O jornal "i" divulgou ontem alguns dos maiores escritores portugueses que têm 79 livros proíbidos, no top das proibições da Opus Dei. José Saramago, Fernando Pessoa, Vergílio Ferreira, Lídia Jorge são alguns deles...
Com influência em várias instituições, uma das quais, a Universidade Católica, é caso para perguntar se a "obra" pode cercear esta liberdade aos estudantes e a todos que nela fazem confiança.
Ver a notícia em
http://www.ionline.pt/portugal/opus-dei-proibe-79-livros-autores-portugueses
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Portugal visto por Lobo Antunes
Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos. Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade. O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles. Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão. O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito. Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver: - Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro - Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima - Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade. As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos semdificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos. Vale e Azevedo para os Jerónimos, já! Loureiro para o Panteão já! Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já! Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha. Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram. Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar. Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho. Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar. Abaixo o Bem-Estar. Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval. Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto. Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes. |
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Mais outros pobrezinhos a fugir ao fisco...
A equipa do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal está intrigada com a queda de rendimentos declarados às Finanças pelos empresários em nome individual e pelos contribuintes nos dois últimos escalões do IRS – que ganham acima de 66 mil euros por ano. Os dois grupos foram considerados de risco no plano de combate à evasão fiscal e, até Julho, serão operacionalizadas unidades específicas para investigar estes contribuintes.
No último relatório de avaliação ao Programa de Assistência Financeira e Económico, divulgado no final da semana passada, o FMI revelou estatísticas parciais sobre o IRS, que ainda não foram publicadas pela AT – Autoridade Tributária e Aduaneira. No caso dos rendimentos brutos declarados pelos profissionais liberais, o FMI indica que houve uma queda de 24% entre 2010 e 2011, enquanto o rendimento dos trabalhadores dependentes «caiu apenas 3%». E nas declarações dos dois escalões mais elevados de IRS, «o rendimento colectável caiu significativamente mais do que noutros escalões no mesmo período».
Alguns dos que fogem a pagar impostos cá
O conjunto de empresas abaixo indicadas, mudou a sua sede para Holanda, Luxemburgo, San Marino e outros países, para fugir aos seus deveres de cidadania e, assim, não entregar nos cofres do Estado Português milhões de euros de impostos, na precisa altura em que homens, mulheres e crianças sangram com o peso dos impostos até mais não.
Relação das empresas que fogem de cá e pagam lá:
• Cimpor - Empresa de produção de cimentos (Os donos são os nossos irmãos brazucas, não gostam nada de pagar impostos cá no burgo, gostam de entregar a colecta lá no centro da Europa.) • Cofina - empresa de comunicação social, é dona do “Correio da Manhã", do diário desportivo “Record”, do “Jornal de Negócios”, dos jornais gratuitos “Destak” e “Metro”, da revista de informação “Sábado” bem como de outros títulos, entre os quais “TV Guia”, “Flash!”, “GQ”, e “Automotor” - bem prega Frei Tomás faz o que ele diz, não faças o que ele faz, é gente patriota! Só e quando o magano do dinheiro fica em cima da mesa,é que lá se vai o patriotismo)
• Cimpor - Empresa de produção de cimentos (Os donos são os nossos irmãos brazucas, não gostam nada de pagar impostos cá no burgo, gostam de entregar a colecta lá no centro da Europa.) • Cofina - empresa de comunicação social, é dona do “Correio da Manhã", do diário desportivo “Record”, do “Jornal de Negócios”, dos jornais gratuitos “Destak” e “Metro”, da revista de informação “Sábado” bem como de outros títulos, entre os quais “TV Guia”, “Flash!”, “GQ”, e “Automotor” - bem prega Frei Tomás faz o que ele diz, não faças o que ele faz, é gente patriota! Só e quando o magano do dinheiro fica em cima da mesa,é que lá se vai o patriotismo)
• Inapa - empresa de distribuição de papel • Novabase - empresa de informática • ParaRede - empresa de informática
• Soares da Costa - Empresa de construção civil • Altri - Empresa de produção papeleira e energética
• Soares da Costa - Empresa de construção civil • Altri - Empresa de produção papeleira e energética
• Banco Espírito Santo - Empresa de finanças e investimentos (Capitais do Clã Espírito Santo)
• Banco Português de Investimento - Empresa de finanças e investimentos
• Banif - Empresa de finanças e investimentos • Brisa - Empresa concessionária de auto-estradas
• EDP - Empresa de produção e distribuição de electricidade ( Capitais Luso/China), até os chineses
gostam de não pagar impostos) • EDP Renováveis - Empresa de produção de energias renováveis (Capitais Luso/China, até os camaradas gostam de fugir aos impostos)
gostam de não pagar impostos) • EDP Renováveis - Empresa de produção de energias renováveis (Capitais Luso/China, até os camaradas gostam de fugir aos impostos)
• Galp - Empresa petrolífera e de combustíveis
• Jerónimo Martins -Empresa de grande distribuição maioritariamente distribuição alimentar (Capitais do clã Soares dos Santos, o homem até comprou por 30 dinheiros o patriota do António Barreto)
• Jerónimo Martins -Empresa de grande distribuição maioritariamente distribuição alimentar (Capitais do clã Soares dos Santos, o homem até comprou por 30 dinheiros o patriota do António Barreto)
• Mota-Engil - Empresa de construção civil (Capitais do clã António da Mota e o CEO é, ou era até há muito pouco tempo, Jorge Coelho, Chief Executive Officer que designa o mais alto cargo executivo, outro grande patriota)
• Portucel - Empresa de comercialização de papéis de alta qualidade
• Portugal Telecom - Empresa de telecomunicações e de multimédia ( Quem manda é o duo Granadeiro/Zeinal Bava, dois grandes portugueses)
• REN - Empresa de geração e de distribuição de electricidade (Luso/Chinesa, quem manda são os chineses, pessoas de bem, democratas de rija têmpera...)
• Semapa - Empresa de produção de cimentos
• Sonae Indústria - Empresa de administração de recursos próprios (Capitais do clã Belmiro de Azevedo; o Miguel Vasconcelos ao pé desta família era um santo homem e mesmo assim foi morto pela populaça)
• Sonae - Empresa de indústria de matéria-prima, distribuição e venda de alimentos, administração de centros comerciais, turismo, construção, telecomunicações, transportes e capitais de risco (Capitais do clã Belmiro de Azevedo, grande apoiante monetário da eleição do actual Presidente da República) - diz-me com quem andas,
dir-te-ei quem ès!
• Sonaecom - Empresa de comunicação social, telecomunicações, Internet e informática (Capitais do clã Belmiro de Azevedo - é gente com pronúncia do Norte, gente boa, boa gente, em Angola chamam a esta
gente os "Bumbas"... )
• Sonaecom - Empresa de comunicação social, telecomunicações, Internet e informática (Capitais do clã Belmiro de Azevedo - é gente com pronúncia do Norte, gente boa, boa gente, em Angola chamam a esta
gente os "Bumbas"... )
• ZON - Empresa de distribuição de multimédia (Capitais luso-angolanos do clã José Eduardo dos Santos, mais precisamente de Isabel dos Santos, a tal única bilionária de África)
• Media Capital - empresa de comunicação social (Aqui está a TVI , capitais luso/espanhois, (bem prega Frei Tomás), detém os seguintes titulos: TVI,TVI24, TVI Internacional, TVI Ficção, TVI, Rádio Comercial, Star FM, Cidade FM, M80., Best Rock FM, Vodafone FM,Mix FM,Cotonete; Imprensa, Lux, Lux Woman, Maxmen; Internet, IOL, Portugal Diário,Agência Financeira, MaisFutebol.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Frase de fim-de-semana, por Jorge
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Regresso aos mercados e tudo vai piorar
Como a CGTP referiu, a distribuição de metade dos subsídios em duodécimos mascara a questão de fundo que é o facto de, em 2013, os rendimentos das famílias serem menores que no ano passado. E pode por em causa a consagração constitucional de actualização anual dos salários, indo em apoio das entidades patronais que resistem a essa revisão dos salários..
Os portugueses defrontam uma quebra do rendimento assinalável, particularmente aqueles que menos recebem - já que com eles as consequências negativas serão muito mais graves - devido ao aumento de impostos em 2013.
Só uma política que crie emprego e apoie o funcionamento das pequenas e médias empresas, que eleve os rendimentos para as famílias comprarem mais e aumentarem o mercado interno que reanime a economia, pode inverter esta tendência em que o governo recorre à quebra de rendimentos em vez de reduzir as taxas de juro que não propôs à troika
Com o tão saudado "regresso de Portugal aos mercados", como sublinhou hoje Octávio Teixeira, esta situação não se vai inverter. Passaremos a poder pedir emprestado a outros organismos para além dos da troika mas a taxas superiores às dos empréstimos que iremos pagar com estes novos empréstimos, aumentando assim o serviço da dívida.
Os empréstimos cobrirão a dívida financeira mas não entrarão nem na economia nem na recuperação do poder de compra das famílias.
O "regresso aos mercados" é útil na medida em que nos libertamos do monopólio dos empréstimos da troika mas não é uma vitória do governo que se limitou a aproveitar uma baixa taxa de juros que beneficiou outros países, tendo a nossa emissão de dívida sido antecedida por emissões da Espanha e da Irlanda. Quem comprou a dívida no mercado primário fê-lo como garantia para si próprio dos reflexos da recompra ilimitada desses títulos em mercado secundário.
Apesar de com esta redução das taxas de juro o BCE ter confirmado o falhanço do Plano de Resgate a Portugal, insiste na manutenção deste, o que significa mais austeridade, menos economia, mais desemprego, menos investimento produtivo e mais exposição à especulação.
Os empréstimos cobrirão a dívida financeira mas não entrarão nem na economia nem na recuperação do poder de compra das famílias.
O "regresso aos mercados" é útil na medida em que nos libertamos do monopólio dos empréstimos da troika mas não é uma vitória do governo que se limitou a aproveitar uma baixa taxa de juros que beneficiou outros países, tendo a nossa emissão de dívida sido antecedida por emissões da Espanha e da Irlanda. Quem comprou a dívida no mercado primário fê-lo como garantia para si próprio dos reflexos da recompra ilimitada desses títulos em mercado secundário.
Apesar de com esta redução das taxas de juro o BCE ter confirmado o falhanço do Plano de Resgate a Portugal, insiste na manutenção deste, o que significa mais austeridade, menos economia, mais desemprego, menos investimento produtivo e mais exposição à especulação.
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Ana Teresa Vicente, Presidente da Câmara Municipal de Palmela
Como me revolta à exaustão o que alguns populistas reaccionários têm vindo a dizer sobre a futura reforma de Ana Teresa Vicente, cujo trabalho como autarca sempre apreciei de forma muito positiva, aqui deixo o que Demétrio Alves, seu familiar, publicou no blogue "A Praça do Bocage".
a 2ª
série do Diário da República do passado dia 8 de janeiro foi
publicado o Aviso 353/2013 da CGA onde consta que, em cumprimento no
disposto no artigo 100.º do Decreto -Lei n.º 498/72, de 9 de
dezembro (Estatuto da Aposentação), se tornava pública uma lista
dos aposentados e reformados que, a partir do próximo mês de
fevereiro, ou desde datas específicas indicadas, passam a ser
abonados da respetiva pensão pela Caixa Geral de Aposentações.
Ou seja, mais cerca de 1500 pessoas
passam, ou poderão passar, à situação de aposentados (ou
reformados), em fevereiro de 2013. Para alguns deles, porém, isso só
acontecerá quando deixarem, de facto, as suas funções na
administração pública estatal ou local, o que até poderá
ocorrer, daqui a muitos meses ou, até, com anos de intervalo. Nestes
casos, que serão poucos, não usufruirão entretanto a respetiva
pensão de reforma, tendo acedido, contudo, ao estatuto de
pensionistas potenciais.
Entre outras coisas, o Aviso
publicado ilustra a enorme sangria de trabalhadores, e outros agentes
da função pública, que vem acontecendo com uma regularidade e
intensidade extraordinárias nos últimos meses. É impressionante,
por exemplo, o que acontece nas áreas da Saúde, Educação, Forças
Armadas, Segurança Pública e Autarquias Locais.
Entre cerca de quinze centenas, a
comunicação social entendeu dar um notório relevo ao caso da
presidente da câmara municipal de Palmela.
Notória e, deve acrescentar-se,
dolorosa propaganda, porque, nos termos em que foi difundida, afeta
pessoal e politicamente a pessoa zurzida, a sua família, amigos e,
também, a organização política onde se insere.
Antes de prosseguir, impõe-se fazer
uma declaração de interesses: sou da família da citada e, por
outro lado, também acedi ao estatuto de aposentado há alguns anos
atrás. Porém, não me sinto condicionado ética ou politicamente ao
analisar de forma crítica o caso vertente. Antes pelo contrário.
Do
ponto de vista dos procedimentos que conduziram à visibilidade do
caso é muito simples: alguém, por motivos pessoais ou políticos,
tendo tido conhecimento de que, no vastíssimo elenco, constava
o nome da presidente de câmara de Palmela, soprou o assunto à
imprensa, primeiro a nível local, daí tendo fluído de forma
instantânea para outros fóruns. Aquele conhecimento ou foi obtido
diretamente, ou foi tomado através de algum dos muitos catadores
especializado em listas deste tipo.
Mas,
qual é o facto central que releva na situação descrita, comentada
de forma tão ampla a nível nacional, quando, na mesma lista, até
havia outras situações idênticas?
Muito simples: trata-se de uma autarca que tem 48 anos e
terá adquirido o direito a uma pensão de cerca de 1800 euros
brutos!
É curioso verificar que aquela pensão é, em termos
quantitativos, equivalente à de vários chefes municipais de 2ª
classe, diversos chefes de divisão e da PSP, muitos guardas
principais, escrivães de direito e, até, um grande pelotão de
sargentos, que também constam da lista. Do ponto de vista do valor
bruto da pensão, absoluto e comparado, estamos conversados.
Qual é, então, a singularidade da narrativa construída
através desta mediatização?
É que, nos tempos que correm, é fatal acertar numa
tripla como esta: ser uma “política privilegiada” porque
conseguiu, não obstante ser uma “jovem”, a “fortuna” de 1800
euros mensais!
É certo que ninguém teve o desplante de lhe apontar o
mínimo laivo de ilegalidade ou de oportunismo. Pudera! A Ana Teresa,
que tem tido uma vida pública e privada impoluta, pautada sempre
pelos valores da lealdade, seriedade, trabalho e dedicação às
populações e aos amigos, limitou-se a exercer um direito que lhe é
conferido no quadro legal português. Mas, pelos vistos, quem exerce
os seus direitos, é penalizado com a censura pública. Mesmo quando
não há nada, no conjunto dos seus deveres, que obste ao exercício
daquele direito. Mas, é este o Portugal do século XXI,
(des)construído nas últimas duas décadas, com especial ênfase
desde há cerca de meia dúzia de anos!
É bom que conste que a pensão em causa, para além de
não ser utilizável de imediato, pelo menos nos próximos meses, ou,
quem sabe, nos próximos anos (bastaria que a visada se
disponibilizasse para exercer outro tipo de funções públicas
depois de outubro de 2013), só é alcançável porque a sua
beneficiária terá que pagar cerca de 35 000 euros de descontos
complementares à CGA, isto durante os primeiros cinco anos de
recebimentos efetivos. Isto é, nesse período, a novel pensionista
receberá cerca mil euros líquidos. Uma “fortuna” que, no
entanto, não dará para ir até Paris!
O desconto complementar, isto é, além de todos os que
já fez durante 27 anos de carreira contributiva, deve-se ao facto
de, sete daqueles anos, poderem dobrar, passando para 34 anos a
contagem de tempo total. Ou seja, é este o fator excecional
existente na situação em análise: por exercer funções políticas
autárquicas, e ao abrigo de uma lei que, embora já tenha sido
alterada em 2005, ainda a contemplou parcialmente, a agora presidente
pôde ver cumprir-se aquilo que consigo estava contratualizado há
décadas.
Fica, assim, muito claro, que a atribuição desta
pensão, mesmo que a beneficiária potencial não viesse a descontar
ainda mais anos no futuro, o que é improvável devido à sua idade,
não constitui um fator de desequilíbrio discriminatório no sistema
de pensões da CGA.
Não é isso, no entanto, o que debitaram relevantes
comentadores.
O Baldaia, coitado, diz que ainda terá que trabalhar
mais “vinte anos”, para atingir a benesse agora recebida pela
autarca! Mas, alguém acredita que ele vai ter de trabalhar até aos
setenta para merecer a reforma? E será que recebe, agora e no
futuro, apenas 1800 euros brutos por mês?
E o outro, um tal Monteiro, guarda-mor dos interesses da
direita endinheirada, veio dizer que “muita gente que trabalhou 40
anos e não tem nem metade (e outros que nem reformados ainda podem
ser) deve deixar cheios de inveja” e, ainda, que “é devido a
reformas destas que uma boa parte das outras reformas (as do FMI) são
impossíveis de levar neste país. É que se o Estado diminui o seu
peso, lá se vão estas e outras regalias”. Trata-se, como se
percebe, de populismo e de inveja no seu melhor estilo, neste
caso por parte de um senhor que, de certeza, estará muito bem
aconchegado no patronal e balsâmico regaço. E, já agora dizer que,
faltando-lhe um mínimo de decência na sua missão de escriba a
favor dos “direitos do povo”, e para fundamentar os seus
complexos cálculos, dá como tenebrosa a possibilidade da agora
aposentada viver mais 40 anos!
Mas, imaginemos, por hipótese, que a autarca, alertada
atempadamente de que o seu pedido, legítimo e legal, iria gerar toda
esta polémica, tinha desistido de o fazer. O que aconteceria em
outubro próximo, com enorme probabilidade, seria ficar sem emprego
e…sem direito a qualquer subsídio de desemprego. Isto porque um
responsável político que caísse nessas circunstâncias, a ele não
teria direito! Estão a ver a coisa: os políticos têm que ser
iguais aos desempregados em tudo, exceto nesta “pequena” questão
do subsídio, porque, esse, não existe para eles. Nem grande, nem
pequeno!
Por vezes, neste país, tem-se a estranha sensação de
estar num imenso hospital psiquiátrico, onde, por imposição
igualitária, os médicos e enfermeiros também devem estar doentes.
Mas, então, o que lhe restaria fazer para atalhar a
mais que previsível aflição futura? Muito fácil: pelo menos no
último ano do seu mandato deveria fazer vários contactos com
diversas pessoas e entidades, designadamente privadas, para preparar
o seu futuro profissional. Por exemplo, porque não com grandes
empresas ou, até, com algum banco interessado em resolver as enormes
imparidades imobiliárias que tem na região? Era isto que
aconteceria com elevada probabilidade, se o escrúpulo pessoal e
político da visada, neste caso, não o excluísse à partida. E
seria isso bom para o sistema democrático? Certamente que não. Mas,
isso é desejado, e em grande parte já conseguido, por todos aqueles
que, na comunicação social convencional ou nas redes (ou teias?)
desmaterializadas, fustigam a designada “classe política” como
se ela fosse um todo indiferenciavel: no fundo, querem ter os
políticos de cócoras e ao dispor dos seus interesses particulares!
A Ana Teresa, com a lisura que sempre usa, contactou
atempadamente todas as entidades pertinentes, informando que iria
pedir à CGA uma contagem de tempos no sentido de obter aquilo que
veio agora a ser-lhe consignado. Ninguém lhe manifestou
discordâncias políticas ou legais, ou preveniu contra o potencial
agravo. Nem eu, com alguma experiência das coisas e da vida,
vislumbrei problemas deste tipo, e também, curiosamente, acedi à
possibilidade de me aposentar aos 48 anos, embora só tivesse
exercido o direito tempos depois, tendo, entretanto, descontado mais
alguns anos para a CGA. Eu, e muitas centenas de autarcas. Há casos
em que eles se encontram ainda no seu posto de trabalho, não
obstante terem obtido as condições para passarem à reforma há já
muitos anos.
Portanto, face ao exposto, impõe-se uma primeira grande
conclusão: é descabido e imoral atribuir qualquer tipo de
responsabilidades a quem se limitou a cumprir todas as regras
conhecidas. Nem o Jorge Jesus culpou o Artur pelo golo sofrido contra
o Porto, embora, aí sim, tivesse sido um erro de palmatória. porque
é assim que se estimula uma equipa.
Contudo, como não vivemos num país de fadas, a
história é mais complexa.
É compreensível que, devido à enorme violência do
ataque aos direitos e regalias sociais, mesmo os mais comuns, e
perante a completa ausência de rumo governativo no sentido de um
projeto de resgate nacional com interesse coletivo, os cidadãos
deste país estejam em transe.
Com destaque para os trabalhadores sujeitos a uma
crescente exploração, para muitos dos pequenos e asfixiados
empresários, para os pensionistas e reformados assustados, para os
desempregados angustiados, para os jovens expectantes e para os
idosos desiludidos, enfim, os homens e mulheres deste povo adiado,
todos estão impacientes, receosos e revoltados com a situação. Por
isso, é normal que, quem está em funções de responsabilidade
pública, com destaque para os cargos políticos, esteja sujeito a um
escrutínio ainda mais apertado de todos os seus atos. Até porque se
foi criando uma nebulosa através da qual se vêem pardos todos os
gatos. E isso serve perfeitamente os interesses de quem tem vindo a
esmifrar este país, interna e externamente.
É de lamentar que, desde logo, se verifique uma intensa
deriva social no sentido de relevar os atos de caráter pessoal
praticados por quem está em funções políticas, em detrimento dos
atos que praticam no seu exercício publico. Isto é, aqueles que
cometem crimes políticos, económicos e sociais, todos os dias, só
são verdadeiramente censurados pela opinião pública quando cometem
algum dislate, tipo comprar uma licenciatura a pataco.
Impõe-se, parece-me, um combate firme ao populismo,
doença política e social gravíssima, que tende a transformar
grandes segmentos do povo em populaça, contaminando de forma
profunda o sistema democrático.
Cada vez se pensa menos e se escreve mais nas imateriais
paredes dos sanitários públicos da modernidade. Nessas muito
sofisticadas redes internéticas utiliza-se, muitas vezes
anonimamente, o mesmo material que se vai depositar nos lavabos. É o
que está mais à mão, e serve, sem luvas, para caluniar ou criticar
a eito quem tem alguma projeção pública.
Nesse combate contra o populismo não é de menor
importância defender com frontalidade os interesses legítimos e
vitais dos que exercem a atividade política.
O nível de desenvolvimento de um país, no seu sentido
mais abrangente, passa muito pela qualidade dos seus recursos humanos
e, de forma muito particular, pelo nível daqueles que exercem
responsabilidades políticas.
Não se conseguirá ter um país que progrida,
afugentando, vilipendiando e perseguindo aqueles que, dotados de
capacidades e qualidade, se disponibilizaram para funções
políticas, por vezes com sacrifício pessoal e familiar.
O sistema político deve ser servido pelos melhores. Não
por incapazes, por oportunistas ou por agentes dos grandes interesses
financeiros e económicos que, neste caso, até podem bem prescindir
das suas remunerações e regalias porque, quem verdadeiramente lhes
paga, são outros, os seus mandantes. E fazem-no antes, durante e
depois de exercerem os cargos políticos.
Não há qualquer dúvida que houve pensões milionárias
(muitos milhares de euros mensais) que foram conseguidas por alguns
atores políticos, por vezes em situações excecionais de
autodiscriminação positiva e, acrescenta-se, em curtos períodos.
Isso é condenável e deve ser erradicado.
Já tenho muitas dúvidas sobre os casos hoje aqui
tratados. Não me parece que seja neste campo que se deveria incidir.
Mas, não posso falar em causa própria. Outros o deverão fazer.
Do ponto de vista formal existem, ou existiram, como se
sabe, vários tipos de populismo, desde os movimentos radicais rurais
do oeste e sul dos EUA em fins do século XIX, ao movimento narodniki
russo, também no século XIX, passando pela ideologia de Estado
ligada ao desenvolvimento rural de baixa intensidade em certos países
africanos, e pelos vários ismos sul-americanos. Contudo, quase
sempre, o populismo nacionalista termina, “conclamando os
trabalhadores a prestar um apoio, nacional e patriótico, à
burguesia” (Néstor Kohan).
É muito interessante ter em conta que uma das primeiras
obras de Lenine foi, exatamente, “Quem são os Amigos do Povo e
como lutam contra os social-democratas?”, escrita em 1894, visando,
com grande ênfase, os populistas de então.
Mas, o populismo de que aqui hoje vos falei não é, por
enquanto, deste jaez político. Foquei-me, apenas, em certos traços
populistas verificáveis na crítica fácil a tudo quanto é
político, e, também, em certas ações espontâneas antissistema,
apontando para as características antitributárias do movimento
Manuelinho de Évora (1637), ou da insurreição Maria da Fonte
(1846), esta contra o “centralismo e despotismo” cabralista, ou,
ainda, das convulsões anteriores ao 28 de maio. Revolucionários
todos, mas muito reacionários.
É necessário não confundir os hinos.
Eia avante, portugueses
Eia avante, não temer
Pela santa liberdade
Triunfar ou perecer!
É um refrão giro, a música empolga, mas não é o
hino que nos interessa.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Duas coisinhas apenas
Após mais de 38 anos sobre o 25 de Abril, duas coisas estão mais que provadas e comprovadas:
1ª - Os comunistas afinal não comem criancinhas ao pequeno almoço nem querem uma ditadura;
2ª - Mas a direita come o pequeno almoço às criancinhas e confronta a democracia.
domingo, 20 de janeiro de 2013
No centenário de Álvaro Cunhal
No ano de 2013 passam 100 anos sobre o nascimento de Álvaro Cunhal.
O PCP preparou uma programação de comemorações que tiveram ontem a sessão de abertura no Auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa.
O auditório estava cheio e todos os presentes seguiram com atenção o enunciado das iniciativas em que estarão presentes a vida, pensamento e luta de Álvaro Cunhal, num exemplo que se projecta na actualidade e no futuro.
Na sua intervenção, Jerónimo de Sousa sublinhou o contributo particular dado por Álvaro Cunhal para a concepção da Revolução Democrática e Nacional que ajudou à abertura dos caminhos para a Revolução de Abril e para a concepção de aliança Povo-MFA, bem como para o Programa do Partido nomeadamente das concepções de democracia avançada e socialismo
A melhor prova do reconhecimento da validade e actualidade do seu pensamento e da sua obra está bem patente na recente confirmação pelo XIX Congresso do PCP da manutenção dos objectivos e propostas fundamentais do Programa do PCP, hoje denominado: «Uma Democracia Avançada – Os valores de Abril no futuro de Portugal», na concepção do qual, Álvaro Cunhal, deu um importante e singular contributo.
Num Congresso onde esteve presente o país real, o país devastado pela intervenção estrangeira e pela actual política de ruína nacional. Um Congresso que apontou os caminhos para resgatar Portugal e devolver ao país o que é do país, e ao povo a sua soberania e o seu direito ao desenvolvimento, ao crescimento, ao emprego e o direito dos trabalhadores e do povo a uma vida digna.
Um Congresso que assumiu a tarefa do enriquecimento desse Programa que se revelou de uma grande profundidade e sentido de futuro e que é a resposta alternativa dos comunistas portugueses à crescente colonização económica pelas grandes potências da União Europeia e ao domínio do capital monopolista nacional e internacional sobre o nosso país e a vida dos portugueses.
Um programa estratégico para a concretização de um verdadeiro programa de desenvolvimento do país para a actual etapa histórica, parte integrante e constitutiva da luta pelo socialismo e cuja realização é igualmente indissociável da luta que hoje travamos pela concretização da ruptura com a política de direita e da materialização de uma política patriótica e de esquerda.
Um Programa que define um projecto de Democracia Avançada que assenta na definição básica de que a democracia é simultaneamente política, económica, social e cultural, e que Álvaro Cunhal perspectivava e caracterizava como um “regime democrático que proceda a realizações progressistas de carácter não capitalista” para realizar cinco objectivos fundamentais:
- Um regime de liberdade no qual o povo decida do seu destino e um Estado democrático representativo e participado;
- Um desenvolvimento económico assente numa economia mista, liberta do domínio dos monopólios, ao serviço do povo e do país;
- Uma política social que garanta a melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo;
- Uma política cultural que assegure o acesso generalizado à livre criação e fruição culturais;
- Uma pátria independente e soberana com uma política de paz e cooperação com todos os povos.
Um programa que surge no seguimento da Revolução Democrática e Nacional e das análises às características do capitalismo português que Álvaro Cunhal estudou e cujas teses essenciais estão expressas na obra “Rumo à Vitória”. Nessa obra marcante na qual se definem a estratégia e as tarefas do Partido que haviam de ajudar a construir o caminho que conduziu à Revolução de Abril e contribuir para determinar a sua natureza, numa resultante onde a teoria se assumia como força material na acção impetuosa das massas populares e na acção dinâmica da aliança Povo-MFA que Álvaro Cunhal, antes de todos, caracterizou e apontou como o motor da Revolução.
Foi a partir da investigação aprofundada da realidade portuguesa, que Álvaro Cunhal mostrou que a formação dos monopólios em Portugal tinha a particularidade de não ser o resultado da livre concorrência capitalista, com a consequente concentração e centralização da riqueza, mas uma construção forçada e determinada pela utilização do poder coercivo do Estado para favorecer o grande capital e os grandes agrários, através dos mais variados métodos de espoliação e empobrecimento das camadas e classes populares e da usurpação dos recursos do país.
Um processo assente na mesma lógica e com os mesmos propósitos que estiveram presentes no processo de recuperação capitalista e restauração monopolista dos últimos anos em Portugal, cujo domínio sobre a economia e a vida do país é, tal como no passado, a principal causa do trajecto de regressão económica e social do país, da crise e da dimensão que esta mesma crise atingiu no quadro da crise sistémica do capitalismo internacional.
Crise nacional que Álvaro Cunhal previa e com uma premonitória visão anunciava, em consequência da ofensiva da política de direita que se vinha desenvolvendo contra Abril e as suas conquistas.
Uma concepção que é produto do pensamento próprio do Partido, mas que tem o seu valioso contributo e que está expresso na definição do conjunto de características que o projecto socialista deve assumir e na sua e nossa afirmação de sempre que não há “modelos” de revolução, nem “modelos” de socialismo.
Uma concepção de socialismo que responde às especificidades nacionais e leva também em conta as lições da experiência revolucionária mundial.
Uma concepção que parte das leis gerais de edificação socialista e dessas experiências, para afirmar um projecto socialista para Portugal.
Esse projecto onde se expressam como objectivos fundamentais da revolução socialista, a abolição da exploração do homem pelo homem, a democracia em todas suas vertentes, a intervenção permanente e criadora das massas populares, a elevação constante do bem-estar material e espiritual dos trabalhadores e do povo em geral, o desaparecimento das discriminações, desigualdades, injustiças, a concretização de uma vida de igualdade de direitos do homem e da mulher e a inserção da juventude na vida do país, entre outras, e se definem em cinco grandes áreas - no sistema político, no sistema económico, no sistema social, na plano da cultura e no plano ético - as características desse projecto.
Num momento em que o capitalismo está mergulhado numa das mais profundas crises da sua história, a necessidade e actualidade do ideal e projecto socialista afirma-se como a solução no futuro dos povos, também a obra e o pensamento de Álvaro Cunhal se projecta como um contributo inestimável na conquista desse horizonte de realização e emancipação humana.
Figura notável do nosso tempo, em todo o seu exemplo de combatente transparece um desejo de futuro e de confiança. Desejo de futuro de realização desse sonho milenar da construção de uma sociedade liberta da exploração do homem por outro homem. De confiança nos trabalhadores, no povo, na sua capacidade de construir a história com a sua luta e dar corpo ao sonho que continua a alimentar e dar sentido às nossas vidas!
O PCP preparou uma programação de comemorações que tiveram ontem a sessão de abertura no Auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa.
O auditório estava cheio e todos os presentes seguiram com atenção o enunciado das iniciativas em que estarão presentes a vida, pensamento e luta de Álvaro Cunhal, num exemplo que se projecta na actualidade e no futuro.
Na sua intervenção, Jerónimo de Sousa sublinhou o contributo particular dado por Álvaro Cunhal para a concepção da Revolução Democrática e Nacional que ajudou à abertura dos caminhos para a Revolução de Abril e para a concepção de aliança Povo-MFA, bem como para o Programa do Partido nomeadamente das concepções de democracia avançada e socialismo
A melhor prova do reconhecimento da validade e actualidade do seu pensamento e da sua obra está bem patente na recente confirmação pelo XIX Congresso do PCP da manutenção dos objectivos e propostas fundamentais do Programa do PCP, hoje denominado: «Uma Democracia Avançada – Os valores de Abril no futuro de Portugal», na concepção do qual, Álvaro Cunhal, deu um importante e singular contributo.
Num Congresso onde esteve presente o país real, o país devastado pela intervenção estrangeira e pela actual política de ruína nacional. Um Congresso que apontou os caminhos para resgatar Portugal e devolver ao país o que é do país, e ao povo a sua soberania e o seu direito ao desenvolvimento, ao crescimento, ao emprego e o direito dos trabalhadores e do povo a uma vida digna.
Um Congresso que assumiu a tarefa do enriquecimento desse Programa que se revelou de uma grande profundidade e sentido de futuro e que é a resposta alternativa dos comunistas portugueses à crescente colonização económica pelas grandes potências da União Europeia e ao domínio do capital monopolista nacional e internacional sobre o nosso país e a vida dos portugueses.
Um programa estratégico para a concretização de um verdadeiro programa de desenvolvimento do país para a actual etapa histórica, parte integrante e constitutiva da luta pelo socialismo e cuja realização é igualmente indissociável da luta que hoje travamos pela concretização da ruptura com a política de direita e da materialização de uma política patriótica e de esquerda.
Um Programa que define um projecto de Democracia Avançada que assenta na definição básica de que a democracia é simultaneamente política, económica, social e cultural, e que Álvaro Cunhal perspectivava e caracterizava como um “regime democrático que proceda a realizações progressistas de carácter não capitalista” para realizar cinco objectivos fundamentais:
- Um regime de liberdade no qual o povo decida do seu destino e um Estado democrático representativo e participado;
- Um desenvolvimento económico assente numa economia mista, liberta do domínio dos monopólios, ao serviço do povo e do país;
- Uma política social que garanta a melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo;
- Uma política cultural que assegure o acesso generalizado à livre criação e fruição culturais;
- Uma pátria independente e soberana com uma política de paz e cooperação com todos os povos.
Um programa que surge no seguimento da Revolução Democrática e Nacional e das análises às características do capitalismo português que Álvaro Cunhal estudou e cujas teses essenciais estão expressas na obra “Rumo à Vitória”. Nessa obra marcante na qual se definem a estratégia e as tarefas do Partido que haviam de ajudar a construir o caminho que conduziu à Revolução de Abril e contribuir para determinar a sua natureza, numa resultante onde a teoria se assumia como força material na acção impetuosa das massas populares e na acção dinâmica da aliança Povo-MFA que Álvaro Cunhal, antes de todos, caracterizou e apontou como o motor da Revolução.
Foi a partir da investigação aprofundada da realidade portuguesa, que Álvaro Cunhal mostrou que a formação dos monopólios em Portugal tinha a particularidade de não ser o resultado da livre concorrência capitalista, com a consequente concentração e centralização da riqueza, mas uma construção forçada e determinada pela utilização do poder coercivo do Estado para favorecer o grande capital e os grandes agrários, através dos mais variados métodos de espoliação e empobrecimento das camadas e classes populares e da usurpação dos recursos do país.
Um processo assente na mesma lógica e com os mesmos propósitos que estiveram presentes no processo de recuperação capitalista e restauração monopolista dos últimos anos em Portugal, cujo domínio sobre a economia e a vida do país é, tal como no passado, a principal causa do trajecto de regressão económica e social do país, da crise e da dimensão que esta mesma crise atingiu no quadro da crise sistémica do capitalismo internacional.
Crise nacional que Álvaro Cunhal previa e com uma premonitória visão anunciava, em consequência da ofensiva da política de direita que se vinha desenvolvendo contra Abril e as suas conquistas.
(…)
concepção
de socialismo que o nosso Programa consagra.Uma concepção que é produto do pensamento próprio do Partido, mas que tem o seu valioso contributo e que está expresso na definição do conjunto de características que o projecto socialista deve assumir e na sua e nossa afirmação de sempre que não há “modelos” de revolução, nem “modelos” de socialismo.
Uma concepção de socialismo que responde às especificidades nacionais e leva também em conta as lições da experiência revolucionária mundial.
Uma concepção que parte das leis gerais de edificação socialista e dessas experiências, para afirmar um projecto socialista para Portugal.
Esse projecto onde se expressam como objectivos fundamentais da revolução socialista, a abolição da exploração do homem pelo homem, a democracia em todas suas vertentes, a intervenção permanente e criadora das massas populares, a elevação constante do bem-estar material e espiritual dos trabalhadores e do povo em geral, o desaparecimento das discriminações, desigualdades, injustiças, a concretização de uma vida de igualdade de direitos do homem e da mulher e a inserção da juventude na vida do país, entre outras, e se definem em cinco grandes áreas - no sistema político, no sistema económico, no sistema social, na plano da cultura e no plano ético - as características desse projecto.
Num momento em que o capitalismo está mergulhado numa das mais profundas crises da sua história, a necessidade e actualidade do ideal e projecto socialista afirma-se como a solução no futuro dos povos, também a obra e o pensamento de Álvaro Cunhal se projecta como um contributo inestimável na conquista desse horizonte de realização e emancipação humana.
Figura notável do nosso tempo, em todo o seu exemplo de combatente transparece um desejo de futuro e de confiança. Desejo de futuro de realização desse sonho milenar da construção de uma sociedade liberta da exploração do homem por outro homem. De confiança nos trabalhadores, no povo, na sua capacidade de construir a história com a sua luta e dar corpo ao sonho que continua a alimentar e dar sentido às nossas vidas!
sábado, 19 de janeiro de 2013
Ingratidão e falta de memória
Em 1953, há menos de 60 anos - apenas uma geração - a Alemanha de Konrad Adenauer entrou em default, falência, ficou kaput, ou seja, ficou sem dinheiro para fazer mover a actividade económica do país. Tal qual como a Grécia actualmente.
A Alemanha negociou 16 mil milhões de marcos em dívidas de 1920 que entraram em incumprimento na década de 30 após o colapso da bolsa em Wall Street. O dinheiro tinha-lhe sido emprestado pelos EUA, pela França e pelo Reino Unido.
Outros 16 mil milhões de marcos diziam respeito a empréstimos dos EUA no pós-guerra, no âmbito do Acordo de Londres sobre as Dívidas Alemãs (LDA), de 1953. O total a pagar foi reduzido 50%, para cerca de 15 mil milhões de marcos, por um período de 30 anos, o que não teve quase impacto na crescente economia alemã.
O resgate alemão foi feito por um conjunto de países que incluíam a Grécia, a Bélgica, o Canadá, Ceilão, a Dinamarca, França, o Irão, a Irlanda, a Itália, o Liechtenstein, o Luxemburgo, a Noruega, o Paquistão, a Espanha, a Suécia, a Suíça, a África do Sul, o Reino Unido, a Irlanda do Norte, os EUA e a Jugoslávia.
As dívidas alemãs eram do período anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial. Algumas decorriam do esforço de reparações de guerra e outras de empréstimos gigantescos norte-americanos ao governo e às empresas. Durante 20 anos, como recorda esse acordo, Berlim não honrou qualquer pagamento da dívida (!).
Por incrível que pareça, apenas oito anos depois de a Grécia ter sido invadida e brutalmente ocupada pelas tropas nazis, Atenas aceitou participar no esforço internacional para tirar a Alemanha da terrível bancarrota em que se encontrava. Ora os custos monetários da ocupação alemã da Grécia foram estimados em 162 mil milhões de euros sem juros. Após a guerra, a Alemanha ficou de compensar a Grécia por perdas de navios bombardeados ou capturados, durante o período de neutralidade, pelos danos causados à economia grega, e pagar compensações às vítimas do exército alemão de ocupação. As vítimas gregas foram mais de um milhão de pessoas (38960 executadas, 12 mil abatidas, 70 mil mortas no campo de batalha, 105 mil em campos de concentração na Alemanha, e 600 mil que pereceram de fome). Além disso, as hordas nazis roubaram tesouros arqueológicos gregos de valor incalculável.
Qual foi a reacção da direita parlamentar alemã aos actuais problemas financeiros da Grécia? Segundo esta, a Grécia devia considerar vender terras, edifícios históricos e objectos de arte para reduzir a sua dívida.
Além de tomar as medidas de austeridade impostas, como cortes no sector público e congelamento de pensões, os gregos deviam vender algumas ilhas, defenderam dois destacados elementos da CDU, Josef Schlarmann e Frank Schaeffler, do partido da chanceler Merkel. Os dois responsáveis chegaram a alvitrar que o Partenon, e algumas ilhas gregas no Egeu, fossem vendidas para evitar a bancarrota. "Os que estão insolventes devem vender o que possuem para pagar aos seus credores", disseram ao jornal "Bild".
Depois disso, surgiu no seio do executivo a ideia peregrina de pôr um comissário europeu a fiscalizar permanentemente as contas gregas em Atenas.
O historiador Albrecht Ritschl, da London School of Economics, recordou recentemente à "Spiegel" que a Alemanha foi o pior país devedor do século XX. O economista destaca que a insolvência germânica dos anos 30 faz a dívida grega de hoje parecer insignificante. "No século xx, a Alemanha foi responsável pela maior bancarrota de que há memória", afirmou. "Foi apenas graças aos Estados Unidos, que injectaram quantias enormes de dinheiro após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que a Alemanha se tornou financeiramente estável e hoje detém o estatuto de locomotiva da Europa. Esse facto, lamentavelmente, parece esquecido", sublinha Ritsch.
O historiador sublinha que a Alemanha desencadeou duas guerras mundiais, a segunda de aniquilação e extermínio, e depois os seus inimigos perdoaram-lhe totalmente o pagamento das reparações ou adiaram-nas. A Grécia não esquece que a Alemanha deve a sua prosperidade económica a outros países. Por isso, alguns parlamentares gregos sugerem que seja feita a contabilidade das dívidas alemãs à Grécia para que destas se desconte o que a Grécia deve actualmente.
A ingratidão dos países, tal como a das pessoas, é acompanhada quase sempre pela falta de memória.
(Sérgio Soares, jornalista do i)
A Alemanha negociou 16 mil milhões de marcos em dívidas de 1920 que entraram em incumprimento na década de 30 após o colapso da bolsa em Wall Street. O dinheiro tinha-lhe sido emprestado pelos EUA, pela França e pelo Reino Unido.
Outros 16 mil milhões de marcos diziam respeito a empréstimos dos EUA no pós-guerra, no âmbito do Acordo de Londres sobre as Dívidas Alemãs (LDA), de 1953. O total a pagar foi reduzido 50%, para cerca de 15 mil milhões de marcos, por um período de 30 anos, o que não teve quase impacto na crescente economia alemã.
O resgate alemão foi feito por um conjunto de países que incluíam a Grécia, a Bélgica, o Canadá, Ceilão, a Dinamarca, França, o Irão, a Irlanda, a Itália, o Liechtenstein, o Luxemburgo, a Noruega, o Paquistão, a Espanha, a Suécia, a Suíça, a África do Sul, o Reino Unido, a Irlanda do Norte, os EUA e a Jugoslávia.
As dívidas alemãs eram do período anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial. Algumas decorriam do esforço de reparações de guerra e outras de empréstimos gigantescos norte-americanos ao governo e às empresas. Durante 20 anos, como recorda esse acordo, Berlim não honrou qualquer pagamento da dívida (!).
Por incrível que pareça, apenas oito anos depois de a Grécia ter sido invadida e brutalmente ocupada pelas tropas nazis, Atenas aceitou participar no esforço internacional para tirar a Alemanha da terrível bancarrota em que se encontrava. Ora os custos monetários da ocupação alemã da Grécia foram estimados em 162 mil milhões de euros sem juros. Após a guerra, a Alemanha ficou de compensar a Grécia por perdas de navios bombardeados ou capturados, durante o período de neutralidade, pelos danos causados à economia grega, e pagar compensações às vítimas do exército alemão de ocupação. As vítimas gregas foram mais de um milhão de pessoas (38960 executadas, 12 mil abatidas, 70 mil mortas no campo de batalha, 105 mil em campos de concentração na Alemanha, e 600 mil que pereceram de fome). Além disso, as hordas nazis roubaram tesouros arqueológicos gregos de valor incalculável.
Qual foi a reacção da direita parlamentar alemã aos actuais problemas financeiros da Grécia? Segundo esta, a Grécia devia considerar vender terras, edifícios históricos e objectos de arte para reduzir a sua dívida.
Além de tomar as medidas de austeridade impostas, como cortes no sector público e congelamento de pensões, os gregos deviam vender algumas ilhas, defenderam dois destacados elementos da CDU, Josef Schlarmann e Frank Schaeffler, do partido da chanceler Merkel. Os dois responsáveis chegaram a alvitrar que o Partenon, e algumas ilhas gregas no Egeu, fossem vendidas para evitar a bancarrota. "Os que estão insolventes devem vender o que possuem para pagar aos seus credores", disseram ao jornal "Bild".
Depois disso, surgiu no seio do executivo a ideia peregrina de pôr um comissário europeu a fiscalizar permanentemente as contas gregas em Atenas.
O historiador Albrecht Ritschl, da London School of Economics, recordou recentemente à "Spiegel" que a Alemanha foi o pior país devedor do século XX. O economista destaca que a insolvência germânica dos anos 30 faz a dívida grega de hoje parecer insignificante. "No século xx, a Alemanha foi responsável pela maior bancarrota de que há memória", afirmou. "Foi apenas graças aos Estados Unidos, que injectaram quantias enormes de dinheiro após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que a Alemanha se tornou financeiramente estável e hoje detém o estatuto de locomotiva da Europa. Esse facto, lamentavelmente, parece esquecido", sublinha Ritsch.
O historiador sublinha que a Alemanha desencadeou duas guerras mundiais, a segunda de aniquilação e extermínio, e depois os seus inimigos perdoaram-lhe totalmente o pagamento das reparações ou adiaram-nas. A Grécia não esquece que a Alemanha deve a sua prosperidade económica a outros países. Por isso, alguns parlamentares gregos sugerem que seja feita a contabilidade das dívidas alemãs à Grécia para que destas se desconte o que a Grécia deve actualmente.
A ingratidão dos países, tal como a das pessoas, é acompanhada quase sempre pela falta de memória.
(Sérgio Soares, jornalista do i)
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Grandes fotógrafos, grandes imagens, por Jorge
Peter Marlowe
Equilíbrio à beira da vertigem (ou vice-versa).
As falésias de Beachy Head. Bastam seis segundos para mergulhar os 166 m pelas rochas abaixo (1997)
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Que alternativa à não saída do euro?, por Octávio Teixeira
No seu texto "A armadilha do crescente endividamento…", publicado no resistir.info no passado dia 9 , Eugénio Rosa afirma que os defensores da saída do euro "não analisam os efeitos que tal opção terá para o país e para os portugueses, com o rigor, profundidade e abrangência necessária" e que"tal omissão só tem facilitado a manipulação da opinião pública pelo governo e pela direita que dizem que a saída será uma catástrofe". Como sou um dos tais defensores da saída do euro, isso suscita-me algumas considerações. Por um lado porque tenho plena consciência das implicações (com rigor e com abrangência) da saída do euro e, por outro lado, me recuso a passar por fazer o jogo do governo e da sua política de desastre. Vamos por partes.
1. Julgo não haver dúvidas por parte de ninguém, pelo menos à esquerda, que os problemas nodais do país (em termos económicos com as correspondentes decorrências financeiras e socias) são o elevado endividamento externo e o permanente défice externo que o gera e alimenta.
Daqui decorre que o que é central e essencial é a redução e tendencial eliminação, de forma sustentada, do défice externo. E só há uma maneira de o fazer: reduzir importações e aumentar exportações. Só possível com o aumento da produção, com o aumento da criação de valor. Mas o objectivo da criação de mais valor, para além de não se conseguir por decreto, não chega. É preciso realizar esse valor criado. Isto é, produzir mais para acumular "stocks" não resolve qualquer problema. É preciso vender essa produção, seja no mercado interno seja no externo.
Como julgo que ninguém defende a implementação de um sistema económico autárcico (o que para além do mais seria impossível concretizar) é necessário que a produção seja competitiva em termos de preços.
Essa competitividade pelos preços só é possível, nas condições concretas da economia portuguesa, com uma desvalorização cambial ou com a desvalorização interna que a troika e o governo estão a fazer. [1] Ou seja, pode dizer-se que quem se mantém agarrado à permanência no euro objectivamente está a optar pela desvalorização interna e, logo, a dar razão às troikas externa e interna.
2. Como já o referi diversas vezes, no meu entender a melhor solução para o país (e não só) seria a do euro deixar de ser uma moeda única e passar a ser uma moeda comum e de reserva em relação à qual as moedas nacionais seriam convertíveis na base de uma taxa fixa ajustável regularmente de acordo com a evolução dos saldos correntes externos estruturais. Só essa moeda comum seria convertível para moedas fora da zona euro. E isso não impediria que alguns países, economicamente mais homogéneos, pudessem manter o euro como moeda única. [2]
Mas não estando isso nas nossas mãos e não parecendo possível face à oposição, em particular, da Alemanha, a questão da saída da zona euro coloca-se com acuidade crescente.
Porque não é sequer pensável que o país possa sobreviver com uma moeda permanentemente sobrevalorizada em 30% ou mais relativamente ao que é a taxa de equilíbrio adequada à economia portuguesa, como tem sucedido nos últimos 10 anos.
Mas essa saída continua a ser largamente recusada por muitos, à direita como à esquerda, com argumentos assentes na amplitude da dívida, na estabilidade financeira e na crença de um forte recrudescimento da inflação.
Estes problemas são reais, mas não são insolúveis.
Os problemas: a) a saída do euro necessariamente acompanhada de uma desvalorização importante implicará uma pressão inflacionista e apresentará o risco de ver a nova moeda apanhada no turbilhão da especulação; b) o das dívidas liberadas em euro; c) a obtenção do financiamento externo que seja necessário.
As vias de solução:
a) Em relação à inflação importada, calculada com rigor, uma desvalorização de 30% significará uma inflação, directa e indirecta, da ordem dos 8 a 9%. [3] Perfeitamente controlável porque transitória e porque os seus efeitos sobre os rendimentos dos trabalhadores podem ser eliminados ou fortemente reduzidos. Se nada for feito nesse sentido a inflação será de 8/9% e o aumento de competitividade pelos preços será de 22/21%. Se se fizerem, no limite, actualizações salariais de 8/9%, o aumento de competitividade pelos preços seria da ordem dos 20/19%. Ora, este ganho de competitividade pura e simplesmente não é possível através da desvalorização interna. Nem com o governo de Passos Coelho. [4] E a pressão sobre a inflação interna é controlável, controlando basicamente o sistema da grande distribuição, o que é facilitado por ser um sistema com relativamente poucos agentes.
Quanto ao risco da nova moeda ser sujeita à especulação é evidente que necessariamente terá de ser introduzido um controlo de capitais para evitar fugas e especulação. [5]
b) o problema das dívidas liberadas em euros, e apenas as que são detidas por não residentes, coloca-se apenas em relação ao Estado e a algumas grandes empresas, não afectando a generalidade das pequenas e médias empresas e dos cidadãos.
Para além disso, a questão coloca-se em relação à divida externa líquida e não à divida bruta. Ou seja, estamos a falar em cerca 188 mil milhões (que é muito) e não em 385. [6]
No que respeita à dívida pública, deverá registar-se uma baixa do valor de revenda no mercado secundário. E assim será possível recomprar uma parte substancial da dívida, o que deixará nas mãos dos não residentes relativamente pouco e essa dívida residual correspondente à desvalorização será relativamente negligenciável. No que respeita ao endividamento externo das grandes empresas, é muito provável que seja necessário, durante um período transitório, que o poder público conceda empréstimos a algumas dessas empresas. E não deve ser arredada a hipótese de o Estado poder intervir, ou mesmo nacionalizar, algumas dessas empresas, nomeadamente bancos.
Num caso como noutro, como? Através do Banco de Portugal que entretanto, convém não olvidar, recuperou a sua soberania monetária. [7]
c) Quanto ao risco do financiamento externo importa ter presente que as novas necessidades de financiamento se reduzem significativamente; que os financiadores externos necessariamente terão em conta o aumento do crescimento económico e, portanto, o aumento da capacidade do País cumprir as suas obrigações externas; que experiências recentes de outros países mostram que o fluxo de financiamento externo se restabelece num prazo curto; e que é possível proceder à reestruturação pelo menos da dívida pública; que poderá ser possível recorrer a financiadores externos não tradicionais.
Se por parte dos defensores da manutenção de Portugal na zona euro isto for considerado utópico, ou uma confusão entre desejos e realidades, então forçoso seria concluir que estariam a dar plena razão ao governo quando nos diz que ou há financiamento da troika externa ou é o caos. E que como só a troika nos empresta, em regime de monopólio, necessariamente temos de cumprir todas as suas exigências, todos os seus memorandos…
3. Finalmente, é necessário compreender que a saída do euro sendo necessária não é suficiente, não é um fim em si mesma. (Embora já fosse significativa, para quem se posiciona à esquerda, porque o euro actual é instrumento essencial do projecto neoliberal em que estamos enterrados e onde não há uma perspectiva de progresso social.) A saída do euro e a criação da nova moeda tem de inserir-se, e dela é instrumento essencial, numa alteração da política macroeconómica. Só assim ela terá os efeitos pretendidos pelos que, com abrangência, defendem a saída do euro e a recuperação da soberania monetária.
Esta perspectiva, que sustenta a possibilidade e dá credibilidade e coerência à saída do euro, parece esquecida pelos muitos que à esquerda continuam a rejeitá-la mas sem apresentarem uma alternativa global credível e coerente.
14/Janeiro/2013
Notas
1. A via do aumento da produtividade de todos os factores de produção não é neste momento alternativa, porque está nas mãos dos empresários portugueses que nunca o quiseram ou souberam fazer e porque isso será tarefa para 10 ou 20 anos.
2. Como foi proposto, entre outros, por Jacques Sapir.
3. Calculado com base nas matrizes input-output para a economia portuguesa. Comparativamente, não se esqueça que a Islândia, com uma desvalorização da ordem dos 50% registou uma inflação de 12%.
4. Não se esqueça que o peso das remunerações (TSU+salários) na produção nacional é de apenas 26% reduzindo-se, na produção mercantil, para 16%.
5 A Islândia fê-lo, sem ter sido impedida ou repudiada por qualquer organização internacional.
6. Dados do Banco de Portugal relativos a Setembro de 2012. Importa, em nome do rigor, não confundir dívida externa com passivo da posição de investimento internacional. Porque, por exemplo, o investimento directo estrangeiro ou o investimento de carteira em acções e participações por não residentes, não são, de forma alguma, dívida externa do país.
7. Aliás, pelo menos contabilisticamente, isso já se estará a passar com a banca. Entre Dezembro de 2009 e Setembro de 2012 a dívida externa da banca reduziu-se contabilisticamente em 77 mil milhões mas a do Banco de Portugal aumentou 47 mil milhões. Pelo menos aparentemente, a dívida dos bancos ao BCE é contabilizada como dívida do Banco de Portugal.
1. A via do aumento da produtividade de todos os factores de produção não é neste momento alternativa, porque está nas mãos dos empresários portugueses que nunca o quiseram ou souberam fazer e porque isso será tarefa para 10 ou 20 anos.
2. Como foi proposto, entre outros, por Jacques Sapir.
3. Calculado com base nas matrizes input-output para a economia portuguesa. Comparativamente, não se esqueça que a Islândia, com uma desvalorização da ordem dos 50% registou uma inflação de 12%.
4. Não se esqueça que o peso das remunerações (TSU+salários) na produção nacional é de apenas 26% reduzindo-se, na produção mercantil, para 16%.
5 A Islândia fê-lo, sem ter sido impedida ou repudiada por qualquer organização internacional.
6. Dados do Banco de Portugal relativos a Setembro de 2012. Importa, em nome do rigor, não confundir dívida externa com passivo da posição de investimento internacional. Porque, por exemplo, o investimento directo estrangeiro ou o investimento de carteira em acções e participações por não residentes, não são, de forma alguma, dívida externa do país.
7. Aliás, pelo menos contabilisticamente, isso já se estará a passar com a banca. Entre Dezembro de 2009 e Setembro de 2012 a dívida externa da banca reduziu-se contabilisticamente em 77 mil milhões mas a do Banco de Portugal aumentou 47 mil milhões. Pelo menos aparentemente, a dívida dos bancos ao BCE é contabilizada como dívida do Banco de Portugal.
Este artigo encontra-se
em http://resistir.info/
Acerca da saída do euro, ver neste
site:
- Os Hamlets portugueses e a saída do Euro , João Carlos Graça
- Acerca dos custos e benefícios da saída do euro , Jorge Figueiredo
- Sair do euro é preciso , Octávio Teixeira
Memórias, diferenças e um convite
(adaptado
de um outro texto que li há meses)
De acordo com alguns reguladores, fazedores de opinião para talk-shows e pseudo-cientistas todos os
que nascemos nos anos 40, 50, 60 e 70, não devíamos ter sobrevivido até hoje, porque trincávamos os soldados de chumbo, pintados com cores bonitas com tinta à base de chumbo e outros metais pouco recomendáveis.
Podíamos abrir os armários e
brincar com as panelas, subindo aos bancos e cadeiras, até porque às vezes não havia dinheiro para outros
brinquedos. E as tampas das panelas umas contra as outras e as colheres a bater no fundo dos tachos faziam-nos po
arecer membros de uma banda filármónica
E sentávamo-nos a vêr as nossas mães a fritar filhós e coscurões, não evitando um pingo de óleo fervente num braço ou numa perna sem avançarmos para os centros de saúde.
Para os que tinham a felicidade de terem uma bicicleta, não usavam capacetes. Por vezes “partíamos as cabeças” (um golpe) quando caíamos delas ou quando andávamos à pedrada uns com os outros.
Quando éramos pequenos adorávamos ir no banco lateral dos eléctricos amarelos abertos, pendurados, ou nos autocarros verdes na plataforma de trás aberta.
Para os que tinham a felicidade de terem uma bicicleta, não usavam capacetes. Por vezes “partíamos as cabeças” (um golpe) quando caíamos delas ou quando andávamos à pedrada uns com os outros.
Quando éramos pequenos adorávamos ir no banco lateral dos eléctricos amarelos abertos, pendurados, ou nos autocarros verdes na plataforma de trás aberta.
Os
que tinham pais com carros viajavam neles sem cintos e airbags, e o viajar no banco da frente era um presente que permitia imitar a condução dos pais.
Bebíamos água da mangueira do jardim e da torneira e ela sabia-nos bem.
Comíamos batatas fritas, pão com manteiga e bebíamos gasosa com
açucar (os pirolitos e as schwepps), mas nunca engordámos porque passávamos muito tempo a brincar fora de casa.
Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e nunca morremos por isso.
Passávamos horas a fazer carrinhos de rolamentos e depois andávamos a grande velocidade pelas ruas abaixo, para só depois nos lembrarmos que era preciso montar umas traves e havia algumas coxas e rabos esfolados – coisa de pouca monta... ou muitos espinhos quando nos enfiávamos em moitas com silvas.
Bebíamos água da mangueira do jardim e da torneira e ela sabia-nos bem.
Comíamos batatas fritas, pão com manteiga e bebíamos gasosa com
açucar (os pirolitos e as schwepps), mas nunca engordámos porque passávamos muito tempo a brincar fora de casa.
Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e nunca morremos por isso.
Passávamos horas a fazer carrinhos de rolamentos e depois andávamos a grande velocidade pelas ruas abaixo, para só depois nos lembrarmos que era preciso montar umas traves e havia algumas coxas e rabos esfolados – coisa de pouca monta... ou muitos espinhos quando nos enfiávamos em moitas com silvas.
Nas
férias, saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo, desde
que estivéssemos em casa antes de escurecer.
Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso.
No tínhamos Play Station, X Box...Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telemóveis, computadores, DVDs, ou chat na internet.
Tínhamos amigos e se os quiséssemos encontrar íamos à rua chamar por eles.
Jogávamos à bola, às escondidas e à macaca, à carica, às vezes cheia de plasticina, nos perfis das calçadas, ao bilas com os abafadores e os mata-mundos nos buracos que fazíamos na terra com as mãos .
Caíamos das árvores, aleijávamo-nos, e até partíamos ossos mas sempre sem meter processos em tribunal contra terceiros, só com os raspanetes dos pais.
Andávamos muitas vezes à porrada entre nós mas sem sermos processados pelos pais dos outros.
Batíamos às portas de vizinhos e fugíamos e tínhamos medo de sermos apanhados. Quando os vizinhos nos rogavam pragas até espetávamos um palito nas campaínhas para elas ficarem a tocar mas eles não iam à polícia queixar-se...
Íamos a pé para casa dos amigos. Para a escola e não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem.
Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safarem a não ser que fossem da União Nacional.
Esta geração produziu bons investigadores e desenrascados.
Estes foram também anos de explosão de inovações e ideias novas.
Tínhamos liberdade que sabíamos condicionada pelos fascistas, líamos nas entrelinhas ou ouvíamos as rádios “clandestinas”. Tivemos fracassos, sucessos e responsabilidade e aprendemos
a lidar com tudo.
O mundo era a cores apesar dos registos que ficaram serem a preto e branco. Mas ainda apanhámos o Michael Jackson bem preto. E as raparigas giras, sem preocupações de implantes ou caracterizações faciais a não ser alguns “chumaços” e rimel mas só para os dias de festa. E a rapaziada nesses dias com brilhantina e cara de parvos, que só em poucos casos se assemelhavam ao Elvis.
Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso.
No tínhamos Play Station, X Box...Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telemóveis, computadores, DVDs, ou chat na internet.
Tínhamos amigos e se os quiséssemos encontrar íamos à rua chamar por eles.
Jogávamos à bola, às escondidas e à macaca, à carica, às vezes cheia de plasticina, nos perfis das calçadas, ao bilas com os abafadores e os mata-mundos nos buracos que fazíamos na terra com as mãos .
Caíamos das árvores, aleijávamo-nos, e até partíamos ossos mas sempre sem meter processos em tribunal contra terceiros, só com os raspanetes dos pais.
Andávamos muitas vezes à porrada entre nós mas sem sermos processados pelos pais dos outros.
Batíamos às portas de vizinhos e fugíamos e tínhamos medo de sermos apanhados. Quando os vizinhos nos rogavam pragas até espetávamos um palito nas campaínhas para elas ficarem a tocar mas eles não iam à polícia queixar-se...
Íamos a pé para casa dos amigos. Para a escola e não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem.
Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safarem a não ser que fossem da União Nacional.
Esta geração produziu bons investigadores e desenrascados.
Estes foram também anos de explosão de inovações e ideias novas.
Tínhamos liberdade que sabíamos condicionada pelos fascistas, líamos nas entrelinhas ou ouvíamos as rádios “clandestinas”. Tivemos fracassos, sucessos e responsabilidade e aprendemos
a lidar com tudo.
O mundo era a cores apesar dos registos que ficaram serem a preto e branco. Mas ainda apanhámos o Michael Jackson bem preto. E as raparigas giras, sem preocupações de implantes ou caracterizações faciais a não ser alguns “chumaços” e rimel mas só para os dias de festa. E a rapaziada nesses dias com brilhantina e cara de parvos, que só em poucos casos se assemelhavam ao Elvis.
As
discotecas abriram lentamente mas namorávamos as raparigas (ou as
“sopeiras”, hoje empregadas domésticas) do quintal para as
janelas, sob o olhar, por vezes cúmplice dos guarda-nocturnos, que
também faziam as suas surtidas amorosas mais tarde pela calada da noite.
Mas quando íamos à terra e brincávamos com miúdos como nós, com muita alegria e encontrões, notávamos que estavam descalços e que a certas horas tinham que ir trabalhar com os pais no tratamento do gado ou em ferrarias. Quando vinham à casa dos nossos parentes, com a natural solidariedade sem preocupações mediáticas, dávamos-lhes um par de sapatos, uma camisola ou uns brinquedos a mais. Com uma grande troca de risos e sem vergonhas.
Hoje
o pessoal anda mais surumbático, sem rumo e sem alegria, vivendo o
dia-a-dia sem lhe ser permitido pensar o futuro.
Mas
vamos todos dar a volta a isto. Custa mas tem que ser. Já dizia o Zé
da loja das ferragens da minha rua.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
O financiamento da banca e a eventual saída do euro, por Eugénio Rosa
(excerto de estudo a que pode ter acesso no site abaixo referido)
Contrariamente àqueles que, parafraseando Fernando Ulrich (gestor de um banco –BPI- em que 97,1% das participações qualificadas já são controladas por grupos económicos estrangeiros), afirmam que a banca pode aguentar mais, uma análise da situação atual da banca portuguesa revela que, como consequência da má gestão, de que a politica de crédito já referida é uma prova clara, e da descapitalização realizada ao longo dos anos pelos banqueiros perante a passividade do BdP e dos sucessivos governos, associada à crise, os problemas estruturais da banca agravaram-se e vão aumentar com a crise e a consequente subida do incumprimento e com a retração do crédito (o negócio
dos bancos). Basta recordar que o incumprimento a nível de empréstimos a empresas disparou (entre
Dez.2010 e Nov.2012, com a politica do governo PSD/CDS e da “troika”, a taxa de incumprimento a
nível de empresas aumentou de 4,4% para 10,8%, ou seja, em 145%); que as imparidades na banca
(desvalorização de ativos), entre Dez.2010 e Set.2012, passaram de 13.545 milhões € para 15.153
milhões €; e, para além disto, a maior parte do crédito à habitação é de longo prazo a taxas de juro
(inclui “spread”) inferiores a 2%, quando os bancos estão a pagar, para se financiarem, em muitos casos
taxas superiores.
O caso do BANIF, em que o governo decidiu recapitalizar com 1.100 milhões € de
fundos públicos (99% do seu capital atual), correndo o risco, como sucedeu no BPN, de os perder, é a “ponta do iceberg” da má gestão que é urgente exigir responsabilidades e o Estado passar a controlar os maiores bancos, mesmo nacionalizá-los, e não apenas a financiá-los à custa dos contribuintes.
Neste contexto, a saída do euro terá efeitos importantes no sistema bancário português que tem graves
problemas estruturais, nomeadamente a nível do crédito concedido e, também, aos seus devedores, entre os
quais se encontram centenas de milhares de famílias que obtiveram crédito à banca, cujas taxas de juros
poderiam disparar. Se juntarmos a isto, os problemas que se colocarão relativamente aos depósitos bancários de particulares (152.799 milhões € em Dez.2011), onde estão incluídas as pequenas poupanças de centenas de milhares de portugueses, cujo poder de compra é necessário garantir (os detentores dos grandes depósitos vão procurar transferir para o estrangeiro), fica-se com uma ideia, ainda não total, dos problemas que poderá acarretar a saída do euro, que não se resumem apenas à desvalorização do escudo e à subida de preços com alguns referem, que terão de ser estudados com profundidade e atempadamente, para não se ser confrontado com uma situação que não se previu.
É certo que o Estado pode ser o garante do poder de compra desses milhares de pequenas poupanças, assim como de taxas de juro bonificadas às famílias, para
evitar que o sistema financeiro e as famílias entrem em colapso, mas o certo é que a divida publica e a massa
monetária disparariam, contribuindo para o aumento da inflação a que se juntaria os efeitos da desvalorização do escudo (30%?) necessária para aumentar a competitividade das exportações, o que faria subir ainda mais os preços o que teria um efeito corrosivo sobre salários e pensões (ex.). Haveria ainda o problema da divida externa que, com o governo PSD/CDS e com “troika”, já aumentou mais de 40.000 milhões €, e para a pagar,pelo menos a legitima, o país teria de ter divisas e a única fonte seriam as exportações e o endividamento externo.
Obter o apoio da U.E. na divida externa seria uma condição fundamental para se poder sair do euro de uma forma controlada. São problemas como estes que terão de ser estudados com profundidade e de uma forma muito objetiva, não tomando os desejos pela realidade, para que se possa enfrentar, de uma formacontrolada, a opção de saída do euro que se colocará se a atual politica de austeridade, que está a atirar o país para uma espiral recessiva, continuar.
Eugénio Rosa ,
edr2@netcabo.pt , 7.1.2013
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