou esta tragédia, mas não quer dizer que lhe seja indiferente”. Leram bem, sim. Um dos padrinhos do caos ucraniano diz que a Europa não tem culpa nas guerras de que fogem os náufragos. Síria, Líbia, Iraque, Afeganistão, Egito, Mali … A União Europeia tem as mãos limpas destes acontecimentos. A mentira e o absurdo tornaram-se instrumentos privilegiados dos políticos que mandam na Europa.

Como nota final de mais um episódio obscuro da história obscura da União Europeia deixo-vos esta pérola patética do impagável Hollande: “gostaria que tivéssemos sido mais ambiciosos…”. Então o que os impediu?

 
 


segunda-feira, 27 de abril de 2015

Não brinquem com a Segurança Social! O dinheiro não é vosso, é nosso! por José Gomes Ferreira

Vindo de quem vem - um jornalista que frequentemente tem considerado aceitáveis  as medidas deste governo -, aqui transcrevo o texto que publicou no passado dia 24 no Expresso on line.
 
Nas últimas semanas, multiplicaram-se as propostas de alteração das regras da Segurança Social. Tanto o Programa de Estabilidade apresentado pela maioria do Governo como o relatório do cenário macro económico apresentado pelo Partido Socialista propõem fazer política económica à custa dos sistemas de Previdência, privado e público (GCA). É um erro. A as contribuições e as reservas destinadas a pagar pensões e proteção no desemprego e na doença não devem ser desviadas para fomentar a economia. É trocar receita certa e fundamental para prevenir o futuro de todos, por resultados incertos económicos incertos e uma inevitável descapitalização do sistema.
A Maioria PSD-CDS quer baixar a contribuição dos patrões sobre os salários dos trabalhadores para o sistema, de forma a deixar mais dinheiro nas empresas e a incentivar o investimento e a criação de emprego.
As empresas mais beneficiadas são as grandes que vivem em mercados protegidos e não vão criar novos empregos coisa nenhuma. Cada vez despedem mais para alargar as suas margens de rendibilidade face a mercados em retração por causa da crise. Quanto mais dinheiro tiverem em caixa, mais dinheiro vão pagar em dividendos aos acionistas. Estou a falar de seguradoras, bancos, empresas de energia como a EDP e a GALP, grandes empresas de distribuição ou hipermercados que, apesar de viverem em alguma concorrência, esmagam os preços aos produtores e só criam empregos com salários mais baixos e menos seguros.
As pequenas e médias empresas, as que aguentam os empregos na crise e fora dela, não vão criar mais empregos por causa de uma baixa da TSU. Só os criarão se a procura aumentar e puderem vender mais bens e serviços. Isso não depende da baixa da TSU. Depende da retoma generalizada do país. E esta por sua vez depende de políticas económicas a sério como o combate sem tréguas às burocracias, créditos e apoios à recapitalização com dinheiro mais barato, seguros de crédito e apoios à exportação a custo aceitável e um sistema de justiça económica rápido e eficiente.
No Programa de Estabilidade ficou também inscrita uma baixa dos descontos dos novos trabalhadores para a Segurança Social que, em consequência, terão reformas mais baixas. É o chamado plafonamento, que significa baixar as receitas do sistema para pagar menos mais tarde, deixando entretanto um buraco financeiro irreparável no conjunto destinado a pagar as atuais pensões de quem já se reformou. É a introdução do princípio da capitalização, que o CDS sempre defendeu para pôr mais dinheiro nas mãos das seguradoras e fundos de pensões. É o princípio do fim do sistema de repartição, que tem trazido alguma justiça social ao país durante décadas e que fica agora em risco.
Multiplicam-se as propostas de alteração das regras da Segurança Social. É um erro.
Mas também o PS acaba de propor o regime de capitalização na Segurança Social, de forma encapotada. O cenário macro económico da equipa de Mário Centeno aposta numa descida de quatro pontos percentuais da TSU a cargo dos trabalhadores com menos de 60 anos até 2019. O rombo reconhecido na receita é de 1050 milhões de euros nesse ano. A partir de 2021, o pagamento das pensões aos atuais trabalhadores futuros reformas vai sendo gradualmente cortado até chegar ao máximo de 2,6 por cento a partir de 2027. É o plafonamento disfarçado. O PS diz que quem quiser pode por o remanescente dos atuais descontos numa bolsa de capitalização gerida pelo Estado, mas é óbvio que os contribuintes não vão fazer isso porque já não ganham muito e não terão incentivos para o fazer. O PS quebra assim, deliberadamente o princípio da repartição na Segurança Social que, repito, tem sido a melhor forma de assegurar alguma justiça social nas últimas décadas.
E ao mesmo tempo cria um rombo enorme no financiamento do sistema que não explica como vai compensar.
O mesmo PS apresenta uma proposta ainda mais radical do que o Governo e o FMI fizeram com os sistemas de pensões durante os anos da assistência. Quer baixar quatro pontos percentuais até 2019 nos descontos a cargo dos patrões sobre os salários trabalhadores. Diz que o rombo é de apenas 200 milhões de euros de cada ponto percentual por ano, o que significa que a partir de 2019, o sistema fica com menos 800 milhões de euros. A somar aos mais de mil milhões de euros da TSU dos trabalhadores estamos a falar de uma descapitalização do sistema em quase 2 mil milhões de euros anuais. O PS diz que vai compensar este rombo com a reintrodução do imposto sucessório, uma penalização sobre as empresas que despeçam mais trabalhadores e o congelamento da descida do IRC.
Tudo isto é trocar receita atual certa por receita futura incerta e criar riscos enormes nos sistemas de pensões do país.
Para os leitores perceberem, a Segurança Social, ou Previdência, dos trabalhadores privados, tem receitas anuais de 14 mil milhões de euros e despesas com pensões de 13 mil milhões de euros. A diferença é gasta em subsídios de desemprego e de doença, mas o sistema está equilibrado, ao contrário do que os políticos nos dizem. Ao lado deste sistema existe uma bolsa de reserva da Segurança Social no valor de 11 mil milhões de euros que dá para pagar 11 meses de pensões. (Com dinheiro desta bolsa, o PS teve a ideia peregrina de usar uma parte para fomentar o setor da construção e recuperação urbana).
Já o sistema público, a Caixa Geral de Aposentações, tem responsabilidades de pagamento de pensões de 8 mil milhões de euros por ano e receitas de pouco mais de 4 mil milhões de euros. A diferença fica a cargo do contribuinte. É neste sistema que a Maioria no Governo quer fazer cortes de 600 milhões de euros para reduzir o défice.
O mesmo Governo que junta deliberadamente os dois sistemas público e privado sob a mesma designação genérica de Segurança Social, quando são realidades diferentes, e lhe quer provocar um rombo enorme com a baixa da TSU para os patrões e o plafonamento dos descontos dos novos trabalhadores.
Se todos os portugueses soubessem o que está escrito neste pequeno texto e tivessem plena consciência do que os políticos se preparam para fazer com o dinheiro das nossas reformas fariam uma manifestação quatro vezes maior do que a que foi feita em Lisboa contra a TSU no dia 15 de Setembro de 2012.

domingo, 26 de abril de 2015

O horror no Nepal

À medida que os dias passam a contabilidade do horror apresenta novos valores cada vez mais altos. Quando escrevo estas linhas são já mais de 2500 os mortos resultantes do violento tremor de terra e respectivas réplicas que ainda perduram.
No Nepal não existiam recursos para dar um resposta à altura do desastre. Impôs-se uma ajuda internacional de países com mais recursos como a China, a India, vizinhas do Nepal, e dos EUA e UE.
O sismo de 7,8º na escala de Richter matou, destruiu casas, vilas e aldeias, arrasou património histórico de imenso valor.
Mais uma vez se revela como países de reduzido desenvolvimento constroem edificações que não resistem a tais violências e nos interpela a lutar pelo fim do capitalismo que permite e agrava tantas desigualdades, que desvia recursos para os mais poderosos e para as guerras que eles realizam em vários pontos do nosso planeta.

No desfile de ontem as certezas do futuro

Foram muitos. Diferentes entre si, é certo. Mas apostando na viragem de que o país precisa na política e no governo.Não nos venham cantar as velhas canções de bandidos, como as do vergonhoso discurso de Cavaco Silva que se despediu do Abril com que nunca se conformou. Para ele o que interessa será o atingir-se uma espécie de convergência partidária, concebida como uma nova União Nacional, com a magnânima capacidade de interpretar o que interessa ao país e aos portugueses, sem os ter como elemento integrante das decisões.

Antes de se retirar para Boliqueime, agravará esta sua postura de presidente que se confunde com governo para governar para uma parte dos portugueses. Cavaco já não é o presidente de todos  os portugueses. É uma coruja a proteger a sua própria ninhada, que ontem renovou os votos, sem surpresa para ninguém.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Frase de fim-de-semana por Jorge

"Todas as coisas são difíceis antes de se tornarem fáceis"

Saadi Shirazi
poeta persa, 1213-1291

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Recordando o Mariano Gago


Conheci o Mariano Gago no Técnico em 1968.
Foi um ano de lutas estudantis que abalaram o regime, e em
que eu fui um entre muitos activistas (ou colaboradores associativos para o jargão da época).
No rescaldo dessas lutas uma lista por ele presidida, de que eramos vice-presidentes eu e o Rui Teives, bem como o João Vieira Lopes que ficou com as relações externas e o A.P.Braga como tesoureiro, entre outro, ganhou as eleições como lista única e largo apoio entre os estudantes do IST.
No decurso deste mandato ocorreram novas lutas.

O Governo voltou a fazer depender, em Dezembro, o adiamento do serviço militar dos estudantes do seu “comportamento académico”. Conselho Universitário da Universidade Técnica de Lisboa dá parecer desfavorável à medida, para depois recuar. Um plenário de estudante do IST aprova moção contra a arbitrariedade expressa na nova legislação militar (recrutamento para o exército por razões disciplinares.
A partir de Fevereiro a AEIST deu todo o apoio logístico e técnico à luta dos estudantes do Instituto industrial de Lisboa que passou por um longo período de encerramento da escola e da associação de estudantes. O mesmo apoio foi dado à luta dos Estudantes de Coimbra, do Instituto Comercial de Lisboa e do ISEG, ambas escolas ocupadas pela polícia.
No dia 6 de Maio realiza-se uma manifestação de estudantes de Lisboa pela libertação dos estudantes presos, com gritos contra a PIDE, o fascismo e a guerra colonial.

Em 10 de Maio os estudantes de Lisboa, em Assembleia Magna, na Cantina da Cidade Universitária decidem decretar greve na Academia em 15 de Maio em solidariedade com os estudantes e Coimbra, também vítimas da repressão.
Nos dias seguintes, centenas de estudantes manifestam-se duas vezes, em Lisboa, em solidariedade com os colegas presos, contra a repressão e em solidariedade com a Academia de Coimbra
Em Julho, o Conselho Consultivo para coordenar a preparação da reforma do ensino dá por encerrados os seus trabalhos, depois de uma participação mitigada de estudantes do IST.
Anunciadas em Setembro reformas do IST e ISCEF, do Ministro Veiga Simão, que se alargariam a todas as Universidades. Alguns aspectos vêm já do tempo de José Hermano Saraiva, como a criação do Politécnico e de um secretariado para a Reforma, que integra Fraústo da Silva, Miller Guerra e outros professores, mas que se demitiria posteriormente por não ter acesso à comunicação social.

Daí  conheci ao "José Mariano" características que manteve ao longo da vida: querer ouvir e saber, só depois formar opinião, ser firme mas dialogante. Não estando de acordo com ele em algumas decisões enquanto Ministro, importa ressaltar dois aspectos: Foi o único Ministro da Investigação que sabia do que falava, que colocou a Ciência e a Investigação no centro da vida e da cultura políticas, era um homem de serviço público, não fechado nas escolas mas progredindo também nas interacções exteriores que poderiam beneficiar cientificamente o País. Como aconteceu.

Deixo-vos aqui em baixo uma foto de um convívio que fizemos
no IST em 2002. Ele está na 1ª fila, na ponta da direita a dizer-nos adeus.
    
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A História impõe à Europa que receba, acolha e integre estes imigrantes

Nas últimas décadas terão morrido em várias rotas migratórias para a Europa mais de 25 mil pessoas.

A Europa carrega a importância moral deste fenómeno.
Os colonizadores europeus em África despojaram os povos de vários países de condições mínimas de dignidade enquanto lhe saqueavam matérias primas, deixando de lado investimentos de desenvolvimento até à descolonização.
Mais recentemente as "Primaveras" árabes em países do Mediterrâneo fizeram implodir estados que ofereciam garantias desenvolvimento e coexistência de diversas tribos e nações. Ficaram no seu lugar bandos de  malfeitores que, entre outras coisas, traficam imigrantes para a Europa, sabendo que milhares deles irão morrer depois de lhes cobrar elevadas quantias. Há rotas particulares de tráfico humano para o trabalho ilegal escravo e a prostituição na Europa.
A agressão pela NATO em vários países do Médio Oriente pioram esta situação.
O envio por Israel e a Arabia Saudita, com o silêncio cúmplice dos EUA e UE,
 de estruturas do Estado Islâmico e Al Qaeda para zonas problemáticas para os seus interesses agravam a selvajaria da guerra.

Segundo a jornalista Lúcia Müzzel, no ano passado, a União Europeia pediu o encerramento da operação de salvamento Mare Nostrum, que, segundo a Amnistia Internacional, permitiu resgatar 170 mil pessoas. Os europeus avaliaram que, ao propor um sistema de resgate, acabaram estimulando mais viagens de embarcações ilegais.
Agora, a operação Triton apenas monitoriza o mar, mas não tem o objetivo de socorrer barcos em dificuldade. “A proporção dos salvamentos é muito reduzida, porque as operações não cobrem toda a parte central do Mediterrâneo e ainda menos as águas internacionais em alto mar, onde acontece a maioria dos naufrágios. Ou seja: sim, a União Europeia tem consciência do fato de que as pessoas estão perdendo vidas, mas por razões de controle do fluxo migratório e de gestão da imigração, e não para salvar vidas”, ressalta Jean-Fraçois Dubost, membro da Amnistia Internacional na França. “A Europa está comprometida com operações que não salvam ninguém.”

A União Europeia tem que tomar medidas para a defesa destes imigrantes, o seu encaminhamento para situações de vida legais que os defenda um pouco da exploração patronal.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Raul Castro: viemos aqui cumprir com o mandato de José Marti, com a liberdade conquistada com as nossas próprias mãos

Segundo a reportagem do Granma de ontem, o presidente Raúl Castro afirmou no sábado 11 de abril que Cuba foi à 7ª Cimeira das Américas cumprir o mandato de José Martí com a liberdade conquistada com nossas próprias mãos.
Photo: cumbredelasamericas.pa
Agradeceu a solidariedade de todos os países da América Latina e do Caribe que tornou possível que Cuba participasse em pé de igualdade neste fórum hemisférico, e ao presidente da República de Panamá pelo convite e pelos minutos concedidos, pois “tantos anos de ausência” nestas cimeiras justificava que se estendesse um pouco mais que os oito estabelecidos para falar na sessão.
Sustentou que quando nos dias 2 e 3 de dezembro de 2011 foi criada a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos, em Caracas, se  inaugurou uma etapa na história de Nossa América, que tornou patente o seu direito, bem ganho, de viver em paz e a desenvolver-se como determinem livremente os seus povos e se traçou para o futuro um caminho de desenvolvimento e integração, baseado na cooperação, a solidariedade e a vontade comum de preservar a independência, soberania e identidade.
No ano 1800, pensou-se em adicionar Cuba à União do Norte como o limite sul do extenso império. No século XIX, surgiram a Doutrina do Destino Manifiesto com o propósito de dominar as Américas e o mundo, e a ideia da Fruta Madura para a gravitação inevitável de Cuba para a União norte-americana, que deixava de lado o nascimento e desenvolvimento de um pensamento próprio e de emancipação.
Afirmou que depois, mediante guerras, conquistas e intervenções, esta força expansionista e hegemónica despojou a Nossa América de muitos territórios, estendendo-se até o Rio Bravo.
Após longas lutas que foram frustradas, José Martí organizou a “guerra necessária” e criou o Partido Revolucionário Cubano para a conduzir e fundar uma República “com todos e para o bem de todos”, que se propôs atingir “a dignidade plena do homem”.
Ao definir com certeza e antecipação os traços de sua época, Martí entregou-se ao dever “de impedir a tempo com a independência de Cuba, que os Estados Unidos se estendessem pelas Antilhas e caíssem com força sobre nossas terras da América”.
A Nossa América é para ele a do crioulo, do índio, a do negro e do mulato, a América mestiça e trabalhadora que tinha que fazer causa comum com os oprimidos e saqueados. Ora, para além da geografia, este é um ideal que começa a tornar-se realidade, explicou Raúl.
Acrescentou que há 117 anos, em 11 de abril de 1898, o então presidente dos Estados Unidos solicitou ao Congresso autorização para intervir militarmente na guerra de independência, já ganha com rios de sangue cubano, e este emitiu sua enganosa Resolução Conjunta, que reconhecia a independência da Ilha “de fato e de direito”. Entraram como aliados e apoderaram-se do país como ocupantes.
Impôs-se a Cuba um apêndice na sua Constituição, a Emenda Platt, que a despojou de sua soberania, autorizando o poderoso vizinho a intervir nos assuntos internos e que deu origem à Base Naval de Guantánamo, a qual ainda usurpa parte de nosso território. Nesse período, aumentou a invasão do capital nortenho, houve duas intervenções militares e o apoio a cruéis ditaduras.
No dia 1 de janeiro de 1959, 60 anos depois da entrada dos soldados norte-americanos em Havana, triunfou a Revolução cubana e o Exército Rebelde comandado por Fidel Castro Ruz chegou à capital.
Em 6 de abril de 1960, apenas um ano depois do triunfo, o subsecretário de Estado Léster Mallory escreveu em um perverso memorando, revelado dezenas de anos depois, que “a maioria dos cubanos apoia Castro… Não há uma oposição política efetiva. O único meio previsível para restar apoio interno é através do desencanto e o desalento baseados na insatisfação e nas penúrias económicas (…) enfraquecer a vida económica (…) e privar Cuba de dinheiro e suprimentos com o fim de reduzir os salários nominais e reais, provocar fome, desespero e o derrubamento do governo”, citou Raul.
Também explicou que os cubanos têm suportado grandes penúrias. 77% da população cubana nasceu sob os rigores que impõe o bloqueio. “Mas as nossas convicções patrióticas prevaleceram. A agressão aumentou a resistência e acelerou o processo revolucionário. Aqui estamos com a cabeça bem erguida e a dignidade intacta”, sublinhou.
Quando já tínhamos proclamado o socialismo e o povo havia combatido na Baía dos Porcos para o defender, o presidente Kennedy foi assassinado precisamente no momento em que o líder da Revolução cubana Fidel Castro recebia uma mensagem dele procurando iniciar o diálogo, continuou.
Noutro momento do discurso, Raul afirmou que tinha expressado e reiterava agora ao presidente Barack Obama a nossa disposição para o diálogo respeitoso e a convivência civilizada entre ambos os Estados apesar das nossas profundas diferenças.
Considerou que o presidente Obama é um homem honesto e pensa que sua forma de ser tem a ver com a sua origem humilde. Mas normalizar as relações é uma coisa e o bloqueio é outra.
Apreciou como um sinal positivo uma sua recente declaração de que decidirá rapidamente sobre a presença de Cuba numa lista de países patrocinadores do terrorismo na qual nunca devia ter estado.
Até hoje, o bloqueio económico, comercial e financeiro aplica-se copm toda a sua intensidade contra a Ilha, provoca danos e carências ao povo e é o obstáculo essencial para o desenvolvimento de nossa economia. Constitui uma violação do Direito Internacional e seu alcance extraterritorial afecta os interesses de todos os Estados, sublinhou.
Da nossa parte, continuaremos envolvidos no processo de atualização do modelo económico cubano com o objetivo de aperfeiçoar o nosso socialismo, avançar rumo ao desenvolvimento e consolidar as conquistas de uma Revolução que se propôs “conquistar toda a justiça”.
Também reafirmou que a Venezuela não é nem pode ser uma ameaça à segurança nacional de uma superpotência como os Estados Unidos e qualificou como positivo que o presidente norte-americano o tenha reconhecido.
“Cuba continuará defendendo as idéias pelas quais o nosso povo tem assumido os maiores sacrifícios e riscos e lutado, junto aos pobres, os doentes sem atendimento médico, os desempregados, as crianças abandonados à sua sorte ou obrigados a trabalhar ou a prostituírem-se, os que passam fome, os discriminados, os oprimidos e os explorados que constituem a imensa maioria da população mundial”, sublinhou.
Lembrou que a aprovação, em Janeiro de 2014, na Segunda Cimeira da Celac, em Havana, da Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz, constituiu uma contribuição transcendente nesse propósito, marcado pela unidade latino-americana e caribenha na sua diversidade.
O presidente cubano sustentou que deve ser respeitado, como reza o Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz, “o direito inalienável de todo Estado a eleger seu sistema político, económico, social e cultural, como condição essencial para assegurar a convivência pacífica entre as nações”.
Concluiu dizendo que graças a Fidel e ao heróico povo cubano, viemos a esta Cimeira, para cumprir o mandato de José Martí com a liberdade conquistada com nossas próprias mãos, “orgulhosos de nossa América, para servi-la e honrá-la… com a determinação e a capacidade de contribuir para que seja estimada pelos seus méritos, e seja respeitada por seus sacrifícios”.

sábado, 11 de abril de 2015

Sugestões de Leitura

Meus caros, aqui ficam algumas sugestões de leitura, umas em português do Brasil com deficientes traduções pontuais, outras em francês, uma em inglês.

O que está por detrás dos acordos dos EUA e Irão?
http://www.voltairenet.org/article187248.HTML

As divisões no mundo árabe a passarem pelas mulheres?
http://www.voltairenet.org/article187187.HTML

A balcanização da Ucrânia
http://www.voltairenet.org/article187247.HTML

O yuan a caminho de rivalizar com o dólar
http://www.voltairenet.org/article187222.HTML

As armas económicas na Ucrânia
http://www.voltairenet.org/article182770.HTML

Afinal, o que quer a troika?
http://www.voltairenet.org/article178125.HTML

4 milhões de mortos desde 1990 no Afeganistão, Paquistão e Iraque
http://www.voltairenet.org/article187295.HTML

Coligação à bomba contra revolução no Iémen
http://www.voltairenet.org/article187161.HTML

EUA rompem compromisso: projecto anti-míssil continua apesar do acordo EUA/ Irão
http://francais.rt.com/lemonde/1653-projet-bouclier-antimissile-europe-continue

Porque não evacuam os EUA os seus cidadãos que estão no Iémen?
http://francais.rt.com/lemonde/1657-pourquoi-etats-unis-nevacuent-ils

Os BRICS e a ficção da desdolarização
http://www.globalresearch.ca/brics-and-the-fiction-of-de-dollarization/5441301

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Governo grego leiloa no ebay carros de luxo adquiridos por antigos governos

 

Alguns dos 700 carros que se encontravam ao serviço dos ministérios gregos eram utilizados pelas viúvas de antigos ministros.
Chocado por lhe ter sido atribuído um abono de 525 euros aquando da sua ida à cimeira de Bruxelas, Alexis Tsipras juntou à sua lista de poupanças a extinção das compensações pelas viagens ao estrangeiro.


Segundo avança o semanário grego Proto Thema, uma grande parte da frota de carros de luxo herdados do anterior executivo da Nova Democracia e Pasok vai ser leiloada no Ebay.
Entre as viaturas encontra-se um BMW topo de gama cujo preço comercial ascende a 750 mil euros. O automóvel foi adquirido pelo executivo de Papandreou e continuou ao serviço de outro líder do PASOK, o ex-vice primeiro ministro Evangelos Venizelos.
Em 2010, o governo de Papandreou mantinha 44 mil veículos do Estado, com um custo anual de 320 milhões de euros. Conforme adiantou recentemente o primeiro-ministro Alexis Tsipras, 700 viaturas encontravam-se atualmente ao serviço dos ministérios, estando não só a ser utilizadas por ministros como também por secretários-gerais, administradores universitários, altos funcionários dos serviços policiais, e até mesmo pelas esposas dos ministros falecidos.
A par de ter decidido viajar em classe turística nas deslocações aéreas, poupando mais dinheiro aos cofres públicos, o governo Syriza acrescentará à sua lista de medidas de redução de custos a extinção das compensações pelas viagens ao estrangeiro.
O Proto Thema relata que Tsipras ficou chocado ao ser surpreendido com um abono de 525 euros quando regressou da cimeira de Bruxelas.

terça-feira, 7 de abril de 2015

O regresso de Guerra Junqueiro



"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, 1896. 

            Palavras como esta, de Junqueiro e outros grandes escritores,do final do séc. XIX e viragem do séc. XX, são belos nacos de prosa onde sempre encontramos actualidades desconcertantes. As referências à burguesia  e ao "sistema" político de então são certeiras mas  maltratado é o povo por vezes injustamente.

 

domingo, 5 de abril de 2015

No dia em que decidi morrer


Ou, para ser mais preciso, na noite.
Morfeu  travestiu-se de piranha e dou com ela em cima do peito, ar guloso e óculos que lhe davam um ar mais sociável.

- Vamos comer-te. Disse, sem qualquer intencionalidade erótica.
- Vais quê?
- Vamos…
E apontou-me para outros membros da sua tribo, de cores irisadas que me cobriam o corpo. É uma decisão que já te ultrapassou. E deitou-me para dentro da banheira…
- Até vais poupar nos serviços do cangalheiro e do cemitério…
- Obrigado mas há muito decidi ser cremado e as minhas cinzas largadas ali para o Cabo da Roca…
- Poeta até ao fim! Não te agrada ser transfigurado em nós, que seremos comidas por uns quaisquer outros peixarrões, e estes por pinguins, que farão as delícias a umas orcas de sonoridades estranhas e, por aí fora? Até conhecerias novos lugares…
- Mas este ainda não é o meu  tempo…Há tanta coisa por fazer…
- Não te sobrevalorizes. Os cavacos, coelhos, portas e luísas já estão na apanha de tomate. Outros na cadeia. Até o Espírito Santo lá está. As tribos da minha família trataram disso Os netanyhaus, hollandes e obamas, os príncipes sauditas e os grupos terroristas que criaram, dos talibans ao estado islâmico, agora com os ramos africanos da Al-Qaeda, estão na reeducação de adultos da Cúria Romana, sob a monitorização firme do Papa Francisco. O fmi, o banco mundial e o bce passaram a ser dirigidos pelos países mais pequenos…
- Mas preciso de consultar a família!!! E os amigos, caramba. Chega de pressas!
Outra das bichas lá me trouxe um nokia. Com todos falei. Amargurados e chateados, ficaram de beicinho. Que isso não se faz de pé para a mão - ambos, aliás, partes do  corpo onde as piranhas já estavam ferradas sem vontade de perderem o seu naco. Tentaram rever a inevitabilidade da coisa. Não faltaram os cenários alternativos. A todos convenci.
- Agora vou para outra. Reencontramo-nos lá em cima. Ou ainda cá por baixo. Não deixem de olhar bem nos olhos dos animai. Posso estar transfigurado neles.
Virei-me para a piranha que registara tudo no tablet.
- Estou pronto, mas tenho direito a uma última vontade.
- Será cumprida, assim manda a deontologia das tribos dos characidae. Que mandas?
- Quero assistir a tudo mas para isso deixem para último lugar os olhos, o cérebro e o coração. E tu ficas nomeada Directora-Geral da Degustação.
- Obrigada. Registarei tudo para memória futura. Boa viagem!

Foram rápidas. Quando do lugar do corpo restava um adormecimento insensível, e  já me tinham levado os olhos e o negro se instalara, vi uma luz lá ao fundo e o ouvido, que se fora, registou o som dos saltos altos da vizinha de cima. Procedi a apalpações várias e tudo estava no sítio.
Quando tentei contar o sonho ao pequeno almoço, levei uma corrida em osso.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Quando não sabes para onde hás-de ir,
lembra-te de onde vens"

Roberto Rossellini
realizador italiano,
1906-1977,
citado pelo filho
Renzo em entrevista
ao Público, em 30 março p.p.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Um informador da PIDE denuncia Herberto Helder à prestimosa corporação...


Chegou a época da banha-da-cobra! Só compra quem gostar de ser enganado!


A alguns meses das eleições legislativas, Cavaco e Passos Coelho, e outro pessoal político e comentadores já fora de prazo, entregam-se a sucessivas orações, que fazem relembrar o oásis de outros tempos, confrontando com ilusões as realidades do dia-a-dia.
A banha da cobra dos dias de hoje já não se vende como na imagem aqui ao lado, adaptada da foto original de Joshua Benoliel, de 1910, pelo blog 77 colinas. Hoje fala nos prime-times dotelejornais dos 3 canais de TV, com passadeiras, telepontos e demais parafernália.
Uma das larachas é a da redução do desemprego para valores da ordem dos 13% (“Bem melhores do
que países como a Espanha”
Relativamente apenas ao período do 2º trimestre do ano passado, a CGTP-IN referia “O desemprego continua
num nível inaceitavelmente elevado. O INE dá conta que a taxa de desemprego oficial foi de 13,9% no 2ºtrimestre. No entanto, este valor não traduz a realidade do desemprego em Portugal, registando-se também
um número considerável de trabalhadores sub-empregados.O número de trabalhadores impedidos de participar total ou parcialmente na produção do país é superior a 1
milhão e 260 mil pessoas. Além dos 729 mil desempregados considerados pelo INE como desempregados, há
ainda 257 mil inactivos disponíveis que não procuram emprego (os desencorajados) e 252 mil sub-empregados
que trabalham menos tempo do que desejariam. A estes há que juntar ainda os inactivos à procura de emprego
mas não imediatamente disponíveis para trabalhar (28 mil).
O desemprego de longa duração atinge mais de 490 mil desempregados, mais de 67% do total, isto num
contexto em que a protecção no desemprego abrange menos de metade do desemprego oficial, agravando-se
no caso dos jovens, especialmente entre os menores de 25 anos que apenas têm acesso às prestações em menos
de 10% dos casos.
Há ainda que ter em conta que milhares de portugueses continuam a sair do país anualmente (67 milhares em
idade activa desde o 2º trimestre de 2013), havendo outros que passaram à inactividade (a população activa
diminuiu mais de 47 milhares.
Em conclusão, a realidade do desemprego em Portugal vai continuar a apresentar ou não uma
taxa real próxima dos 23%, mantendo o nosso país com níveis de desemprego dos mais elevados de entre
os países da UE quer da Zona Eur?. Acresce, também, que o desemprego jovem se mantém muito elevado e
que a maioria dos desempregados não tem acesso a qualquer prestação de desemprego”.


Outra das larachas diz respeito ao valor intrínseco da austeridade, que nos terá feito salvar dos deficites incomportáveis do passado, e que uma mudança de política confrontaria os portugueses com um” retrocesso naquilo que os portugueses ganharam com a austeridade” (ao lado mais um vendedor, desta vez em Alcântara em 1955, apanhado pelo Eduardo Gajeiro na Ajuda).
Mas ganharam o quê? Se viram salários, progressões e pensões reduzidos. Se viram reduzir os vínculos de
trabalho a situações de quase escravatura. Se viram preços de bens e serviços aumentados. Se tiveram que
optar, em certas camadas, entre tomar medicamentos ou comer.  Se deixaram de ter dinheiro para pagar taxas
moderadoras e por para se ser isento disso se atingir níveis de indigência. Se deixaram de ter dinheiro para se
deslocarem no país e nos meios urbanos.  Se os filhos deixaram de procriar e passaram a entregar mais os
netos aos avós para poderem corresponder a horários de trabalho mais longos e desencontrados. Se
banqueiros-ladrões fizeram esfumar as suas poupanças e não lhas querem devolver.

 
Outra laracha, enfim, é que o país se pode tornar em breve num
dos países mais competitivos do mundo. (na foto ao lado vasilhameatravés de uma PPP da Presidência da República com a Real
Companhia das Argilas)
O que quer  Passos Coelho dizer com isto?
O governo vai aplicar parte do saco dos milhares de milhões que a Ministra das Finanças tem no cofre como investimento produtivo e contribuir para a redução de importações que encarecem nos mercados a produção nacional, nomeadamente nas indústrias transformadoras?
Que o governo vai suscitar com o apoio do Estado novos modelos de organização e gestão empresariais? Que vai melhorar a qualificação dos trabalhadores com contratos de trabalho estáveis, melhorando os seus rendimentos para um maior empenhamento nesse objectivo? Que o Governo vai desagravar empresas de impostos e custos de energia?
Melhorar a competitividade, sim, se o governo a quisesse de facto fazer sem ser à custa de trabalho escravo.
Mas há que não cair no ridículo de termos condições “para sermos um dos países do mundo mais
competitivos”…Vamos ver o que vai acontecer à nossa agro-pecuária agora com a liberalização do mercado do leite no espaço da União, se não vamos absorver a produção leiteira alemã e nórdica através das grandes
superfícies que ainda usarão isso para pagar pior nos contratos que fizerem com os nossos produtores.

PS - Cavaco Silva é o Presidente da República de todos os portugueses? É que parece ser o presidente do PSD, com a agravante que uma boa parte do povo laranja já não se deixa embalar com tais larachas...

quarta-feira, 1 de abril de 2015

A longa migração das toutinegras

Segundo a "Science Daily", a toutinegra das murtas ou listrada, pássaro que pesa cerca de 12 gramas (!), faz todos os anos a migração da América do Norte para a América do Sul voando sem parar sobre o Oceano Atlântico durante dois a três dias, segundo um estudo de 2013.
Há mais de 50 anos, que os cientistas tentam confirmar essa façanha. Uma equipa internacional de biólogos, que publicaram na terça-feira os resultados do seu trabalho na revista científica britânica «Biology Letters», está convencida de ter encontrado «provas irrefutáveis». 
«Esta é uma das mais longas viagens diretas sobre a água feitas por um pássaro cantor (entre nós aves canoras)», afirma um dos autores do estudo, o investigador Bill DeLuca, num comunicado divulgado pela Universidade de Massachusetts em Amherst.
Esta ave habita geralmente nas florestas boreais do Canadá e dos Estados Unidos entre a primavera e o outono. Depois, parte para as Grandes Antilhas ou para a costa norte da América do Sul para o seu período de hibernação.
Para obter mais detalhes sobre a sua trajetória de migração, os investigadores instalaram geolocalizadores miniaturas, com um peso de 0,5 gramas, em 40 aves desta espécie entre Maio e Agosto de 2013. Vinte partiram de Vermont e outras 20 da Nova Escócia.
Graças aos dados recolhidos de cinco aves capturadas durante o seu regresso à América do Norte, os cientistas descobriram que estas aves percorrem entre 2.270 e 2.770 milhas num voo que dura entre 2,5 dias e três dias, até às grandes Antilhas, Cuba e Porto Rico, chegando mesmo ao norte da Venezuela e Colômbia.
Outras aves, mais robustas optam por migrações ao longo da costa, embora mais longas que as toutinegras, que preferem encurtar o percurso atravessando o Atlântico.
«Foi incrível poderrecuperar estes pássaros, porque a viagem migratória em si é quase impossível, afirma Bill DeLuca.
O investigador Ryan Norris, da Universidade de de Guelph, no Canadá, refere, por seu turno, que "não há dúvida de que a toutinegra listrada realiza uma das migrações mais ousadas na Terra".